As poucas vezes que eu tinha ouvido falar de Pompéia, sempre foi num sentido muito negativo. teria sido uma cidade destruída pela ação de um vulcão e que este teria sido acionado por Deus contra esta cidade, por ela levar uma vida absolutamente pecaminosa. A dissolução dos costumes teria sido total e como consequência teve o merecido castigo da justiça divina. Por pecado, a única coisa que a gente entendia por isso, eram aqueles relacionados ao sexo. teria sido uma nova Sodoma e Gomorra.
Como agora acabo de visitar esta maravilha - as ruínas da cidade de Pompéia - fiquei mais curioso ainda. A visita em Pompéia foi feita da melhor maneira possível, isto é, com um guia local fabuloso. Lá comprei também um livro e um DVD sobre a estrutura da antiga cidade. Tudo maravilhoso. Conto no Diário de uma viagem.
Já de volta, procurei comprar o livro Os Últimos Dias de Pompéia, do escritor inglês Edward Bulwer Lytton, pois suspeitava que esse livro teria sido a fonte para toda a difamação. E eu não estava errado. descobri que o autor era além de escritor, um político conservador e que viveu uma vida perturbada, em todos os sentidos. Viveu no século XIX, entre 1803 e 1873. Está enterrado na abadia de Westminster, embora tenha a ver com a fundação da ordem rosa-cruz. Passou, inclusive, por internamentos de ordem psíquica. Escreveu basicamente para ganhar dinheiro. Capítulos diários eram publicados.
Foi difícil achar o livro. Sua última edição se encontra esgotada. Recorri a sebos. O encontrei. Não é lá grande coisa, mas a historinha é bem contada. Não atende as expectativas com relação àquilo que efetivamente teria sido a destruição, a não ser alguns pequenos detalhes. Só a aproveita, para nela inserir a sua história.
A destruição de Pompéia, para lembrar, ocorreu no dia 24 de agosto do ano 79 da era cristã.
A história gira em torno de alguns personagens principais: Glauco, o grego; Nidia, a escrava cega da Tessália; os irmãos Ione e Apecides, que recebem a tutoria de Arbaces, o egípcio, que é o grande personagem do mal. No final quase tudo dá certo para os personagens principais. Glauco se casa com Ione, após vencerem o mau Arbaces e terem sobrevivido à erupção do Vesúvio. No final se convertem ao cristianismo.
Quanto a questão do livro contribuir com a fama de que a destruição de Pompéia foi um castigo divino, creio que não resta qualquer dúvida. Veja o que ele mesmo escreve sobre o Livro, numa espécie de posfácio: "Foi então que um estrangeiro, oriundo daquela ilha distante e bárbara cuja simples menção fazia o romano imperial estremecer sempre que era mencionada, contemplou estas ruínas. Refletiu muito sobre aqueles homens poderosos e sobre os importantes fatos ocorridos na cidade de Pompéia. Como tudo é passageiro... Imaginou que muitas pessoas gostariam de conhecer aqueles trágicos acontecimentos e então escreveu esta história".
Anotei algumas passagens em que está marcada a questão da ira divina. Todas na parte final. Vejamos:
"É a mão de Deus! - exclamou Olinto - Louvado seja"! (Olinto é o personagem cristão),
"Aquilo não o (Olinto) amedrontava, apenas representava uma prova imensa do poder de Deus"
"Deus apareceu para condenar a nova Gomorra!"
"Aproxima-se a hora em que o senhor virá julgar-nos! Ai do idólatra e do adorador do bezerro"!
"Chegou a hora! - repetiu Olinto. Os cristãos fizeram eco a suas palavras e, com eles, todo o povo -CHEGOU A HORA!"
Mas o mais importante encontra-se no posfácio. Vejamos:
"Passaram-se dez anos. Eis a carta que Glauco escreveu a Salústio (seu amigo romano): Pede-me que vá visitá-lo em Roma, meu caro amigo Porém, eu respondo que é preferível você vir a Atenas. Abandonei para sempre a cidade imperial, sua confusão e seus fúteis prazeres. Doravante, desejo viver em minha Pátria. Prefiro mil vezes viver à sombra de nossa grandeza passada, à vida luxuosa que vocês desfrutam.
Segundo você, não devo ser feliz neste triste lugar, lembrando-me de uma glória já extinta e fala-me com arrebatamento da magnificência de Roma, do luxo de sua corte imperial. Salústio, meu amigo, não sou mais o que era. Os sofrimentos e tudo quanto passei acalmaram o sangue ardoroso da minha juventude. Minha saúde jamais recuperou seu antigo vigor e conservo ainda a memória de minha prisão no úmido calabouço dos criminosos, o horror do último dia de Pompéia. Pobre Nídia! Levantei um sepulcro em sua memória. Ione, minha doce e querida Ione, todos os dias deposita algumas flores nessa sepultura. Nídia com seu bondoso coração merecia um monumento, aqui em Atenas.
Você menciona a seita dos cristãos, que vai crescendo em Roma. Pois a você, Salústio posso confiar meu grande segredo: também eu pertenço a essa crença.
Após a destruição de Pompéia, tornei a encontrar Olinto... Abençoado seja! Com ele aprendi a crer na existência de um Deus único e verdadeiro, o mesmo que me livrou das garras do leão e dos perigos do Vesúvio. Ouvi, acreditei, adorei. Ione, a quem amo mais que nunca, também abraçou a nova fé"... E por aí vai.
Creio que assim satisfiz a minha curiosidade em torno da questão. O livro planta firmemente esta ideia de que a destruição de Pompéia não se deveu a nenhum fenômeno natural, mas que foi obra da ira e da justiça divina. Alguns dados sobre a destruição são bem interessantes. Vale a leitura.
Vista do Vesúvio, a partir da cidade de Pompéia.
Um adendo. Em 24.06.2025. Do livro: Infinito em um junco - A invenção dos livros no mundo antigo, de Irene Vallejo. No contexto ela fala da biblioteca de Herculano:
"Em 24 de outubro do ano 79, sob o império de Tito, o tempo parou em Pompeia e Herculano, duas cidades da moda que se situavam na baía de Nápoles e onde os cidadãos mais ricos da capital haviam construído suas mansões. O sol resplandecia, as águas eram de um azul puríssimo, o cheiro de murta adoçava o ar, sucediam-se festas para divertir os veranistas, a vida era relaxada e de prazeres fáceis. Contudo, naquele dia de outono, um fiapo de fumaça negra se elevou da cratera do Vesúvio, desafiador, desde a primeira hora da manhã, em direção ao céu. Em pouco tempo, começou a cair uma espécie de lama sobre as ruas de Herculano, mistura de chuva, cinzas e lava, que cobriu os telhados e penetrou pelas janelas e por todas as frestas. Finalmente, um fluxo vulcânico a 600ºC arrasou tudo. Sobraram apenas os ossos dos habitantes. Pompeia foi envolvida por vapores de enxofre que deixaram o ar irrespirável. Depois de uma finíssima garoa de cinzas, começou um granizo de pequenas pedras vulcânicas e, por fim, de pedras-pomes de vários quilos. As pessoas saíam apavoradas das casas, mas era tarde demais para fugir.
A cidade, sepultada durante quase mil anos sob uma camada de cinzas solidificadas e lapíli, acabou se tornando uma espécie de cápsula do tempo. A temperatura de 300ºC formou crostas de cinza vulcânica em torno dos corpos retorcidos dos seus habitantes. No século XIX, os arqueólogos injetaram gesso nos vãos fantasmais que os corpos mortos deixaram nas cinzas. Esses moldes de gesso nos permitem ver os pompeanos eternizados em seu último ato em vida: um casal que buscou refúgio num abraço eterno, um homem que morreu sozinho com a cabeça baixada entre as mãos, um cão de guarda que tentou freneticamente se libertar da correia, uma menina que se abrigou convulsa no colo da mãe, como se quisesse voltar para o seu ventre. Alguns ainda parecem se contorcer, diminuídos pelo medo, dois mil anos depois. No filme Romance na Itália, de Rossellini, um casal em crise que viaja pelo país assiste angustiado à escavação das estátuas de gesso de dois amantes que encontraram a morte juntos, engolidos pela lava" (Página 377).
http://martinsmilton.blogspot.com.br/2010/08/pompeia-e-o-micro-armagedon.html
ResponderExcluirEstou digitando um diário de uma viagem à Itália feito por uma senhora em 1950. Pormenores impressionantes aparecem e sempre busco na internet a confirmação dos mesmos. Um nome, porém não consigo identificar quando se trata da viagem à Pompéia. É mencionada casa da Glauco e ELODIA, guarda por um cão. Não encontro o nome ELODIA em nenhum artigo. Podem me ajudar?
ResponderExcluirMeu amigo, lamentavelmente não posso atender em nada a sua solicitação. Fui apenas um visitante de um dos mais palpitantes cenários deste nosso mundo. Sinto muito.
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