sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Os Controles sobre a Educação. Um Contrato.

Entre as preciosidades que eu conservo está um texto da revista Teoria e Educação, nº 4, de 1991, de autoria de Michael Apple e keneth Teitelbaun. Entrei em contato com este texto no meu tempo de mestrado na PUC/SP. O texto versa sobre o currículo escolar e o controle exercido sobre ele. Trata-se de um contrato padrão para docentes da escola fundamental nos Estados Unidos, datado de 1923. Um contrato para uma professora, já que o trabalho do ensino foi construído naquele país, em torno do trabalho da mulher.

É muito oportuno ver este texto, quando muitos negam que a educação seja um ato político e que um professor é uma pessoa neutra e apolítica.  Um dos livros que me acompanham já a um longo tempo desmente completamente essa questão.Uma frase  encontrada neste livro - Escola e Cultura, as bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar (Artes Médicas) -, praticamente sintetiza a questão: ""Ninguém pode ensinar verdadeiramente se não ensina alguma coisa que seja verdadeira ou válida a seus próprios olhos". Então, como se pode advogar que um professor tenha uma postura de neutralidade, que ele não professe nada que lhe seja verdadeiro ou válido. Que ele cumpra meramente uma rotina de trabalho burocrático, não exercendo sobre ele qualquer interação pessoal ou subjetividade. Um trabalho sem a práxis.

Mas vamos ao contrato: CONTRATO DE PROFESSORA -  1923.

Este é um acordo entre a Senhorita...................................................., professora, e o Conselho de Educação da Escola........................................................................, pelo qual a Senhorita..........................
........................................, concorda em ensinar por um período de oito meses, começando em 1° de setembro de 1923. O Conselho de Educação concorda em pagar à Senhorita..............................................
a soma de 75 dólares por mês.
A Senhorita ............................................. concorda com as seguintes cláusulas:
Eis uma cópia do famoso contrato.

1. Não casar-se. Este contrato torna-se nulo imediatamente se a professora se casar.
2. Não andar em companhia de homens.
3. Estar em casa entre as 8 horas da noite e as 6 horas da manhã, a menos que esteja assistindo a alguma função da escola.
4. Não ficar vagando pelo centro em sorveterias.
5. Não deixar a cidade em tempo algum sem a permissão do presidente do Conselho de Curadores.
6. Não fumar cigarros. Este contrato torna-se nulo imediatamente se a professora for encontrada fumando.
7. Não beber cerveja, vinho ou uísque. Este contrato torna-se nulo imediatamente se a professora for encontrada bebendo cerveja ou uísque.
8. Não andar de carruagem ou automóvel com qualquer homem exceto seu irmão ou pai.
9. Não vestir roupas demasiadamente coloridas.
10. Não tingir o cabelo.
11. Vestir ao menos duas combinações.
12. Não usar vestidos mais de duas polegadas acima dos tornozelos.
13. Conservar a sala de aula limpa.
a) varrer o chão da sala de aula ao menos uma vez por dia.
b) esfregar o chão da sala de aula ao menos uma vez por semana com água quente e sabão.
c) limpar o quadro-negro ao menos uma vez por dia.
d) acender a lareira às sete horas da manhã de forma que a sala esteja quente às 8 horas quando as crianças chegarem.
14. Não usar pó no rosto, rímel, ou pintar os lábios.

Resta uma pergunta. Quais os pais que gostariam de ter uma professora neutra desse jeito? Ela exerceria  sobre os alunos apenas a morbidez desse seu contrato. Estariam assim os pais livres de qualquer influência ideológica. Sobraria a pura doutrinação oficial. Onde ficaria então - tanto a razão, quanto a imaginação? Que maravilha! Ah! Como Jonh Dewey fez bem para a educação americana.


18 comentários:

  1. Então, esta cópia da imagem foi feita em mãos? Ou pegou de alguém via internet. Parece que este documento rolou foi nos EUA.

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  2. Oi Alan. A fonte está citada, logo no início do texto. A revista Teoria e Educação nº4 de 1991. O nome do artigo é: Está o professorado perdendo o controle de suas qualificações e do currículo? pag. 62 a 73. Eu não tenho a revista. Tenho um xerox do texto. Os autores são americanos, Michael Apple e Kenneth Teitelbaun. Espero tê-lo atendido, Allan.

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  3. Professora Janete. Ainda bem mesmo. Imagina. Se depender de certa bancada no Congresso Nacional, tudo isso poderia estar voltando. A moral e os moralistas...

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  4. Olá, professor.

    Esse mesmo contrato aparece citado num estudo acadêmico como tendo origem em San Salvador, o país da América Central, tendo sido traduzido do espanhol para o português que vemos na imagem.

    Uma outra imagem desse mesmo contrato (mas certamente de fonte diversa, pois nota-se claramente uma divisão de linhas diferente) foi publicada no Facebook, no link que colo abaixo, e nesse post do Facebook (que serviu de fonte para uma matéria do jornal carioca O Globo) é indicado o estudo acadêmico que mencionei acima.

    O post do Facebook: https://www.facebook.com/252902311432116/photos/a.252923564763324.67641.252902311432116/850037335051941/

    O estudo acadêmico que afirma ser o contrato uma tradução do espanhol, tendo vigido em San Salvador: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40602009000300011

    A matéria de O Globo (que comete o equívoco de afirmar que se tratava de um contrato vigente em São Paulo, em 1923): http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/contrato-de-professora-em-1923-proibia-de-casar-frequentarsorveterias-andar-com-homens-16384742

    Trata-se de uma verdadeira bola de neve de apurações mal feitas (uma jornalística, de O Globo, outra amadora, da página do Facebook), criando um amontoado de desinformação.

    A sua fonte me parece ser a mais segura. Por isso resolvi deixar aqui esse comentário. Talvez lhe interesse investigar isso mais a fundo. Já avisei ao autor da matéria de O Globo, e ele me disse que já tinha mandado corrigir, mas, por algum motivo, a matéria informando se tratar de um contrato paulistano continua no ar.

    Bom, era isso. Abraço!

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  5. Aleléx. Muito obrigado pelo seu comentário. Em busca das fontes. Eu considero muito o Michael Apple e foi ele que me colocou em contato com o contrato pela primeira vez. Mas este espírito do contrato realmente dominou o mundo.

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  6. Professor Pedro Eloi. Compartilhei o link de seu blog justamente para me contrapor à uma matéria que publicou o "contrato de professores" como se fosse em 1923 no Brasil. Estranhei a grafia da época, a expressão "Conselho de Educação da Escola" e o fato de iniciar o contrato em setembro, no documento (agora reconhecido como tradução). Investiguei na internet, como geralmente faço ao me inquietar com alguma matéria publicada que me parece sem fidedignidade, e localizei sua divulgação do texto de Michael Apple. Mas algo que venho refletindo, e, a partir desse modelo de contrato de PROFESSORA, alimentei ainda mais, foi a hipótese de que o magistério é tão desvalorizado em termos econômicos e culturais por ser uma profissão de origem eminentemente feminina. Me recordo, na época de 60, ter ouvido argumentos tais como que seria bom fazer o curso Normal para ganhar um dinheirinho e gastar com os meus alfinetes (femininos) para ajudar o marido. Muitas outras frases similares que agora neste contrato dos Estados Unidos estão muito bem explicados em seus princípios e que expressam a influencia que recebemos sempre da América do Norte. O senhor conhece alguma pesquisa acadêmica sobre o tema do gênero feminino como fator de influência na pouca valorização financeira do Magistério? Agradeço o retorno. (O link no facebook sobre o assunto é este: https://www.facebook.com/groups/geaxxi/?fref=ts

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  7. Oi Corina. Agradeço o seu comentário e a sua contribuição. Entrei em contato com este texto no mestrado na PUC/SP.

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  8. Caro Professor Pedro Eloi, vi este contrato no Facebook, e me pareceu um fake. De fato, o artigo é traduzido do inglês, "Are teachers losing control of their skills and curriculum?", Journal of Curriculum Studies, Volume 18, Issue 2, 1986.
    Apple e Tenenbaum citam a fonte do contrato? Pode ser que eles também caíram na armadilha. Parece que este contrato e variantes dele circulem nos Estados Unidos desde os anos 70, e as vezes tem data 1923, as vezes 1872 ou 1915.

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  9. Caro Antônio. A minha fonte é a revista "Teoria&Educação, nº 4, 1991, onde se encontra o artigo dos professores Michael W. Apple e keneth Teitelbaum. O artigo tem por título "Está o professorado perdendo o controle de suas qualificações e do currículo?". O texto é atualíssimo e, em breve vou fazer um comentário a respeito. Ao final do artigo, entre as notas lê-se o seguinte: "Este artigo constitui uma versão revisada de um artigo apresentado num encontro de professores de Currículo sobre 'Possíveis Direções para os estudos de Currículo", ocorrido em Chicago, Illionois,em 22 de março de 1985". E mais outra: "Este artigo foi originalmente publicado no Journal of Curriculum Studies, 18(2), 1986. Transcrito aqui com a autorização dos autores. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva. É o que eu tenho. Muito obrigado pelo seu comentário.

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  10. Lareira em sala de aula? No Brasil? kkk... "Uísque" no Brasil em 1923? kkk...
    Obviamente é falso

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  11. Ozeias Souza, com uma leitura mais atenta você teria percebido o seguinte: "Trata-se de um contrato padrão para docentes do ensino fundamental nos Estados Unidos, datado de 1923". Agradeço o seu comentário.

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  12. https://motleynews.net/2015/03/02/copy-of-a-school-teachers-contract-from-1923-weve-come-a-long-way-baby/

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  13. Meus agradecimentos, Ronald. Complementando informações.

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  14. Lamento informar, mas esse "contrato" é falso. Os autores caíram num lamentável hoax.

    Nesse meu post público no Facebook, eu destrincho por que ele não só nunca existiu lá em 1923, como circula em vários idiomas, em versões submetidas a manipulação que as fazem parecer antigas ou se assemelhar a uma xerox de documento antigo:
    https://www.facebook.com/photo.php?fbid=2751869024872176&set=a.167123260013445&type=3

    Grato

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    1. A minha fonte, Robson. "Entre as preciosidades que eu conservo está um texto da revista Teoria e Educação, nº 4, de 1991, de autoria de Michael Apple e keneth Teitelbaun. Entrei em contato com este texto no meu tempo de mestrado na PUC/SP". Agradeço o seu comentário.

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    2. Pedro, eu vi isso no post. O problema é que os autores também foram enganados e não sabem como comprovar a veracidade desse "contrato". Aliás, se tivessem comprovado, esse contrato não estaria sendo posto em dúvida e refutado hoje.
      O máximo que a citação que eles fazem desse "contrato" é que ele está enganando professores desde, no mínimo, o começo da década de 90 - ou, considerando que ele é uma tradução de um original de 1986, desde os anos 80. E de fato alguns hoaxes possuem décadas de existência mesmo, não são feito a grande maioria das fake-news de hoje em dia.

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    3. Tudo bem Robson Fernando de Souza. Está registrada a sua contestação. Muito obrigado.

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