segunda-feira, 10 de junho de 2013

Conferência Intermunicipal de Educação em Cornélio Procópio.

Cheguei em Cornélio Procópio por volta das 5:30 horas, com a imagem do Cristo de braços abertos, recebendo a todos. Logo ouço gritos que continham toda sorte de impropérios. Gritava contra tudo o que o afligia: o guarda da rodoviária, a polícia, satanás e contra alguma parte de seu corpo, que denominamos de palavra feia e impronunciável. Não mexia diretamente com as pessoas. Não demorou muito, encostou um carro da polícia, do qual saíram dois policiais com enormes cassetetes. A detenção foi fácil, uma vez que não houve nenhuma resistência. Nenhuma violência física.
A imagem acolhedora do Cristo, imagem que tenho na memória, desde o ano de 1969, salvo engano, quando a vi pela primeira vez.

Fiquei pensando na eficiência da polícia, recolhido em meu, agora, absoluto sossego. Mas este meu sossego me conduziu a reflexões. O rapaz deveria ter algo em torno de 20 anos e não estava mal vestido. Certamente tratava-se de algum cidadão brasileiro excluído, desencontrado e em fuga de si próprio. O que deve ter acontecido com ele após a sua detenção. Prefiro não imaginar. Apenas uma certeza, a de que seria solto após este seu ataque alucinógeno e, voltaria a viver, exatamente, a sua mesma situação anterior. E a sua vida continuaria absolutamente na mesma situação.

Pensei mais. Por que será que este rapaz foi recolhido pelos órgãos repressores do Estado? E se ele tivesse sido recolhido por algum organismo do Estado ligado a cidadania? Me lembrei imediatamente de Jorge Amado e de seu Capitães de areia. Muita coisa me passou pela cabeça. Eu iria falar de direitos, de educação e muito sobre o Brasil. Eu tinha lido no Le Monde Diplomatique, de que no Brasil vivemos no Warfare State e não no Welfare State, em texto que falava sobre a "pacificação" das favelas. E continuei pensando... Deixo espaço aberto para você continuar a pensar...

Quanto a Conferência, tudo estava maravilhosamente preparado. Foi um ato solene. A conferência reuniu os municípios de Cornélio Procópio, Leópolis, Sertaneja e Santa Mariana. Os prefeitos estavam presentes, menos um. Uma correção. Estavam presentes duas prefeitas, as de Leópolis e Sertaneja e o prefeito anfitrião. Repito, estavam presentes duas prefeitas. Que maravilha.
A mesa das autoridades. Duas prefeitas e o prefeito anfitrião. Quem está falando é Leandra, a secretária municipal de educação de Cornélio Procópio.

Foram compostas duas mesas, a primeira, das autoridades e a segunda pelos palestrantes convidados, entre os quais eu me encontrava, junto com o magnífico deputado Tadeu Veneri. Muitas falas das autoridades, todas dentro de seu foco. A lei de responsabilidade fiscal... A educação... Os esforços feitos... O importante dia... Entre o desfazer da primeira mesa e a composição da segunda algo de maravilhoso aconteceu. Uma apresentação de dança do ventre pelas mais belas meninas de Cornélio Procópio. E eu, perdido em minha saudade dos 18, e da minha rígida formação moral, que me enrijeceu mente e corpo com a pregação de que "tudo o que se movimenta é pornográfico". A rigidez da mente, creio que, consegui superar.
Corpos em movimento, numa apresentação de dança do ventre pelas mais lindas meninas de Cornélio Procópio. 

As horas já iam avançando, quando começamos a falar. Falei de democracia, de direitos, dos direitos interligados com a democracia, de educação, da educação como direito, da educação numa sociedade de classes, de projetos educacionais em disputa e acima de tudo, de Brasil. De uma visão histórica do Estado brasileiro e a sua relação com os direitos sociais e de formação da cidadania. Muitas problematizações para os debates da tarde. Dediquei a minha fala a Anísio Teixeira, a Darcy Ribeiro e a Paulo Freire, pelo imenso amor que dedicaram aos brasileiros, especialmente, para suas crianças e para os seus jovens.
O deputado Tadeu Veneri dirigindo a palavra aos participantes da Conferência.

 O deputado Tadeu Veneri falou de seu trabalho à frente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, com foco no sistema penal e no perfil dos presos, acima de tudo vítimas do descaso para com o sistema escolar, de uma educação libertadora, para a rebeldia e não para a acomodação. O seu ponto alto foi a leitura de uma poema sobre o mal provocado pela acomodação. Atingiu o seu objetivo em cheio. Um silêncio profundo, daqueles que são fruto de incomodação, de incomodação consigo mesmo, da qual brotam as reflexões.
O dia só poderia terminar com um jantar em maravilhosa companhia.

A tarde foi dedicada à discussão dos eixos temáticos, com a guia do documento de referência, e à plenária final. Eu, pessoalmente, aproveitei também, parte da tarde, para um passeio pela cidade e algumas fotografias. A noite ainda jantamos num restaurante cachaçaria. Maravilhoso. Na janta estive com a professora Sidneia Gonçalves e também com o professor Paulo, da UFPR, que encontrei no hotel. Foi um reencontro, após, creio eu, de uns quinze anos. O humor do professor Paulo é algo extraordinário. Registro os agradecimentos a todas as pessoas envolvidas com a minha acolhida e pela oportunidade proporcionada para a troca de algumas ideias.  

2 comentários:

  1. Prezado e querido Pedro Eloi Rech!
    Sua contribuição para nossa CONAE intermunicipal foi espetacular. Com toda sua formação, experiência e capacidade profissional nos falou de um jeito manso, tranquilo, contínuo e compromissado onde todos, todos mesmo, sem excessão conseguimos absorver cada palavra de sua reflexão e que nos remeteu para as nossas próprias reflexões..."precisamos muito de profissionais envolvidos com a questão EDUCAÇÃO mas que também tenham seus pés no chão, do que nos adianta trazermos palestrantes com tantas indicações e conhecimentos se não conseguem estabelecer uma linha de comunicação com todos os participantes e vc nos mostrou que isso é possível pois nos levou da reflexão ao entendimento que se faz necessário para darmos seguimentos em todas as questões que permeiam todo o nosso universo"
    Parabéns!

    Professora Leandra Aparecida de Carvalho De Rosis - Secretária Mul. Educação de Cornélio Procópio.

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    1. Leandra. Diante de tamanho elogio eu só tenho a agradecer, agradecer, especialmente, a oportunidade que vocês me proporcionaram. Da minha parte só tenho a dizer, humildemente,que tenho 43 anos de sala de aula nas costas. O meu mais profundo agradecimento.

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