terça-feira, 27 de maio de 2014

O homem que amava os cachorros. Leonardo Padura.

Ao final de seu magnífico livro, O homem que amava os cachorros, Leonardo Padura faz uma "nota muito agradecida". Nela conta sobre a concepção e a execução de seu projeto sobre o livro. O ano da concepção é o de 1989, ano profundamente simbólico, com a derrubada de um dos símbolos daquilo que fora uma das principais utopias do século XX , o sonho de Marx, a construção de uma sociedade socialista.  Uma viagem ao México começou a dar forma ao seu projeto. Lá percorreu os lugares por onde se movimentou, por sinal muito pouco, um dos personagens deste sonho, o "renegado" Trotski.
O livro memorável de 589 páginas de Leonardo Padura, O homem que amava os cachorros. Os sonhos do século XX são revisitados. Terminam no Apocalipse.
Quinze anos depois, o livro ocupa efetivamente o cotidiano do escritor, para vir à publico em 2009. O romance chega ao Brasil em 2013, pela Boitempo. Já no início do livro, à página 36, nós lemos num entre parênteses, uma frase que me chamou bastante a atenção: "Falava-se até do 'fim da história', justamente quando nós começávamos a fazer uma ideia do que tinha sido a história do século XX". O século XX e, em especial a grande utopia deste século, é o grande tema da narrativa deste livro. Veja o autor falando da concepção: "Ao enfrentar-me com a sua concepção, passados mais de quinze anos, já no século XXI, morta e enterrada a União Soviética, quis usar a história do assassinato de Trotski para refletir sobre a perversão da grande utopia do século XX, esse processo em que muitos investiram as suas esperanças e tantos de nós perderam sonhos, anos e até sangue e vida. Por isso me ative com toda a fidelidade possível (é um romance) aos episódios e à cronologia da vida de Leon Trotski nos anos em que foi deportado, acossado e, finalmente, assassinado e tentei resgatar o que sabemos com toda a certeza da vida ou das vidas de Ramón Mercader".
A trilogia de Isaac Deutscher, Trotski, o profeta armado, desarmado e banido facilita a compreensão da narrativa do romance.
Assim estão delineados os dois principais personagens do livro, Trotski e o seu assassino, Ramón Mercader. Um terceiro se faz óbvio. É aquele que estará por trás da deportação e do assassinato, ou seja o "grande guia dos povos", Joseph Stalin. Além destes, a lente do narrador está presente ao longo de toda a obra. O autor, ao falar do objetivo do livro destaca colaborações recebidas e que houve a mediação de "anos para refletir, ler, investigar, discutir e sobretudo, penetrar com assombro e horror pelo menos numa parte da verdade de uma história exemplar do século XX e da biografia destes personagens obscuros mas reais que aparecem no livro". Destaca ainda, nas contribuições recebidas, as muitas pessoas que "chegaram a partilhar comigo as próprias vivências e, inclusive, incertezas acerca de uma história em sua maior parte sepultada ou pervertida pelos líderes que, durante setenta anos, foram os donos do poder e, evidentemente, da história".
O escritor cubano, Leonardo Padura

No agradecimento à sua Lúcia fala da generosidade no compartilhamento de "cinco anos de tristezas, alegrias, dúvidas e medos em que dediquei manhãs, tardes, noites e madrugadas a gerar, dar forma e arrancar do meu íntimo esta história exemplar de amor, loucura e morte que, espero, possa explicar um pouco sobre como e por que a utopia se perverteu e, até mesmo, causar compaixão". (págs. 587-9).

No encadeamento do livro estão sempre presentes três focos narrativos que se alternam. O primeiro é o do narrador, que tem o seu posto de observação a partir de Havana, onde ele se encontra repetidamente com O homem que amava os cachorros, que é o personagem de Ramón Mercader. O segundo foco narrativo é o do personagem central, Liev Davidovitch, em suas desventuras na Turquia, na França, na Dinamarca e, especialmente, no México. Nesta parte, entram em cena Diego Rivera e Frida Kallo e relações complicadas. Quem leu a trilogia de Isaac Deutscher, O profeta armado, desarmado e banido tem a leitura deste romance bastante facilitada. O terceiro foco é do assassino Ramón Mercader. Este personagem se reveste de muitos personagens, de acordo com os interesses de Stalin. Sobre estas transmutações farei um post à parte. Mercader é de Barcelona e é descoberto pelos soviéticos stalinistas na Guerra Civil Espanhola. Esta guerra ganha uma das mais belas descrições do livro. Teria sido a URSS a responsável pela derrota dos republicanos?
Segunda capa do livro, ou capa interna. Trotski em 1919, Mercader em 1936 e Trotski e Natália, no México

Na terceira parte do livro - Apocalipse - existe o encontro entre Ramón Mercader e o seu principal mentor, Kotov ou Eitingon, ou mais outros dez nomes que ele teve ao longo da vida. O encontro se dá em 1968 e é dedicado à reminiscências. Dos horrores dos expurgos de Stalin, as denúncias contra ele no XX° PCUS., em 1956 e, como o ano é o de 1968, entra também a desventura da primavera de Praga. Estas retrospectivas é que constituem a riqueza histórica do livro. Mas as descrições dos dramas psicológicos vividos pelos principais personagens são o outro ponto alto deste livro.

O livro recebeu vários prêmios internacionais e já teve tradução para o português, alemão, francês e inglês. Da contracapa do livro eu destaco a apresentação do El Mundo: "Um excelente romance sobre a condição humana e sobre nosso mundo, que vai além da história narrada". e a do L'Humanitè: "Este é um livro construído sobre as ruínas de um sonho".

Na orelha da capa existe uma apresentação do livro feita pelo frei Betto. Existe uma bela contextualização dos fatos históricos deste período, na introdução, escrita pelo historiador Gilberto Moringoni. O autor Leonardo Padura, mora em Havana e o nome dos cachorros, dois barzois, é Ix e Dax.

terça-feira, 20 de maio de 2014

O Nobel da Paz para Barack Obama. A ótica de Jeremy Scahill.

Guerras Sujas - O mundo é um campo de batalha, é um volumoso livro escrito pelo jornalista americano Jeremy Scahill, junto com uma equipe de jornalistas. O livro é uma áspera denúncia dos governos Bush e Obama, na condução da política externa americana de segurança aos cidadãos americanos, após os ataques às torres gêmeas, naquele fatídico 11 de setembro. As denúncias são graves, o que está muito claro no título, elas são sujas e também no sub título, elas se estenderam por todo o mundo, por mais de cem países.
O volumoso livro de Jeremy Scahill, Guerras Sujas - O mundo é um campo de batalha. 830 páginas de denúncia e de indignação.

Estas guerras ganharam uma nova forma. Não mais movimentam grandes exércitos e nem mais ocorrem bombardeios espetaculares. Hoje são usados drones e são feitos assassinatos seletivos, que conforme denúncia do autor, centram-se no Iraque, no Afeganistão, no Iêmen e na Somália, mas que já atingem em torno de cem países. Scahill também denuncia que Obama intensificou este tipo de guerra, das áreas alvo e, em dez meses fez tanto quanto Bush em oito anos de governo. "Ele já autorizara, em dez meses, o mesmo número de ataques com drones que Bush autorizara em seus oito anos de governo" (p.335). No entanto, para surpresa geral, ou talvez nem tanto, Obama foi agraciado com a indicação para prêmio Nobel da Paz, em 2009.

Alfred Nobel ( 1833 - 1896), um químico sueco, que inventou a dinamite e fez fortuna fabricando canhões e outros armamentos, quis dissociar o seu nome com a origem de sua fortuna, empregando parte dela, laureando homenageados em algumas áreas do conhecimento ou pelo desenvolvimento de suas atividades. Originariamente foram instituídos cinco prêmios: o da paz, o de física, o de química, o de medicina e de literatura. Posteriormente também a área econômica foi incluída. Os prêmios vem sendo distribuídos desde 1901. O que causa maiores polêmicas sempre é o Nobel da Paz. Entre as homenagens mais contestadas estão as que agraciaram Henry Kissinger (1973), -Menachen Beguin (1978), junto com Anwar Sadat, -Yitzhak Rabin (1994), junto com Shimon Perez e Arafat e a União Europeia (2012).

Mas a Academia se superou em 2009. Existe uma expressão latina que diz Si vis pacem para bellum, Se queres paz, prepare a guerra. A frase é nitidamente belicista. Quando Obama foi indicado ao Nobel, ele não estava preparando a guerra, ele estava comandando, não uma, mas duas guerras: uma contra o Iraque e outra contra o Afeganistão. Ele estava em guerra. Na justificativa para a concessão da homenagem podia se ler: "por seus esforços extraordinários para reforçar a diplomacia e a cooperação internacionais entre os povos".
Obama recebendo o Nobel da Paz (2009). Duas guerras em andamento.

O constrangimento foi geral, desde a Casa Branca até o mundo diplomático, especialmente o da Organização das Nações Unidas. Obama recebeu o prêmio e discursou. Poderia fazer um discurso em favor da paz ou teria que, necessariamente, fazer um discurso belicista, justificando as guerras que comandava? E tinha um agravante. A Academia  aureolara outro cidadão americano, um ícone do pacifismo, Martin Luther King, em 1964. Também pairava sobre a Academia o espírito de outro pacifista, cinco vezes indicado mas nunca agraciado, Gandhi. Ele os nominou no discurso.

Jeremy Scahill, em seu livro, não deixa por menos esta premiação, citando os antecedentes à premiação, quando anunciava: "A luta contra o extremismo violento não acabará depressa e irá além do Afeganistão e do Paquistão" (397) e discursava na Academia militar de West Point: "Teremos de ser ágeis e precisos no uso da força militar. Onde quer que a Al Qaeda e seus aliados tentem estabelecer uma ponte - seja na Somália, no Iêmen ou noutro lugar -, devem ser enfrentados com pressões crescentes e parcerias fortes" (397). Quando recebeu o prêmio, os pacifistas levemente perturbaram o seu discurso, e o primeiro presidente negro dos Estados Unidos reuniu forças para para assim se justificar:
 Obama discursando, ao receber o contestado Prêmio Nobel da Paz.

"Como uma pessoa que está aqui em consequência direta do trabalho a que o dr. King dedicou a vida, sou um depoimento vivo da força moral  da não violência. Sei que não há fraqueza alguma, nenhuma passividade e nenhuma ingenuidade nas convicções e na vida de Gandhi e King [...] Mas como um chefe de Estado que jurou proteger e defender sua nação, não posso me guiar apenas pelo exemplo deles. Deparo com o mundo como ele é, e não posso ficar inerte diante das ameaças ao povo americano. Para que não restem dúvidas: o mal existe no mundo. Um movimento não poderia ter detido os exércitos de Hitler. A negociação não vai convencer os líderes da AlQaeda a depor suas armas. Dizer que às vezes o uso da força é necessário não é um apelo ao cinismo - é o reconhecimento da história, das imperfeições do homem e dos limites da razão" (397-8).

O discurso foi considerado excelente, firme e eficaz e recebeu os aplausos de republicanos e de democratas. Difícil fazer um julgamento. A Nação tem o direito e o dever de defender os seus cidadãos. A questão maior é a inoportunidade da indicação e, o que o autor contesta é a eficiência das políticas que Obama vem aplicando. Já ao final do livro existe uma frase de um dos ex assessores de Obama, sobre a não eficácia dessas políticas, pois os Estados Unidos estava "incentivando uma nova corrida armamentista com drones que fortalecerá rivais atuais e futuros, e lançará as bases de um sistema internacional cada vez mais violento" (666).

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Getúlio. Os momentos finais. O filme de João Jardim.

Sem sombra para qualquer tipo de dúvida, Getúlio Vargas é o maior personagem histórico do Brasil em seu século XX. Ele tem a ver com a consolidação do Estado brasileiro, pelo avanço em suas instituições e na consolidação de sua unidade. Foi Getúlio quem deu ao Brasil os seus aspectos de fisionomia moderna, de um país industrial e urbano e de uma sociedade plural. A opção pela industrialização foi o seu grande feito e, nesse campo, podemos dizer que praticamente construiu um modelo próprio, o chamado nacional desenvolvimentismo, que, depois em outros governos, sofreu uma alteração para o estatal desenvolvimentismo, pelo qual o Estado é um, ou o grande indutor das políticas de crescimento econômico. Apenas este parágrafo já é suficiente para vislumbrar todo um campo de tormentosos conflitos.
A bela biografia de Getúlio, do jornalista Lira Neto, em três volumes. O 3º ainda não foi editado. Outra bela biografia é a de Juremir Machado da Silva, Getúlio - Romance.

Getúlio tornou-se presidente através de uma revolução vitoriosa, que apeou do poder os oligarcas latifundiários e de um modelo econômico agrário exportador, ainda em regime, para sermos generosos, de semi escravidão. Depois de enfrentar a revolta constitucionalista de São Paulo foi eleito presidente pela via indireta e em 1937 tornou-se o ditador do chamado Estado Novo, um estado de verdadeiro terror político. Este é o período histórico que macula a sua biografia. Foi deposto em 1945 e voltou ao poder em 1950, pela via democrática da eleição direta. Neste seu governo, a Constituição foi o seu manual de governo. Na disputa pela memória, prevaleceu o estadista sobre o ditador.

A intervenção do Estado na economia como o seu grande indutor e os avanços na legislação social do país lhe gerou uma oposição raivosa, cheia de ódios, entreguista em conluio com os interesses do capital internacional, das regras da economia ditadas exclusivamente pelo livre mercado. Estas forças se aglutinaram em torno da UDN. À oposição parlamentar se juntou a da mídia, absolutamente comprometida com a velha ordem, do modelo agrário exportador. O ex comunista e, agora americanófilo, Carlos Lacerda trovejava ruidosos discursos contra Vargas diuturnamente. Soma-se a este quadro uma herança histórica de um país em que a sua República foi uma proclamação militar, donde nasceu um espírito de tutela sobre os seus rumos. A marinha e especialmente a aeronáutica era constituída por forças absolutamente conservadoras e elitistas, que não suportavam Getúlio no poder. Esta situação se agravou com a morte do major Vaz, num atentado dirigido contra Carlos Lacerda.
Cartaz de divulgação do filme Getúlio. Últimos dias de um presidente.

É apenas neste momento que o filme de João Jardim entra em cena. Os dias finais, de profunda angústia e agonia de Getúlio Vargas. As duas/três semanas finais da vida do presidente. O diretor faz um trabalho muito sério e uma reconstituição histórica perfeita dos acontecimentos e com uma visão positiva do seu personagem tema. Angústia e ternura se alternam ao longo do filme. O filme tem a direção de João Jardim. Tony Ramos interpreta magnificamente o Getúlio, Drica Moraes é a filha Alzira e Alexandre Borges, o nefasto Carlos Lacerda.

As cenas de ternura ocorrem na relação com a sua filha Alzira e o momento de rememoração da morte de seu filho Getulinho, vitimado pelas consequências da poliomielite, enquanto que as cenas mais angustiantes se dão em seu imaginário, vendo-se, saindo do Catete, preso e algemado nas mãos de seus oponentes. Temia um golpe contra o seu governo, oriundo da aeronáutica e das instigações e agitações diárias promovidas por Carlos Lacerda. Getúlio sofre a acusação de envolvimento direto com o atentado contra Lacerda, do qual resultou a morte do major Vaz. O crime foi protagonizado pela guarda pessoal do presidente, sob o comando de um peão, mui amigo, trazido lá do Rio Grande, de São Borja, a terra natural do presidente. Só neste momento é que Getúlio efetivamente conhece os círculos mais próximos ao poder. A situação se torna mais intensa na exata medida em que as investigações chegam mais próximas ao Catete. Getúlio nada faz para impedir as investigações.

As intrigas palacianas são outro fator bem trabalhado no filme. Nos bastidores de poder sempre existe mais fogo amigo do que se possa imaginar.  Outro aspecto muito bem trabalhado é a decisão do presidente de não renunciar. Esta seria a suprema humilhação, na qual não sabia o que poderia lhe acontecer, entregue em mãos da oposição. Daí a decisão firme de não renunciar, mesmo sob a perspectiva da auto imolação da própria vida, fato cada vez mais evidente, com o seu trabalho na redação de sua carta testamento, magnificamente destacado pelo diretor.

Para aqueles que conhecem o palácio do Catete e o magnífico museu que ali funciona, facilmente conseguem prever a cena final do suicídio, pelo pijama que ele estava usando. Este pijama está ao lado da cama, bem como o revólver usado no suicídio, naquele quarto que era o do presidente. Para mim, é um filme de rara beleza e passa a se constituir num grande documento da nossa história. Tenho certeza de que ele ainda será muito usado em salas de aula.
Manuscrito da carta testamento de Vargas. O grande documento histórico do Brasil.

Particularmente fiz uma relação do momento histórico retratado pelo filme com os dias da política atual. Cheguei a algumas conclusões, já expressas pelo FB: "O governo do presidente Getúlio era popular, democrático e potencializador da riqueza nacional e a oposição era raivosa e entreguista da riqueza nacional. Os jornais mentiam escandalosamente e agiam em conluio com os interesses do capitalismo internacional e a corrupção era o único e eterno argumento para combater o governo. Como será que a história representará este momento político vivido nos dias de hoje? Quem será o candidato a Carlos Lacerda, o traidor máximo dos interesses nacionais"? 


Termino com o teor da carta testamento. http://www.blogdopedroeloi.com.br/2013/08/a-carta-testamento-de-getulio-vargas.html











segunda-feira, 12 de maio de 2014

1968. Suas frases famosas. 3

1968 - eles só queriam mudar o mundo, é um livro maravilhoso. Regina Zappa e Ernesto Soto, são os seus autores. A publicação é da Zahar. Poucas vezes li um livro tão repleto de informações e de boas análises. É óbvio que o ano ajuda. Nunca houve um ano, nem sequer parecido, com este de 1968. Houve um verdadeiro turbilhão de acontecimentos, que estão narrados no livro e, de inimagináveis transformações, muito bem comentadas e analisadas. Liberdade era a palavra mágica que a todos induziu para a insubordinação.
Capa do livro, com a palavra mágica LIBERDADE - onipresente em todo o mundo.

No meu post de hoje apresento dez frases marcantes deste ano de 1968, que estão no livro e com as quais os muros do mundo inteiro foram pichados. Em outros posts, apresentei outras frases e hoje, no último, eu completo este trabalho. Como elas são auto falantes e também alto falantes, julgo qualquer comentário absolutamente desnecessário. Elas seguem pela ordem em que são mostradas no livro.

sábado, 10 de maio de 2014

1968 e suas frases famosas. 2

1968 - eles só queriam mudar o mundo, é um livro maravilhoso. Regina Zappa e Ernesto Soto, são os seus autores. A publicação é da Zahar. Poucas vezes li um livro tão repleto de informações e de boas análises. É óbvio que o ano ajuda. Nunca houve um ano, nem sequer parecido, com este de 1968. Houve um verdadeiro turbilhão de acontecimentos, que estão narrados no livro e de inimagináveis transformações, muito bem comentadas e analisadas. Liberdade era a palavra mágica que a todos induziu para a insubordinação.
Capa do livro, com a palavra mágica LIBERDADE - onipresente em todo o mundo.

No meu post de ontem eu apresentei dez frases marcantes deste ano de 1968, que estão no livro e, com as quais os muros do mundo inteiro foram pichados. Hoje eu apresento mais dez e depois, num terceiro post, apresento as demais. Como elas são auto falantes e também alto falantes, julgo qualquer comentário absolutamente desnecessário. Elas seguem pela ordem em que são mostradas no livro.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

As Guerras Sujas. Jeremy Scahill.

Este é o meu terceiro trabalho para a Companhia das Letras e, seguramente, o mais difícil. Trata-se do livro de Geopolítica internacional, ou da nova política externa dos Estados Unidos, pós 11 de setembro, sob os governos  George Bush e Barack Obama. Estes são apresentados, não como opostos, e sim, como continuidade.Trata-se do livro Guerras Sujas. O Mundo é um Campo de Batalha, de autoria do jornalista Jeremy Schaill. O livro foi escrito no início do ano de 2013 e no Brasil é um lançamento de abril de 2014. Deve ser praticamente um lançamento simultâneo, com o original americano Dirty Wars: The World is a Batlefield. A obra também já foi levada para o cinema, com indicação para o Oscar, como o melhor documentário. 

 Capa do livro de Jeremy Scahill, Guerras Sujas. Um lançamento da Companhia das Letras


O livro é forte. É um grito de indignação, do começo ao fim, em suas 830 páginas, das quais mais de cem são dedicadas a notas, com a indicação das fontes. A autoria do livro, como conta o próprio autor, nos agradecimentos, é na verdade, escrito por uma equipe de jornalistas que trabalharam sob a sua coordenação. Muitos deles são mantidos no anonimato, no sentido de, literalmente, preservá-los. O livro é intencionalmente impactante. Duas vezes, nos agradecimentos, o autor nos confidencia, que recebeu estímulos para torná-lo "mais forte". Além da indignação, que o livro provoca, também é um livro, que exigiu muita coragem.

Qual é a sua essência? Isso está expresso, tanto no título, Guerras Sujas, quanto no sub título O mundo é um Campo de Batalha. A tese do autor é a de que as políticas de segurança dos Estados Unidos, no pós 11 de setembro, estão colaborando para que o mundo fique mais distante da paz e que o cidadão americano está menos seguro hoje, do que estava antes, exatamente em função da aplicação destas políticas. Em suas conclusões o autor denuncia que as políticas de Bush, aprofundadas por Obama, e que tem o apoio incondicional dos dois grandes partidos no Congresso, estão "incentivando uma nova corrida armamentista com drones que fortalecerá rivais atuais e futuros, e lançará as bases de um sistema internacional cada vez mais violento" (p.666). Um pouco antes já havia dito que "Os Estados Unidos estão ajudando a criar uma nova geração de inimigos na Somália, Iêmen, Paquistão, Afeganistão e em todo o mundo muçulmano" (p. 664).

A maneira de fazer guerras, no combate ao terror, mudaram muito a forma de fazê-las. Já não se movimentam mais exércitos enormes e nem se fazem mais bombardeios espetaculares, com direito a transmissão ao vivo pelas redes de televisão. Como são feitas então? "Hoje em dia, as decisões sobre quem deve viver ou morrer em nome da segurança nacional dos Estados Unidos são tomadas em segredo, as leis são interpretadas pelo presidente e seus assessores a portas fechadas, e nenhum alvo é inatingível, nem cidadãos americanos" (p.666). Esta nova forma de fazer guerra está fora de qualquer sistema de controle, seja por parte do Congresso americano e dos organismos em defesa dos Direitos Humanos. Junto com as siglas tradicionais do FBI e da CIA, uma nova sigla está cada dia mais presente na nomenclatura das novas guerras. É a JSOC, a Joint Special Operations Command, o Comando Conjunto de Operações Especiais. São as verdadeiras tropas de elite. Segundo o autor, os Estados Unidos operam desta forma, nos dias de hoje, em mais de cem países. 
O jornalista Jeremy Scahill autor do livro Guerras Sujas - O mundo é um Campo de Batalha.

O livro tem como protagonista e fio condutor a história de um cidadão americano, iemenita de origem e muçulmano em seu credo. Seu nome é Anwar Awlaki. Seu filho Abdulrahman, de 16 anos e Samir Khan, também cidadãos americanos entram como os outros personagens sobre os quais se centra a narrativa. Os três tem em comum, o fato de morrerem assassinados pelo novo processo com o qual os Estados Unidos combatem o terror. São mortos em setembro/outubro de 2011, no Iêmen e, obviamente, ganham as suas versões oficiais, não necessariamente verdadeiras.

Anwar foi educado na cultura americana, mas se tornou um imã do islã, algo como um sacerdote ou pastor, no cristianismo. Com o 11 de setembro e a forma como os Estados Unidos irão combater o terror, tornaram os sermões de Anwar cada vez mais radicais. Descobre-se que dois dos terroristas que participaram do ataque às torres gêmeas, frequentavam os seus sermões. A vigilância sobre Anwar se intensifica e ele abandona o país, indo morar na Inglaterra e depois no Iêmen, país de seus ancestrais. Todo o seu tempo será dedicado ao Islã. A sua pregação agora ganha as novas tecnologias. Os fundamentos do Islã, com a sua interpretação, ganham o mundo árabe de língua inglesa, através de seu blog. Depois de Bin Laden, Anwar Awlaki passa a ser visto como a maior ameaça aos cidadãos americanos e a sua caçada se inicia.
O livro de Jeremy Scahill também foi levado ao cinema. Ganhou a indicação para o Oscar como o melhor documentário.

O livro faz longas análises da política externa dos governos Bush, concentrada na guerra contra o Iraque e do governo Obama, que centra suas ações na caça a Bin Laden, em operações no Afeganistão e no Paquistão. Como existem organizações próximas da Al Qaeda no Iêmen e na Somália, estes países também passam a ter intervenções americanas, tanto em ações em conluio com aliados nestes países, como com ações diretas. A descrição destas ações preenchem os espaços do volumoso livro. A caçada e a morte de Bin Laden está descrita nos mínimos detalhes.

É evidente que Jeremy Scahill não alimenta nenhuma simpatia pelo governo Bush e muito menos pelo de Barack Obama. Considera o discurso de Obama, ao receber o prêmio Nobel da Paz, como um discurso belicista, contrário às doutrinas pacifistas de Gandhi e de Martin Luther King. Seleciono uma frase de um ex ministro de relações exteriores da Somália em que ele define as políticas de Obama: "Com o presidente Obama, a mobilização de tropas em grande escala para o Iraque e o Afeganistão foi substituída por uma expansão dos ataques com drones e assassinatos dirigidos executados por equipes de operações especiais. O presidente Obama parecia estar investindo numa estratégia que supunha que a paz chegaria quando se matassem os caras maus. Mas como aconteceu no Afeganistão, no Iraque e em outros países, tudo indica que essa estratégia tenha alimentado os próprios movimentos que criaram esses 'caras maus'. Usando drones e assassinatos dirigidos, sem fazer nada no outro lado, você se livrará de pessoas. Mas as causas fundamentais permanecem lá. A causa fundamental não é a segurança. As causas fundamentais são políticas e econômicas" (p. 636).

O autor é assim apresentado na orelha da contracapa do livro: "Jeremy Scahill, jornalista de rádio e de televisão e documentarista, é colaborador regular da revista The Nation e já atuou em coberturas internacionais no Iraque, nos Balcãs e na Nigéria. Blackwater (2008) publicado pela Companhia das Letras, foi ganhador do renomado prêmio jornalístico  George Polk de 2007.  Scahill vive em Nova York".

As perspectivas de paz para a humanidade e a de segurança para os cidadãos americanos tem uma perspectiva sombria, segundo as análises deste livro. A impressão que eu tive com a sua leitura é a de que o presidente Obama, assim como qualquer outro futuro presidente dos Estados Unidos, tem mãos um permanente Ato Institucional nº 5 em mãos para agirem, não só no interior do país americano, mas no mundo inteiro. Atos assim protegidos não tem consequências sobre aqueles que os praticam, infelizmente, apenas sobre a humanidade.

SCAHILL, Jeremy. As Guerras Sujas - O Mundo é um Campo de Batalha. São Paulo: Companhia das Letras. 2014.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

1968 e as suas frases famosas. 1.

1968 - eles só queriam mudar o mundo, é um livro maravilhoso. Regina Zappa e Ernesto Soto, são os seus autores. A publicação é da Zahar. Poucas vezes li um livro tão repleto de informações e de boas análises. É óbvio que o ano ajuda. Nunca houve um ano, nem sequer parecido, com este de 1968. Houve um verdadeiro turbilhão de acontecimentos, que estão narrados no livro e de inimagináveis transformações, muito bem comentadas e analisadas. Liberdade era a palavra mágica que a todos induziu para a insubordinação.
Capa do livro, com a palavra mágica LIBERDADE - onipresente em todo o mundo.

No meu post de hoje apresento dez frases marcantes deste ano de 1968, que estão no livro e, com as quais, os muros do mundo inteiro foram pichados. Em outros dois posts eu apresento as demais. Como elas são auto falantes e também alto falantes, julgo qualquer comentário absolutamente desnecessário. Elas seguem pela ordem em que são mostradas no livro.




terça-feira, 6 de maio de 2014

A prisão de Gilberto Gil e Caetano Veloso. Dezembro de 1968.

Caetano Veloso e Gilberto Gil eram os líderes de um movimento cultural chamado Tropicalismo, nos idos de 1967. Sem nenhuma acusação formal, foram presos em São Paulo, em 27 de dezembro de 1968, após o AI-5, portanto. Foram avisados de que seriam levados para a Polícia Federal, mas o destino verdadeiro os levou para o Ministério da Guerra, no Rio de Janeiro. As coisas começaram a engrossar mesmo, quando foram parar no quartel da Polícia do Exército, no bairro da Tijuca, um dos centros de tortura mais afamados, no período.
Entre os muitos fatos do ano de 1968, narrados neste livro, está a prisão de Gilberto Gil e de Caetano Veloso.
 
No quartel da Polícia do Exército foram jogados em pequenas celas, fétidas e imundas, nas piores condições que se possa imaginar. Ali ficaram por uma semana, alimentando-se basicamente de pão. Num raro banho de sol, o editor da Civilização Brasileira, Ênio Silveira, passou-lhes dois livros, que os ajudaram a passar o tempo. Os livros eram O Estrangeiro de Albert Camus e O Bebê de Rosemary, de Ira Levin. Dali foram para uma sela coletiva, na sede da Vila Militar em Deodoro, um subúrbio do Rio de Janeiro. Lá ficaram, entre outros, em companhia de Ferreira Gullar, Antônio Callado e Paulo Francis. Lá tiveram as suas cabeças raspadas, vivendo a dor e a angústia dos gritos de dor, dos presos torturados nas celas vizinhas.

Em meados de janeiro foram para quarteis separados, na mesma vila militar e, finalmente, depois de presos por mais de um mês, começaram a ser interrogados. Contra eles formulou-se uma acusação, feita por um jornalista, vinculado à repressão policial. Haviam desrespeitado dois símbolos nacionais, num show na boate Sucata, em outubro. Testemunhas desmistificaram a acusação. Ali ficaram, até que na semana santa foram levados para Salvador, onde ficaram em prisão domiciliar, sem poderem fazer shows, sem dar entrevistas e participar de atos públicos.
Uma das frases pichadas nos muros em 1968 e que inspirou muita gente, especialmente Caetano Veloso.

Finalmente conseguiram dos militares a permissão para deixarem o país. Estes ainda lhes fizeram uma concessão. Puderam realizar dois shows para arrecadar fundos para custearem a viagem. Os shows foram realizados no teatro Castro Alves nos dias 20 e 21 de  julho. Finalmente viajaram para a Europa em 27 de julho. Fazendo as contas percebe-se que ficaram sob o olhar e a severa vigilância dos militares por longos seis meses. Foi a penalização para a poesia e a música, o que, diga-se de passagem, não é nenhuma novidade, em períodos autoritários.

Entre outros artistas que também tiveram que se refugiar estava Geraldo Vandré, aquele da Marselhesa brasileira, "Caminhando", que foi para o Chile e Chico Buarque de Holanda, que foi para a Itália. Os dados para este post foram retirados do livro: 1968 - Eles só queriam mudar o mundo, de Regina Zappa e Ernesto Soto, da Zahar. Este é um dos livros mais ilustrativos que já li.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

1968. Eles só queriam mudar o mundo.

Entre os vários livros lançados por ocasião da passagem dos cinquenta anos do golpe civil/militar que implantou a ditadura no Brasil, o que mais apreciei foi o livro dos jornalistas Regina Zappa e Ernesto Soto 1968. Eles só queriam mudar o mundo, um lançamento da Zahar. É um livro completo sobre tão complicado e complexo tema, que está enunciado no título, "mudar o mundo". 1968 deve ter sido o ano mais cheio de acontecimentos de toda ordem, que o mundo conheceu. Ano em que os jovens do mundo inteiro brigaram contra um ambiente "insatisfatório, autoritário e injusto". Ano em que o mundo vivia o auge da "Guerra Fria", cada vez mais efervescente no Vietnã. O ano da instauração do terror, da violência e da tortura como prática de estado no Brasil, pelo AI-5.
O livro de Regina Zappa e Ernesto Soto que retrata os grandes fatos do ano de 1968.

O leque de informações é extraordinário. Ora os autores narram os fatos, ora os analisam ou convidam especialistas ou participantes para que também eles opinem. Ainda são apresentados  e contextualizados autores e fatos deste ano. Os meses do ano dão os diferentes capítulos do livro. Para provocar os leitores apresento alguns destes fatos, que compõe o rico calendário deste significativo e emblemático ano, que a tudo contestou e revolucionou, sob o signo da palavra "Liberdade". Vejamos:

Para o mês de janeiro a atenção recai sobre a Guerra do Vietnã e um bom texto sobre o seu grande líder, Ho Chi Minh. No Brasil o foco é sobre a revolução cultural com textos de Chico Buarque de Holanda e José Celso Martinez Corrêa. Nos Estados Unidos é lançado o filme Bonnie and Clide. As atenções do mês de fevereiro estão voltadas, ainda para o Vietnã, para a luta em torno dos Direitos Civis nos Estados Unidos e a radicalização destas lutas com o movimento do Black Power e dos Panteras Negras. No Brasil são analisadas as diferentes dissidências entre a esquerda brasileira, os principais grupos e as opções pela luta armada. Os Beatles se orientalizarão num estágio na Índia.
O livro contem muitas das frases com as quais os muros das principais cidades do mundo eram pichadas. Gostei muito desta.


O mês de março é marcado pela morte do estudante Edson Luís no Calabouço, o massacre americano de My Lai, no Vietnã, com um depoimento de Antônio Callado, correspondente para a cobertura desta guerra. Nos Estados Unidos Lyndon Johnson desiste de disputar a reeleição. Ainda tem um texto de análise dos movimentos de contracultura, e já em abril existe um texto sobre as artes no Brasil, bem como sobre Marighella e Honestino Guimarães. Nos Estados Unidos os Panteras Negras se tornam cada vez mais violentos.

Maio é o mais famoso dos meses deste ano, devido aos acontecimentos ocorridos na França, com a grande rebelião estudantil iniciada na Universidade de Nanterre. No famoso maio de 1968 se uniram todos os estudantes e, possivelmente, pela primeira vez, com os operários. O país simplesmente paralisou. O caos estava implantado. Tem uma entrevista extraordinária com o filósofo Alcione Araújo sobre o significado e as consequências deste emblemático mês. Em junho, na França já começa a dispersão do movimento, enquanto que no Brasil ocorre a famosa passeata dos cem mil, uma das maiores manifestações estudantis de nossa história. Tem texto especial de Fernando Gabeira e sobre a utopia estudantil no Brasil. Nos Estados Unidos ocorre o assassinato de Bob Kennedy.
O mundo mata os líderes do BEM. Comoção no enterro de Martin Luther King.
No mês de julho o encontro do diário de Chê ganha destaque, enquanto que no Brasil a ditadura perde completamente a compostura, apelando cada vez mais para a repressão. O mundo também vê as cenas da mais brutal fome no mundo, a de Biafra/Nigéria. Enquanto isso Hair faz sucesso na Broadway. Em agosto dois grandes episódios deste ano: O esmagamento, pelas forças do Pacto de Varsóvia, da Primavera de Praga e nos Estados Unidos, a Convenção do Partido Democrata em Chicago, sob uma das mais violentas repressões policiais contra os estudantes. Aqui no Brasil ocorre a invasão na Universidade de Brasília. Tem ainda, texto especial sobre o destino dos sete de Chicago.

Em setembro, Márcio Moreira Alves faz o discurso que, em dezembro levaria ao fechamento do Congresso Nacional. Em Portugal o salazarismo continuará, mesmo sem o ditador. Será a vez de Marcello Caetano. Tem texto sobre os avanços do feminismo e sobre a Revolução Cultural na China. Em outubro ocorre a briga dos estudantes da USP contra os da Mackenzie e o CCC nela instalados. Tem relato sobre o Congresso estudantil de Ibiúna, com análise do episódio, feito por José Dirceu. No México ocorre uma das mais violentas repressões contra estudantes, um pouco antes da realização dos Jogos Olímpicos na capital mexicana. Os Jogos Olímpicos foram marcados por atletas americanos negros protestando no pódio de premiação contra a segregação racial no país. Tem texto especial sobre os pensadores da escola de Frankfurt e a sua relação com os movimentos de 1968. E Jacqueline Kennedy vira J. Onassis.
O espírito libertário de Chê Guevara esteve presente em todos os fatos do ano. Eis a sua mais famosa foto, a de Alberto Korda.


Em novembro o republicano Richard Nixon é eleito presidente dos Estados Unidos e são feitas análises sobre o comportamento hippie e sobre o endurecimento da ditadura no Brasil, que culmina com a edição do abominável AI-5, já em dezembro. Ganham destaque as prisões de Caetano e Gil, e texto sobre os avanços na conquista do espaço e uma bela análise de Frei Betto sobre a Teologia da Libertação.  Seguramente 1968 é um dos mais belos livros que li nestes últimos tempos. O destaque do livro é a quantidade de informações que ele traz e a beleza de suas análises.