sábado, 12 de janeiro de 2013

A Educação. - Em torno de seus resultados.

Um dos conceitos mais importantes para quem estuda a educação é o conceito de cultura e o que envolve a formação desta mesma cultura. Marx, junto com Engels, trata disso em A Ideologia Alemã. Eu aprecio muito o conceito enunciado por Freud em O Futuro de uma Ilusão, que em nada contraria o enunciado dos dois. Ei-lo:
Freud define a cultura.

 "Como se sabe, a cultura humana - me refiro a tudo aquilo em que a vida humana se elevou acima de suas condições animais e se distingue da vida dos bichos; e eu me recuso a separar cultura e civilização - mostra dois lados ao observador. Ela abrange, por um lado, todo o saber e toda a capacidade adquiridos pelo homem com o fim de dominar as forças da natureza e obter seus bens para a satisfação das necessidades humanas e, por outro todas as instituições necessárias para regular as relações dos homens entre si e, em especial, a divisão dos bens acessíveis".

No belo manual de filosofia de Antônio Joaquim Severino, já em seu primeiro capítulo, são apresentadas as três esferas da existência humana, que são estabelecidas nas diferentes relações que os seres humanos travam: relações com a natureza, com os outros e as que ele estabelece consigo mesmo. Estas relações ou práticas são assim sintetizadas por Severino:

"Prática produtiva: Ao produzir seus meios de subsistência, os homens interferem na natureza com vistas a prover os meios de sua existência material, garantindo a produção de bens e a reprodução da espécie". Assim se forma a parte material da cultura.
"Prática social: Ao produzir seus meios de subsistência, os homens estabelecem entre si relações que são funcionais e caracterizadas por um coeficiente de poder". Estas relações produzem as diferentes instituições da sociedade.
"Prática simbolizadora: As relações produtivas e sociais são simbolizadas em nível de representação e de apreciação valorativa, no plano subjetivo visando a significação e a legitimação da realidade social e econômica vivida pelos homens". Esta relação que eu estabeleço comigo, cria o mundo dos valores, das crenças e das simbolizações. Em, outras palavras, o mundo da subjetividade.

Em suma, os seres humanos, ao estabelecerem relações criam eles próprios o seu mundo, criam a cultura e forjam o caminho de sua história. A cultura, em síntese, é uma produção dos próprios homens. Esta cultura é cumulativa e possível de transmissão.É isso que forma as visões de mundo. Uma das das principais formas de transmitir a cultura e formar uma visão de mundo é a da educação escolar. Os meios de comunicação hoje exercem um papel preponderante. É isso que gera todo o debate sobre os currículos - o que ensinar - e também a tão propalada liberdade de imprensa - mecanismos de controle, ou não, sobre ela. Antes esse papel era exercido dogmaticamente pela igreja.

A educação escolar assim integra o campo da socialização, em que a criança é inserida no mundo da cultura dos adultos. A educação assim tem objetivos bem definidos, resultados a serem buscados. Isso forma o campo dos paradigmas educacionais.

Para refletir em torno disso trago duas afirmações bombásticas. A primeira é de autor desconhecido, mas bem poderia integrar os textos de Adorno em suas terríveis reflexões sobre a educação após Auschwitz:

" Sou sobrevivente de um campo de concentração.
Meus olhos viram o que nenhum homem deveria ver:
Câmaras de gás construídas por engenheiros formados.
Crianças envenenadas por médicos diplomados.
Recém-nascidos mortos por enfermeiras treinadas.
Mulheres e bebês fuzilados por graduados em colégios e universidades.

Assim tenho minhas dúvidas a respeito da educação.
Meu pedido é este: ajudem seus alunos a tornarem-se humanos.
Seus esforços nunca deverão produzir monstros treinados.
Aprender a ler, escrever, aprender aritmética só são importantes quando servem para fazer os nossos jovens tornarem-se cidadãos mais humanos".

A outra é de Gautier,(1811- 1872) poeta e escritor francês que afirmava o culto à arte pela arte. É, portanto, a negação do utilitário e do pragmático em favor da afirmação do belo, daquilo que é imensurável e intangível. O útil e o pragmático é exaltado pelas pedagogias tecnicistas, produtivistas, mediadas pelo treinamento, e que vêem o ser humano como um mero capital a se transformar numa máquina de alta tecnologia. Bela reflexão para uma época de loucura por mensuração de habilidades e competências, de busca desenfreada de resultados e estabelecimento de competitivos rankings. Formação para a cidadania e para o mundo do trabalho são indissociáveis. Mas vejamos Gautier:

"Nada é verdadeiramente belo a não ser aquilo que nunca pode ser útil para coisa alguma. Tudo o que é útil é feio, pois é expressão de alguma necessidade, e as necessidades humanas são ignóbeis e reflexivas, como a própria natureza pobre e fraca dos homens. O lugar mais útil numa casa é a latrina".

Como é complexa a questão da educação. Não é por nada que Paulo Freire tanto insiste na necessidade de uma sólida formação política, científica e pedagógica do educador.





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