segunda-feira, 23 de setembro de 2013

O Caminho do Bezerro. Do pensamento.

Trago comigo um velho manual de sociologia, meio aos pedaços, de tanto o ter usado. Neste livro tem uma história muito bonita e que explica muita coisa. A história é muito útil para os dias de hoje, em que assistimos um recrudescimento da onda conservadora. O livro é Uma Introdução à Sociologia, dos autores americanos Walfred A. Anderson e Frederick B. Parker. Um livro de mais de 700 páginas. A história que eu vou transcrever está nas páginas 689 - 690, inserida num capítulo em que os autores tratam do tema da mudança social.


Olha aí! O que tu aprontastes!

Sei que o texto é usado em palestras de motivação, quando o foco recai sobre as inovações, sobre a audácia, sobre o ousar. Não é o meu foco. Eu conto esta história com o objetivo de mostrar a origem da obtusidade de muitas pessoas, sobre raízes do conservadorismo e sobre os seus resultados desastrosos, do tempo que se perde e do desenvolvimento que se impede. Pessoas obtusas, de mentes rígidas, em nome de repetir o que sempre foi feito. Mas vamos à história:

"Certo dia,, em meio à mata virgem, um bezerro se encaminhava para casa, como o fazem todos os bons bezerros;
Mas o fez por uma trilha em curvas, um caminho tortuoso, como costumam fazer os bezerros.
Desde então, duzentos anos se passaram e, presumo, o bezerro já morreu. mas lá deixou sua trilha e é sobre isso que versa a narração, de fundo moral.
A trilha foi utilizada, no dia seguinte, por um cão solitário que por ali passava
E, então, um carneiro guia passou a usar o caminho, indo para o vale e para as alturas,
E levou o rebanho consigo, também, como o fazem todos os bons carneiros-guia.
E, desde então, pelas colinas e clareiras, pelos velhos bosques, um caminho foi rasgado;
E muitos homens por ele se enfiaram, para lá e para cá, dobrando, voltando e serpenteando
E murmuravam palavras de justa revolta, pois era um caminho um bocado tortuoso.
Mas mesmo assim o seguiam - não riam - pela trilha do primeiro bezerro,
E caminhavam cautelosamente por este caminho serpenteante mato a dentro, pois hesitavam enquanto andavam.
O caminho na floresta se transformou em uma pista, virando para lá, para cá, virando novamente;
A pista tortuosa transformou-se em estrada, onde muitos pobres cavalos, com suas cargas
Avançavam lentamente sob o sol inclemente e faziam três milhas para progredir uma.
E, desta forma, por século e meio seguiram as pegadas do bezerro.
Os anos se passaram velozmente e a estrada passou a ser a rua de uma cidadezinha;
E, antes que os homens se dessem conta, a movimentada artéria de uma grande cidade;
E logo a rua central de famosa metrópole;
E os homens, dois séculos e meio depois, ainda seguiam as pegadas do bezerro.
Todos os dias, cem mil passantes seguiam o ziguezague do bezerro;
E por seu tortuoso caminho passou a se fazer o tráfego de um continente.
Cem mil homens se deixavam levar por um bezerro, desaparecido havia quase três séculos.
Ainda seguiam seu caminho em curvas e perdiam cem anos por dia;
Daí, esta alusão ao precedente muito arraigado.
Isso poderia ensinar uma lição moral se eu tivesse sido mandado e convocado para pregar;
Para os homens predispostos a seguir cegamente os caminhos de bezerro do pensamento,
E trabalhar de sol a sol para fazer o que os outros homens já fizeram.
Seguiram a trilha já tão batida, para lá e para cá, para a frente e para trás.
E ainda perseguem seu traçado tortuoso, para se conservar no caminho feito pelos outros.
Mas como devem rir os velhos e sábios deuses da floresta, os que viram aquele primeiro bezerro na mata virgem!
Ah! Esta narrativa poderia ensinar muitas coisas, - se eu tivesse sido mandado pregar".

Os autores dão a autoria da história. Sam Walter Foss (1858-1911).

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