quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Sábado. Ian McEwan.

A vida de professor não é fácil. Compatibilizar o ofício de ministrar aulas com uma leitura mais ou menos sistemática é muito difícil, ainda mais, quando você é apenas um professor horista. Não sobra tempo para a leitura, ou então, você a faz em partes, nas raras horas de folga. Falo isso, ao rever em minha estante, livros ainda não lidos. Entre eles localizei um, comprado em 2006. Lembro que o livro era muito comentado em nosso círculo de conversas, da turma dos professores do curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Positivo. Trata-se de Sábado, romance de Ian McEwan.

Sábado. Ian McEwan. Companhia das Letras. 2005. Tradução: Rubens Figueiredo.

Terminei de lê-lo. É um belo romance, escrito para leitores atentos. Trata, como sugere o título, da vida desenvolvida ao longo de um sábado, geralmente um dia livre, livre do tripalium dos demais dias da semana. O dia começou cedo, ainda na madrugada, por uma crise de insônia e termina, apenas na madrugada de domingo, quando o personagem do livro dorme após um dia de exaustão física que chegara, praticamente, aos limites. Tem assunto, portanto, para um dia inteiro.

Quem são então os personagens desse Sábado. Henry Perowne, um médico neurocirurgião bem sucedido, é o personagem principal. O seu Sábado deveria ser um dia maravilhoso e raro em sua vida. Entre os seus afazeres para o dia, constava o preparo de um jantar todo especial, um jantar exclusivamente familiar. Dele participariam Rosalind, a esposa e advogada por profissão, Dayse, a filha, prestes a publicar um livro de poesia. Viria de Paris. Haveria ainda dois outros participantes: Theo, o filho músico e o avô, o pai de Rosalind, John Grammaticus, um poeta consagrado. Aparar arestas com a neta seria uma das finalidades do encontro. Questões entre poetas.

O dia será longo. Ele será descrito em cinco capítulos, dos quais eu não posso adiantar quase nada para não dar pistas da trama. É importante saber que o romance foi escrito no ano de 2005 (retratará um sábado do ano de 2003) e o cenário político do pós "torres gêmeas" e a iminente guerra contra o Iraque, de Saddam Hussein, estarão presentes nos fatos do dia. As ruas de Londres, a cidade onde se dão os fatos desse Sábado, serão tomada por multidões de manifestes em favor da paz. Com essa pequena contextualização, vamos aos capítulos: No primeiro, a família é apresentada, além das preocupações de Henry, em sua insônia da madrugada. No segundo, Perowne se desloca por ruas da cidade, com o seu Mercedes S500 e se envolve num pequeno acidente de trânsito. No terceiro aparecem as compras e o preparo para o jantar; no quarto ocorrerá um assalto e no quinto uma cirurgia de emergência.

A riqueza do romance não está, portanto, na narrativa da trama mas na força dos pensamentos e dos diálogos travados entre os personagens, com destaque para as reflexões de Perowne, sobre o significado da vida. Seus diálogos com a filha são fantásticos. O teor do desentendimento entre Grammaticus e Dayse é facilmente imaginável. O ambiente familiar é maravilhoso. Muitos fatos do passado, da memória, serão trazidos ao presente. Até destaquei um trecho, já do final do livro: "Chegará o tempo em que ele (Henry) vai operar menos e fará mais trabalho administrativo - eis outro tipo de vida - e Rosalind sairá do jornal para escrever o seu livro, e chegará o tempo em que não encontrarão mais forças para a praça, os drogados, o barulho do trânsito e a poeira. Talvez uma bomba em nome da jihad os leve para os subúrbios, junto com todos os demais corações fracos, ou até mais para o interior do país, ou para o castelo - o seu sábado se tornará um domingo" (Página 330).

Na contracapa do livro temos uma pequena apresentação do mesmo: "Sábado, 15 de fevereiro de 2003. O exímio neuro-cirurgião Henry Perowne aproveita o dia de folga para jogar squash e organizar um jantar festivo para a família em sua residência, num ponto elegante de Londres. Imbuído das certezas do homem de ciência e cercado pelo confronto de praxe em sua classe social, Perowne verá sua consciência passar por uma prova de fogo, depois de um incidente trivial numa rua da cidade. O pano de fundo é uma manifestação em que um milhão de londrinos desfilam contra a invasão iminente do Iraque. O trauma dos atentados de 11 de setembro em Nova York ainda é recente, e o temor de que ocorram atentados em Londres tira o sono de muita gente. Perowne está inquieto. Com a destreza de suas mãos, ele faz milagres em cirurgias cerebrais descritas aqui com precisão. Mas até que ponto poderá controlar as forças irracionais que rondam sua casa e sua família e ameaçam o mundo que ama?".

A edição brasileira, da Companhia das Letras, é de 2005. Tem tradução de Rubens Figueiredo e tem 336 páginas. O escritor, nascido em 1948, tem entre outros romances, o famoso Reparação, de 2002. Ian McEwan é dos mais consagrados escritores ingleses de sua geração.

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