quarta-feira, 16 de abril de 2025

O Apanhador no campo de centeio. J.D. Salinger. 1951.

Não se trata de um livro tão simples e de leitura fácil e fluente. Não é tão simples aguentar o mau humor do jovem Holden Caulfield, de dezessete anos, ao longo de vinte e seis capítulos que ocupam 206 páginas. Estou falando de um livro famoso, de um dos maiores best-sellers, de muitas polêmicas e proibições, O apanhador no campo de centeio, de J. D. Salinger. A primeira publicação data do ano de 1951. O cenário é a cidade de Nova York. Anos posteriores à Segunda Guerra Mundial. O livro é escrito em primeira pessoa. Portanto, Holden narra a sua própria história.


O apanhador no campo de centeio. J.D. Salinger. Tradução: Álvaro Alencar, Antônio Rocha e Jório Dauster. Editora do autor. 13ª edição.

Quem está em busca de um final da história, já a encontrará no primeiro parágrafo do primeiro capítulo: "Só vou contar esse negócio de doido que me aconteceu no último Natal, pouco antes de sofrer um esgotamento e de me mandarem para aqui, onde estou me recuperando". E diz mais, que talvez no mês seguinte, o seu irmão o levará à casa dos pais num jaguar de cerca de quatro mil dólares. Diz que ele está podre de rico, se "prostituindo" em Hollywood, isto é, no cinema. Percebem a crítica, uma das principais características do livro.

Daí começa a contar efetivamente a sua história. O acontecimento do Natal fora mais uma expulsão sua de colégio, agora, do famoso Internato Pensey, na Pennsylvania. Ele reprovara em quatro matérias, de cinco. Neste colégio professores e alunos viviam em mundos diferentes, a começar pela grande diferença de idade e as consequências daí decorrentes. O seu gosto pela leitura o salvara apenas na disciplina de inglês. Em grande parte dos primeiros capítulos Holden descreve o cotidiano do internato: seus colegas, os hábitos, as chatices, as intrigas, os esportes e as dificuldades nos relacionamentos. 

Depois começa a narrativa de sua saída. Isso ocorre num final de semana. Como as férias de Natal começariam apenas na quarta feira, ele não quer chegar em casa, antes desse dia. Assim fica vagando por Nova York. Gasta o tempo no hotel, com telefonemas, em boates e em bebedeiras, mesmo não tendo idade para beber. Mas tendo dinheiro... E por falar em dinheiro, gasta tudo o que lhe sobrara. O tempo do - nada a fazer - é o grande causador de suas angústias e tormentos. Inventa maneiras para fazê-lo passar. É o grande momento do livro. É o tempo das reflexões suas ou com colegas seus, ou com quem encontrasse e lhe desse atenção, sobre os mais diversos temas, entre eles, obviamente, a questão sexual.

No capítulo 16, ele fala de um disco -, Litle Shirley Beans. Sai em sua procura, pois quer dá-lo de presente para a sua irmãzinha, Phoebe, com a idade de dez anos. Holden a adora. Encontra o disco e o compra. Mas, lá pelas tantas, ele cai e quebra em pedaços. Ponho esse fato na resenha em função do significado de Phoebe em sua vida. Ela é praticamente a única pessoa que lhe faz bem. Voltaremos a falar dela. No mesmo capítulo também aparece o título do livro. Holden vê uma família andando pela rua. Um menino cantarolava, junto aos pais, que não lhe davam muita atenção. Ele cantarolava: "Se alguém agarra alguém atravessando o campo de centeio".

Essa música volta no capítulo 22. Nela encontraremos Holden e Phoebe, na casa dos pais, mas estes estavam ausentes, tinham saído. Conversam por um bom tempo. Vejamos uma parte desse diálogo: " - Você sabe o que eu quero ser? - perguntei a ela. - Sabe o que eu queria ser? Se pudesse fazer a merda da escolha? 

- O que? para de dizer nome feio.

- Você conhece aquela cantiga: 'Se alguém agarra alguém atravessando o campo de centeio'? Eu queria..

- A cantiga é 'Se alguém encontra alguém atravessando o campo de centeio'! - ela disse. É dum poema do Robert Burns.

- Eu sei que é dum poema do Robert Burns.

Mas ela tinha razão. É mesmo 'Se alguém encontra alguém atravessando o campo de centeio'. Mas eu não sabia direito.

- Pensei que era 'Se alguém agarra alguém' - falei. - Seja lá como for, fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos e ninguém por perto - quer dizer, ninguém grande - a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê que eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que eu queria fazer. Sei que é maluquice". Página 168. É o livro!

Holden está decidido a ir para o oeste. Não quer um reencontro com os pais. Mas quer se despedir de Phoebe e lhe devolver os poucos dólares que ela lhe emprestara. Ela empaca e quer ir junto. É o momento em que também Holden decide ficar. Agora... é retomar o começo do post.

Mensagem..., fama do livro... Interrogações! O encanto e a doçura de Phoebe. E, por falar em canção, numa rápida procura no Google sobre o livro, encontro - sob o título inglês do livro - The Catcher in the Rye, ser ele também uma canção. Do Guns N'Roses. E segue a seguinte explicação: "A referência ao The Catcher in the Rye, um clássico da literatura americana, é central para entender a mensagem da canção.  Este livro é frequentemente associado à alienação e à luta contra a falsidade percebida na sociedade. A letra expressa um sentimento de descontentamento e confusão em relação ao mundo". Um mundo que, observem a data da publicação do livro, 1951. O mundo acabara de sair de uma Segunda... De uma Segunda Guerra Mundial...

E uma reflexão em que Holden entra na subjetividade de seu irmão, aquele de Hollywood. É sobre a guerra e sobre o exército: "Meu irmão D.B. ficou no exército quatro anos. Esteve na guerra mesmo - participou do desembarque do dia D e tudo - mas acho que ele detestava mais o exército do que a própria guerra" (Página 137). 







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