sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Fogo Morto. José Lins do Rego.

Fogo Morto é mais um dos romances do ciclo dos engenhos, escrito por José Lins do Rego no ano de 1943. O cenário é a cidade de Pilar, no interior da Paraíba, a terra natal do grande escritor. Duas gerações estão presentes na narrativa, que se passa entre o final do Império e as duas primeiras décadas da República. Uma geração que ainda sustenta os engenhos e a outra que assiste a sua derrocada. É um momento de graves conflitos e de muita violência. De um lado estão as volantes, a apavorar a população, e do outro está o cangaço com os seus justiçamentos. O romance mostra decadências, especialmente de pessoas que não suportam as suas realidades e se destroem interiormente.

Três personagens dominam o romance e ocupam as três partes em que o livro se divide. O primeiro é o mestre José Amaro, um artífice em sua profissão de seleiro. O couro é o seu ofício. O segundo personagem veio do Recife. É o capitão Lula de Holanda. Ele é fidalgo e moço estudado. Chega ao Santa Fé pelo casamento com a senhorita Amélia, moça de fino trato e estudada no Recife. É a filha do senhor do Engenho Santa Fé, capitão Tomás. O terceiro personagem é uma espécie de Cavaleiro da Triste Figura, ou um Cavaleiro de Leões, muitas vezes alvo de gozações e outras, de profundo respeito. É movido pelos ideais da mais absoluta justiça.

José Amaro mora no Santa Fé. Coisas de seu pai. Foi ali acolhido após um assassinato em Goiana. Coisas da compaixão. Aprendeu a profissão e foi por aí ficando. Gozava de grande reputação profissional, mas tinha um gênio do cão. Trabalhava apenas para quem ele queria. Era casado com Sinhá e tinha uma filha, Marta. Marta não arrumava namorado, fato que muito irritava o Zé. A família foi se azedando e as relações passaram a ser trespassadas pelo ódio. Marta foi internada num sanatório do Recife. José Amaro fazia incursões noturnas e assustava a todos. Por ser filho de assassino, o diziam possuído pelo demônio e o chamavam de Lobisomem. O falatório dizia maldades do mestre, até com relação a filha.

Lula de Holanda, ou Luís César de Holanda Chacon possuía até bons antecedentes familiares. Gente envolvida nas revoluções de 1848, a Praieira. O casamento o transformou em herdeiro do Santa Fé. O engenho era de propriedade do capitão Tomás. Não era muito grande, mas era extremamente bem administrado e com muita parcimônia. O dinheiro era reservado para a educação da filha e compra de ouro. Lula de Holanda era um desastre nos negócios. À frente dos negócios, tudo se agravou. Se tornou famoso no mau trato com os escravos, e todos eles o abandonaram após a abolição. Confiou o seu destino à religião e aos cuidados excessivos à sua filha. Esta foi condenada a permanecer solteira, por não haver pretendente à sua altura. As relações se azedaram profundamente. Lhe sobrou o fuxiqueiro Floripes e Pedro o boleeiro de seu cabriolé.

O capitão Vitorino Carneiro da Cunha era o politiqueiro do lugar. Não tinha medo de nada e a justiça para com todos era a sua causa. Era casado com Dona Adriana e tinham um filho, Luís, que estava na marinha. Era compadre de José Amaro, padrinho de Luís. O seu sentimento de justiça fez com que tomasse o compadre sob a sua proteção. Este fora envolvido em fuxicos e Lula de Holanda lhe reclamou a casa. Vitorino resolveria o caso. As vezes era respeitado, mas no geral, lhe tiravam troça, especialmente as crianças. Era o papa-rabo, alcunha que o irritava profundamente, especialmente, na voz das crianças zombeteiras.

José Amaro vivia a sua solidão. Sinhá o abandonara. O bêbado Passarinho passou a lhe fazer companhia. O cego Torquato e um comerciante o envolvem com o cangaceiro Antônio Silvino, que manda até bilhete para Lula de Holanda para que ele não se atrevesse a lhe tomar a casa. O cangaço chega ao Pilar e até casa de Lula Holanda que, tomado de ataques, quase não reage. José Paulino, senhor de engenho poderoso, interfere e apazigua a todos. Mas os volantes decidem fechar o cerco. José Amaro, Passarinho e o cego Torquato são violentamente torturados e o capitão Vitorino mostra todo o seu destemor e consegue a soltura dos presos. José Amaro não suporta as humilhações e busca o suicídio.

O romance ganhou o devido e merecido destaque pela construção dos personagens. O autor era profundo conhecedor dos engenhos e das relações autoritárias que neles se travavam. Isso o ajudou na construção dos personagens. O grande mote é a decadência e esta corroi internamente. José Amaro se perde em desgosto com a filha solteira e no inconformismo de amedrontar a todos, até as crianças, como lobisomem e encarnação do demônio. Lula de Holanda se refugia na religião, nela buscando compensação e força para maltratar seus escravos e para os seus desencontros, com a mulher e a tão estimada filha.

Somente o capitão Vitorino Carneiro da Cunha continua com o seu destemor. Não se rende a ninguém e continua a sua pregação por um mundo de justiça, em meio as maldades dos volantes e o espírito justiceiro do cangaço, de Antônio Silvino. Um livro da fase madura do escritor. Decadência leva à desumanização e a desumanização é a perda do outro, o ódio ao outro e a busca do isolamento. A desumanização é o grande tema do livro.








terça-feira, 24 de janeiro de 2017

A Construção Política do Brasil. Bresser Pereira.

Sempre respeitei Luiz Carlos Bresser Pereira como um grande intelectual. Seu livro Desenvolvimento e Crise no Brasil sempre me acompanhou em minhas atividades acadêmicas. Depois de se envolver mais diretamente em política, chegando a ser ministro de Estado por três vezes, nos governos Sarney e FHC, deixei de acompanhá-lo mais de perto e o reencontrei por seus artigos e entrevistas. Como as apreciei bastante, em 2015 comprei o seu livro, A Construção política do Brasil - Sociedade, economia e Estado desde a independência, mas como não tenho mais obrigações acadêmicas a cumprir o deixei na fila de espera.
Da colonização até 2014. A construção política do Brasil. Editora 34.

Agora, depois de ler Entre a história e a economia - o pensamento econômico de Roberto Simonsen, julguei oportuna a sua leitura, já que estava envolvido no clima de estudar o Brasil e a sua economia. Mais uma vez Bresser Pereira se mostrou brilhante e, com certeza, o seu livro estará incluído nos trabalhos de formação, de cuja atividade ainda não declinei. Bresser Pereira é formado em Direito, mas sempre esteve ligado à área econômica, dedicando a sua vida à academia (FGV), à administração de empresas e à atividade pública. Seus grandes referenciais teóricos são Marx, Max Weber e Keynes. Ele se autointitula como um cientista social, para além de economista, portanto.

O livro é de extrema erudição, com profundo conhecimento dos intérpretes do Brasil, e tem abrangência desde o período colonial, até o ano de 2014, ao período que antecedeu as eleições daquele ano. Como está afirmado no sub título, ele analisa a construção da sociedade, da economia e do Estado. Possui 461 páginas divididas em 23 capítulos, que acho importante serem apresentados:

1. Uma periodização; 2. As origens coloniais do atraso; 3. Ciclo Estado e Integração Territorial; 4. Império, constitucionalismo e federalismo; 5. A Primeira República; 6. Começa a Revolução Capitalista Brasileira; 7. A retomada do desenvolvimentismo após 1945; 8. O Pacto Nacional-Popular de 1930; 9. A crise do Pacto Nacional-Popular de 1930; 10. A crise dos anos 1960; 11. O Pacto Autoritário-Modernizante de 1964; 12. Interpretação da dependência; 13. O modelo exportador de manufaturados; 14. Auge e declínio nos anos 1970; 15. A transição democrática (1977-1984; 16. Crise financeira e fim do grande crescimento; 17. A crise do Pacto Democrático-Popular de 1977; 18. A democracia brasileira; 19. Pacto Liberal-Dependente de 1991; 20. O Plano Real. 21. A armadilha do câmbio e dos juros; 22. O pacto que não houve; 23. Balanço do terceiro ciclo. Tem ainda uma conclusão, com questionamentos e encaminhamentos.

A periodização se refere ao Brasil independente e compreende três ciclos, que são apresentados no primeiro capítulo. Estes ciclos são antecedidos por um longo período colonial (1532-1822), fundamental para a compreensão do que acontece até nos dias de hoje. O primeiro ciclo é o do Estado e a Integração Territorial que corresponde ao período do Império, marcado por um Pacto Oligárquico; o segundo, o Ciclo Nação e Desenvolvimento (1930 até 1977), marcado primeiramente por um Pacto Nacional-Popular e depois Autoritário-Modernizante, quando se constroi o capitalismo brasileiro e o terceiro, o Ciclo Democracia e Justiça Social. Lembrando que a narrativa do livro se encerra com o final do ano de 2014.

Minhas preferências recaíram sobre o capítulo de número dois, onde Bresser examina os grandes intérpretes do Brasil e oferece um belo quadro sobre o desenvolvimento do capitalismo mundial, a partir das cidades do norte da Itália, com as atividades comerciais, até se consolidar nas nações que primeiro se industrializaram, como a Inglaterra, a França a Holanda e a Bélgica e, depois, nos países de industrialização tardia. Faz também uma notável comparação entre o desenvolvimento dos Estados Unidos, onde imperou a colonização de povoação e a do Brasil, onde prevaleceu a colonização mercantil. O monopólio e a escravidão cravaram na nação uma espécie de pecado original, ou então, lhe deixaram uma marca definitiva de privilégios que insistem em permanecer.

Também é interessante ver entre nós a presença do eterno conflito entre os nacionalistas e os liberais, com destaque para Manoel Bomfim, Monteiro Lobato e Roberto Simonsen entre os nacionalistas e Eugênio Gudin, entre os liberais, passando pelos famosos embates entre Roberto Simonsen e Eugênio Gudin, nos anos 1940. Nos lembra também, que aqui se construiu primeiramente um Estado e, somente depois, uma nação. Foi então que se desenvolveu o processo de industrialização, pressuposto do desenvolvimento. Este processo foi financiado pelo café.

A análise desse processo, do segundo ciclo, creio ser bastante conhecido, também mereceu um belo estudo, com destaque para o processo da modernização conservadora, sempre presente em nossa história. Quero ainda destacar a bela incursão em nossa história recente, caracterizada por ele, como o ciclo Democracia e Justiça Social, a partir de 1977, quando começa a redemocratização, com as Diretas Já e a Constituição social-democrata de 1988. No capítulo 19 e 20 é feita uma bela análise do governo FHC, quando o Brasil abandonou o conceito de Nação, assumindo o imperialismo liberal do norte e os mercados globalizados, que eliminaram as fronteiras do nacional. Neste período a China transformou-se na grande fábrica do mundo, enquanto que o Brasil se contentava em ser a sua grande fazenda, se desindustrializando e vivendo a sua tão antiga doença, a doença holandesa, limitando-se a produzir bens primários.   Assumimos a dependência.

Também gostei muito do capítulo 21. A armadilha do câmbio e dos juros altos. São estes os dois fatores que efetivamente travam o desenvolvimentismo social que estamos perseguindo. São estes os dois fatores que promovem a nossa desindustrialização. Vejam estes números: Em 1984 a indústria representava 35,8% do PIB brasileiro, enquanto que em 2011 já representava apenas 15,3%. Se em 1986 contribuía com 27% do total dos empregos, em 2009 ele caiu para 17,9%  (pág. 383). Está aí uma evidência.

Quero deixar registradas, ainda, duas ideias me mereceram mais a minha atenção. A primeira é uma convicção ideológica sobre  liberalismo, crença no liberalismo político e descrença no econômico. Vejamos: "... Isso significa que, primeiro, não se deve confundir o liberalismo político (a garantia dos direitos civis) com o liberalismo econômico; enquanto o liberalismo político é uma conquista da humanidade, o liberalismo econômico é uma forma equivocada de organizar o capitalismo" (pág. 133). A segunda é uma constatação de que a elevada taxa de juros e a sobreapreciação do câmbio são hoje o grave entrave para a realização do que ele chama de Ciclo Democracia e Justiça Social.

E uma observação final. Em fins de 2014 ele tinha absoluta convicção de que a democracia brasileira, que se iniciou com o pacto pela redemocratização, a partir de 1977, veio para se estabelecer definitivamente entre nós. Creio que ele não conheceu suficientemente bem os seus colegas do Partido da Social Democracia Brasileira, o PSDB, partido do qual ele se desfiliou em 2011, para fazer esta afirmação. Quanto ao mais, trata-se de um livro simplesmente magistral, que ajuda a conhecer bem o Brasil e também os brasileiros. Livro onipresente para estudos e consultas. Um livro para estudiosos.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

La La Lande. Cantando Estações.

Me sinto hoje uma pessoa bastante acomodada. Dificilmente alguém consegue me tirar da minha biblioteca e das minhas leituras. Encontro com amigos, algumas viagens, algum cuidado com a minha horta na chácara e idas ao cinema, me tiram do meu sossego. Já há dias eu estava disposto a ir ao cinema para ver o recomendado filme Eu Daniel Blake. Sempre gosto das primeiras sessões, tipo 13h30, sessões assistidas por raros quase solitários. Nem mesmo o barulho da pipoca incomoda.


Consultei os horários e cheguei ao cinema indicado, mas o painel não conferia com a programação que eu consultara. Os outros filmes em cartaz não me interessaram e fui a outro cinema nas proximidades. Vi a programação e La La Lande - Cantando Estações estava anunciado para as 13h50. Como este filme recebera sete globos de ouro e com bons prenúncios de Oscars, fui assisti-lo. Confesso que não gostei da elogiada cena inicial, da abertura do musical num engarrafamento de trânsito, na chegada dos artistas a cidade de Los Angeles. Coisas do humor americano.

Mas o filme rapidamente toma rumo, numa narrativa bem trabalhada e com uma trilha sonora maravilhosa que praticamente vale o filme, especialmente, pela presença do jazz.  Mas é um filme de entretenimento e, com grandes pretensões, como retomar o tempo dos grandes musicais como o Cantando na chuva. É um filme para românticos. Apesar de algumas dificuldades iniciais, os sonhos se realizam e ainda são recompensados pelo amor.

Dois jovens, Sebastian (Ryan Gosling), um pianista de jazz e Mia (Emma Stone) uma atriz iniciante, que trabalha em cafeteria, enquanto o sucesso não vem. Ele alimenta o sonho da preservação do jazz e ela quer escrever os seus próprios roteiros. Se sustentam mutuamente, enquanto os sonhos não se realizam. Mas o sonho acontece, se realiza, pois, quem tenazmente persegue objetivos, sempre os alcança. Afinal de contas é um filme americano. A direção é de Damien Chazelle, diretor de outro filme, Wiplash - em busca da perfeição, que também apresenta a mensagem da recompensa pelo esforço, tema sempre presente em palestras de motivação.

O filme foi muito bem recebido pela crítica que lhe dá quase todas as estrelas possíveis. Os elementos técnicos do cinema são muito bem aproveitados, uma boa sequência, uso das cores, do som e da trilha sonora. Seu diretor também é o seu roteirista. Os atores cumprem maravilhosamente seus papéis. Na premiação do Globo de Ouro bateu recorde de prêmios, sete no total. Estas indicações lhe abrem os caminhos para vários Oscars. Recebeu os Globos de Ouro de melhor filme, melhor diretor, melhor roteirista, melhor ator  e melhor atriz do gênero musical, trilha sonora e canção original, com city of stars, numa homenagem à cidade do cinema. O musical começa pelo seu título - LA LA LAnde.

Depois voltei ao outro cinema para ver Eu, Daniel Blake. O painel nem sequer estava mais funcionando. Fui comprar o ingresso e a senhora que me atendeu informou que a sessão tinha sido às 13h30 horas e que tinham tido problemas com o painel, tanto assim que ele parara até de funcionar. Humilde e contrito fui para casa. Quanto ao La La Lande, confirmo que é um belo filme de entretenimento, do gênero musical, mas que a minha preferência recai sobre outros gêneros. Por isso segunda feira sairei novamente do meu habitat preferido.

sábado, 21 de janeiro de 2017

Uma análise do discurso de posse de Trump.

O dia 20 de janeiro de 2017, o dia da posse de Donald Trump, como presidente dos Estados Unidos, deverá ficar para a história. Isso será verdade se ele cumprir o que prometeu em seu discurso de posse, fortemente marcado pelo sentimento de patriotismo e de nacionalismo. Vejamos a parte final de seu discurso: Tornar a América forte novamente, tornar a América rica novamente, tornar a América orgulhosa novamente, tornar a América segura novamente e tornar a América grande novamente e que "Deus abençoe vocês e que Deus abençoe a América".


O discurso foi artesanalmente elaborado e pronunciado diante de um grande público e entre eles os ex presidentes Carter, Clinton, Bush e Obama. Eles devem ter ficado estarrecidos. Sem reagirem ouviram dizer que praticamente tudo o que fora feito antes dele, fora feito de forma errada. Fora feito para o mundo e não para os americanos. A transferência de poder, hoje realizada, não se daria de um presidente para outro, nem de um partido para outro, mas de Washington para o povo. Até hoje Washington ficara com as recompensas e o povo com os custos. No dia 20 de janeiro de 2017 - o povo se tornou comandante. No mínimo uma indelicadeza com os convidados presentes.

Em um outro post, logo após a vitória, eu observava um comentário que dizia que a eleição de Trump representava o fim do mundo. Neste comentário se lia que isto era verdade, se por fim de mundo entendíamos o fim dos mecanismos econômicos que governavam o mundo nos últimos anos, isto é, os mecanismos do ultra liberalismo econômico, da globalização, do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. Estes princípios se consagraram nos governos de Thatcher na Inglaterra e de Reagan nos Estados Unidos, ao final dos anos 1970 e início dos anos 1980.

O dado mais visível destas políticas, que se tornaram hegemônicas, foi o da globalização. O mundo não conviveria mais com fronteiras econômicas e eliminaria todos os mecanismos pelos quais os estados nacionais protegeriam as suas economias. Muitos países passaram a se desindustrializar, favorecendo enormemente a China, que reuniu todas as exigências para absorver esta nova fase da industrialização, que na base da desproteção ao trabalho, absorveu quase tudo do mundo da produção.


Este componente está onipresente no discurso de posse de Trump. Esse processo da globalização precisa ser revertido para que a América possa voltar a ser grande novamente. Retornamos à parte final do discurso. De uma maneira geral, o discurso não está consonante com a realidade dos Estados Unidos do presente. Obama foi um presidente dos Estados Unidos para os Estados Unidos. Pode ser criticado por muitos aspectos, mas ele recuperou a economia americana da crise de 2008, conseguiu a retomada do crescimento econômico e, praticamente, zerou o desemprego. Logo não haveria lugar para falar tão mal de seu antecessor imediato.

O discurso lembra muito um nacionalismo que nós aqui no Brasil conhecemos ao longo dos anos 1940, 1950 e no início da década de 1960, quando ocorreu o processo desenvolvimentista brasileiro, sob a marca da industrialização, do nacionalismo e do protecionismo. Isso fazia e ainda faz sentido, especialmente para nós, um país da industrialização tardia. A partir daí houve muitas transformações no mundo do trabalho. Houve uma nova Revolução Industrial, marcada pelos avanços tecnológicos que reconfiguraram o mundo do trabalho. O discurso de proteção ao emprego de Trump remete a estes empregos no campo, ainda, segunda Revolução Industrial, cada vez mais, mal remunerados.

O componente mais perigoso do discurso é o do patriotismo/nacionalismo. Um conceito bom, dentro de seus limites. Ele facilmente pode escorregar para o fundamentalismo nacionalista, fator responsável pelos maiores desastres da humanidade. Fundamentalismo entre os americanos não é novidade. Ao se julgarem como o novo povo escolhido por Deus, em suas preferências, se julgam no direito de exportar o seu modo de viver para o resto do mundo, por representar, segundo eles, um padrão superior no processo civilizatório. No discurso de Trump, ele relativiza isso, contrariando o processo histórico, afirmando que ele é apenas proposto como exemplo a ser seguido.

Outra afirmação perigosa está contida na ideia de que o patriotismo elimina os preconceitos. O patriotismo fará a unificação do país. A diversidade está cada vez mais presente em nosso mundo. A racionalidade técnica, instrumental, já não é, nem nunca foi suficiente para explicar toda a complexidade do ser humano.

Enfim, um discurso essencialmente conservador, como não poderia deixar de ser, e um tom altamente populista, no sentido de falar o que o povo quer ouvir, com forte apelo emocional de resgate de orgulho nacional e de auto estima em torno da grandeza da América. Um discurso de homem branco bem sucedido, para homens brancos, também bem sucedidos e que acima de tudo prezam os seus valores, como sendo imutáveis e universais e sob o forte amparo divino. Não existe muito espaço para a diversidade, para a imigração (num país de imigrantes), para a tolerância e para as questões de gênero e de raça. É o homem em linha reta.


sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Jango conversa com João Vicente (12). 3. Reforma educacional.

Outra passagem marcante no livro Jango e eu - memórias de um exílio sem volta, de João Vicente Goulart, também contida no capítulo 7, - Uma nova vida, dia após dia, - fala sobre a educação. Jango manifesta, entre diálogos e afirmação de conceitos, o que ele pretendia fazer com a reforma do sistema educacional no país e com que pessoas ele contava para fazer esta transformação. As mudanças seriam em todos os níveis, desde um plano de alfabetização em massa, até a reforma da universidade. Queria uma educação, no mínimo, mais humana e mais solidária: Quem começa a contar é Jango:
O grande livro de memórias de João Vicente.

"Darcy Ribeiro junto com Paulo Freire e Anísio Teixeira, queria dar um sentido mais humanitário e coletivo à educação no Brasil, e propusemos, então, uma reforma educacional.

- Como assim, meu pai?
- Filho, a educação é o maior bem social que um governo pode legar ao seu povo. Queríamos que ela fosse um instrumento de luta e avanço social das classes menos favorecidas, para que pudessem ter mais chances e oportunidades iguais às dos abastados. Foi por isso que implantamos no meu governo a primeira universidade independente do Estado, a UNB, a fim de humanizar a educação no sentido social e coletivo, dando à universidade pública as mesmas capacidades tecnológicas, com investimentos acadêmicos do melhor quadro que existia no momento, para criar uma consciência de nação, de coletivo, de desenvolvimento social e de valores mais próximos do ser humano do que do lucro capitalista. E isso não nos perdoaram, por dar educação de primeira aos pobres e desamparados. O Paulo Freire é hoje um dos homens mais odiados pelos milicos brasileiros, talvez até mais do que eu.

Eu escutava com atenção o que meu pai falava, e, após uma breve pausa, ele continuou.
- Aqui tu estás tendo uma educação muito boa, aos moldes da enciclopedista francesa, que o Uruguai adotou há muito tempo, de excelente qualidade. No Brasil estão desqualificando a educação, transformando-a em um negócio. Além de a tratarem como uma mercadoria, querem adaptá-la aos seus interesses, forjando no aluno conceitos do maquiavelismo de mercado.
Não entendi muito bem o que ele queria dizer e perguntei, inocente:
- Mas, pai, pode-se vender educação?

- Não deveriam, mas é o que estão fazendo. É como se a educação fosse um produto vendido no mercado. No comércio de mercadorias, tu podes vender um cinzeiro de metal por um preço mais alto, porque esse metal o faria durar mais, mas também poderias vender bem mais barato um cinzeiro de plástico duro, que, com o passar do tempo, se deterioraria e não prestaria para mais nada. É mais ou menos isso que estão fazendo com a educação brasileira, fingindo que ensinam e ganhando dinheiro com isso" (Páginas 85-86). Isso me fez lembrar de Adorno e a sua teoria da semi formação.

Mais tarde, João Vicente volta ao tema. Agora, João Vicente e o pai estão na França, onde Jango se tratava com um cardiologista, na cidade de Lyon. Desta cidade partiram para Genebra, cidade onde Paulo Freire cumpria o seu exílio. João Vicente assim descreve o encontro.
Paulo Freire, Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro seriam os responsáveis pela reforma educacional.

"Ao anoitecer, recebemos uma ligação do hall do hotel avisando que Paulo Freire estava lá. Meu pai desceu imediatamente para ver seu velho amigo e eu desci em seguida. A conversa foi excelente, e eu fiquei encantado com a pessoa fantástica  que era o nosso grande educador. O que mais me impressionou foi sua capacidade de acreditar fielmente que era possível mudar as injustiças do mundo por meio da educação.

Meu pai e Paulo conversaram sobre o plano de alfabetização que queriam implantar no Brasil antes do golpe de 1964. Lembraram quando Jango o convidou para desenvolver o o Plano Nacional de Alfabetização usando seu método de conscientização de massas. Planejavam criar mais de 20 mil círculos de cultura e começaram a capacitação de mais de 6 mil coordenadores que iriam dirigir esses círculos. O plano iria alfabetizar mais de dois milhões de pessoas só em em 1964. Na época, havia 65 milhões de habitantes no Brasil, dos quais 15 milhões  eram analfabetos. Mais um projeto que a ditadura enterrou.

- Paulo, acho que a ditadura tem mais ódio de você do que de mim, pois você iria promover a conscientização de nosso povo por meio da reforma educacional. A reforma faria uma revolução - disse meu pai a ele" (página 181).

O livro é maravilhoso e já figura entre os meus favoritos na seleção que farei entre as leituras de 2017. Livro que - mais que recomendo. Leitura imprescindível para quem quer compreender este país e se engajar nas lutas pela sua transformação.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Jango conversa com João Vicente (12) 2. Reforma Agrária.

As causas do golpe civil-militar de primeiro de abril de 1964 tem causas múltiplas. Mas, no cenário mais profundo, estavam sempre presentes o caráter de justiça social e de nacionalismo das reformas de base do governo João Goulart. Elas eram um conjunto de transformações que abrangiam o sistema bancário, fiscal, urbano, administrativo, agrário, educacional e eleitoral do país. Mas sem dúvida, a que mais mexeu com o imaginário popular e com o bolso da elite foi o seu projeto de reforma agrária. O pobre temia perder o que ele nunca teve e jamais teria.
Jango e João Vicente também dialogam sobre o sentido da reforma agrária.

Já ao final de 2016 o leitor brasileiro foi contemplado com um belo livro sobre o presidente João Goulart, escrito por seu filho João Vicente, que recupera as memórias dos tempos do exílio, passados no Uruguai, na Argentina e com passagens por cidades europeias, tendo Paris como destaque. As reformas de base ganharam um destaque todo especial no capítulo 7, Uma vida nova, dia após dia. E entre as reformas, a reforma agrária mereceu uma atenção toda especial. Acompanhemos o diálogo e os comentários, inseridos em Jango e eu - Memórias de um exílio sem volta.

" - Mas e as reformas no Brasil, porque foram tão atacadas?
- Era uma série de reformas, meu filho, mas a que mais doeu na classe alta foi a reforma agrária, pois atingiria os interesses dos poderosos. As elites nacionais são tão retrógradas que entendem que a terra é um ativo financeiro, independentemente de ser produtiva ou não, se cumpre a sua função social, que é produzir alimentos, ou não. A classe abastada quer as benesses retrógradas que o direito de propriedade eternamente protege e ampara por lei. Para elas, os menos favorecidos podem passar fome, pois em sua terra não entram nem para plantar uma espiga de milho; se quiserem, que comam sabugo. Mesmo não produzindo, queriam receber à vista, caso houvesse uma desapropriação de terras. Mas as reformas tinham que ser feitas, e a agrária foi uma das que atiçou o golpe, mas não me arrependo de ter me posicionado do lado dos mais fracos.

Sem dúvida, esse foi  o calcanhar de Aquiles da luta de Jango. Uma reforma agrária que há cinquenta anos se arrasta sem ser concluída no país. Hoje ela é tão ou mais necessária do que na época em que Jango a propôs.

Naquele tempo, 75% da população vivia no campo e apenas 25%, nas cidades, e mesmo assim já era difícil para as elites da oligarquia rural engolirem a perda de suas propriedades improdutivas. Imaginem como ficou essa relação hoje, em que os números se inverteram, e as grandes massas populacionais estão na periferia das grandes metrópoles, sem direito a educação, dignidade, emprego e assistência social. 

A reforma agrária se faz perto dos grandes centros urbanos, nas estradas e ferrovias federais valorizadas pelo investimento público, perto dos centros de consumo para incentivar o escoamento de produção e distribuição alimentar. É necessário defender essa iniciativa, que trará paz e desenvolvimento ao campo, desafogando as grandes metrópoles e diminuindo a violência, a escassez de emprego e a falta de oportunidades nas cidades. É uma luta imprescindível ao desenvolvimento social de nosso imenso país.
Bela biografia de Jango. Nela o tema da reforma agrária é longamente tratado.



Seu pensamento social me acompanha até hoje. Temos que mudar a postura da sociedade baseada na meritocracia: Jango, Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Celso Furtado, Josué de Castro, Evandro Lins e Silva, San Tiago Dantas, Wilson Fadul, Armando Monteiro Filho, Raul Riff, Waldir Pires, Almino Afonso, Luis Salmerón e Hermes Lima tinham razão. Todos os integrantes do governo João Goulart, considerados incapazes pela ditadura, caíram de pé, caíram por seus acertos, pois não tinham apenas um projeto de governo, mais sim um projeto de nação". Estão aí também os principais nomes que acompanharam Jango em sua trajetória política. Diálogo e reflexões encontradas nas páginas 83 e 84 do livro.

Hoje o êxito brasileiro, se é que existe, se fundamenta no agro negócio. Por ele o Brasil produz alimentos, de preferência para os animais e, em troca ele absorve a maior parte dos venenos agrícolas produzidos pelas grandes corporações multinacionais. E assim o Brasil vive em paz. (Este último comentário não faz parte do livro, é meu).


terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Jango conversa com João Vicente (12) 1. Reformas de Base.

Já falei, em outro post, que o livro Jango e eu - Memórias de um exílio sem volta, de João Vicente Goulart é um sério candidato ao Oscar de melhor livro lido ao longo do ano de 2017. Um livro cheio de sentimentos, da bela relação entre pai e filho, mesmo sob todas as atribulações de em exílio sem volta. Um livro para ser lido com sentimento e emoção, entrecortado por constantes lágrimas a embaçar a vista.  No meu julgamento Jango foi o mais humano dos presidentes brasileiros.
O pai explica ao filho o que foram as reformas de base que ele pretendi implantar.

O livro todo é extraordinário e narra, desde as primeiras cenas do exílio no nebuloso abril de 1964, chegando até dezembro de 1976, o ano da morte na Argentina. Li o livro com os meus olhos e, por isso mesmo, algumas coisas me chamaram mais a atenção. Assim o capítulo 7, Uma nova vida, dia a dia, ganhou minha preferência. Começa sobre a situação de um exilado, sobre o qual, muitas vezes, é construída a imagem de pessoa má e indesejada. As conversas entre Jango, o pai e João Vicente, o filho, são revestidas de uma profunda ternura e mostram uma enorme preocupação para deixar ao filho o legado político de suas ideias.

Assim Jango explica ao filho, agora com 12 anos, o que foram as reformas de base, que foram o real motivo do golpe que afastou o pai do cargo de legítimo presidente do Brasil. Agora existe mais uma fonte para estudá-las, vistas de uma forma muito simples, na recepção e percepção de um menino de doze anos, que as reconstituiu em sua memória. Vejamos:

" - Pai, podes me explicar o que eram as reformas?
- Olha, filho, nosso país tem uma estrutura social arcaica, valores morais e éticos excludentes que privilegiam apenas os poderosos. Essas elites pensam que o Estado e suas estruturas devem estar a seu serviço e que as riquezas do país devem servir a seus privilégios. Isso é profundamente injusto, pois devemos pensar no bem-estar coletivo e gerar oportunidades iguais para todos. Claro que devemos dar valor ao mérito pessoal, àqueles que conquistaram e construíram seus patrimônios com o próprio esforço, mas temos que oferecer oportunidades iguais de estudo, de trabalho, de igualdade e de consciência nacional a todos. O Estado tem compromisso com todos os cidadãos brasileiros, e não somente com aqueles que vêm de famílias abastadas e querem usufruir os bens do Estado como se fossem seus: a educação estatal; a poupança pública para financiar o desenvolvimento de todos e não apenas de algumas empresas; o uso da arrecadação pública para a criação de um sistema digno de saúde pública. Mexer na estrutura bancária que recolhe o dinheiro público da poupança e a circulação tributária da nação, deixando de priorizar os créditos somente para as macro e grandes empresas, e destinando parte das verbas também à iniciativa individual é um profundo desafio, pois toca na chaga do sistema capitalista, que quer exclusivamente dirigir esse capital para seus interesses e investimentos, sejam eles produtivos ou especulativos. O sistema capitalista ainda mede a riqueza dos povos em números absolutos de resultados econômicos e financeiros, não em resultados humanos.

Como assim, meu pai?
- Verás um dia que o mundo não poderá mais conviver com esses parâmetros. Um país rico não é necessariamente aquele medido por seu Produto Interno Bruto, o PIB, por suas reservas monetárias ou por sua balança comercial. Um país realmente rico é aquele em que seu povo é feliz, tem saúde, não existe analfabetismo, oferece oportunidades, educação, cultura e, principalmente dignidade.

Naquela época , ainda não existia  o que hoje chamamos de Índice de Desenvolvimento Humano, o IDH. Ele continuou:
- Vou te contar uma coisa, João Vicente, que vai te surpreender: o ouro é um dos metais mais vagabundos que existe.
- Meu pai, é o mais valioso! Como podes dizer uma coisa dessas?
- Não como metal, pois se fizerem uma ponte com ouro, sem dúvida ela vai cair. O ouro só tem valor porque os homens fizeram um acordo e convencionaram o seu preço, mas, como metal, não cumpre sua função: é mole, não suporta peso e deforma-se com uma força inferior à do ferro. O próprio dólar americano, que era lastreado em ouro, já não é mais, pois os americanos precisavam emitir papel moeda para sustentar sua indústria bélica e, forçados pelo presidente De Gaulle, deixaram de fazer essa equivalência - explicou meu pai." (...) Esses diálogos se encontram nas páginas 81 a 83.
Um belo por de sol sobre o rio Uruguai, na cidade de São Borja.


Mais adiante, em outros posts, vou transcrever a visão de Jango sobre a reforma agrária, que foi a que trouxe os maiores incômodos e foi o motivo mais profundo para o golpe, e sobre a sua concepção de um sistema educacional, com Paulo Freire a seu lado. As reformas preconizada por Jango, elaborados por colaboradores da qualidade de um Celso Furtado, não foram executadas até hoje. Se constituem assim, num Programa de Governo e num Projeto de Nação, para quem efetivamente quiser fazer reformas mais profundas na estrutura da sociedade brasileira.

Lembrando que as reformas de base do governo Jango abrangiam amplos setores, apenas para especificar melhor a descrição feita acima, pelo próprio Jango.  Ele pretendia fazer uma reforma bancária; fiscal, urbana, administrativa, agrária, educacional e eleitoral. Elas teriam a marca ética da justiça social, do patriotismo e do nacionalismo.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Jango e eu. Memórias de um exílio sem volta. João Vicente Goulart.

Ainda na primeira metade do mês de janeiro, já tenho um livro como sério candidato ao OSCAR de melhor livro do ano. Trata-se de Jango e eu - Memórias de um exílio sem volta, de autoria de João Vicente Goulart. O golpe civil militar de 1964, o exílio, primeiramente no Uruguai e depois na Argentina, o relacionamento afetuoso entre pai e filho, os reais motivos do golpe e o ideário político humanista de Jango são os pontos altos deste maravilhoso e sensível livro.
No meu julgamento, candidato a livro do ano. Para ler com sentimento e emoção.


No ano de 1964, o ano do golpe, João Vicente tinha apenas sete anos de idade e seu pai 46. Jango teve carreira política verdadeiramente meteórica. Com esta idade já galgara os mais altos postos dentro da República, na qualidade de ministro, vice presidente e presidente. Foi o expoente máximo do trabalhismo brasileiro e o líder maior do Partido Trabalhista Brasileiro. João Vicente nos alerta que o livro não pretende ser um livro para a academia, mas não o deixa de ser.

Posso dizer que conheço relativamente bem o período em que Jango esteve a frente do poder, bem como o seu ideário político. Li muito sobre o conturbado momento político então vivido pelo país, como também a bela biografia, escrita por Jorge Ferreira, João Goulart - Uma biografia. Sempre tive a intuição de que Jango foi o mais bem intencionado dos presidentes brasileiros e era um homem dotado de profundos sentimentos humanos e de uma generosidade sem limites. Além de confirmar esta minha percepção, o livro de João Vicente também nos mostra o pai afetuoso que ele foi.

O livro também nos mostra, ou confirma, a enorme perversidade da elite brasileira, individualista e egoísta, sempre trabalhando contra o Brasil para obterem benefícios pessoais. Lembro de Dom Hélder Câmara, que comparava esta elite como sendo os cônsules dos interesses estrangeiros. Sempre trabalharam para que aqui não se formasse uma nação, com um povo vivendo em sua dignidade e decência. Para construir esta nação, seriam necessárias inúmeras reformas, as chamadas reformas de base, reformas estruturais na economia, na sociedade e na cultura brasileira, que diga-se de passagem, ainda estão por serem feitas. Jango nos deixou um projeto político pronto.
Em frente a casa museu de João Goulart, em São Borja.


O livro é composto de 19 capítulos, que retratam o período que vai de abril de 1964, com o início do exílio, até dezembro de 1976 com a morte ou assassinato na Argentina e o enterro realizado em São Borja, a sua terra natal, sob expressa proibição pela ditadura, ainda vigente. Jango tinha apenas 58 anos. Estava profundamente disposto a voltar ao Brasil, ajudar na sua redemocratização e lutar pelo seu ideário político da construção da justiça. Coisas da operação Condor. João Vicente crê firmemente que seu pai morreu assassinado.

Deixo os títulos dos capítulos: 1. O Uruguai é azul, em alusão a uma resposta da mãe para um filho de sete anos, que chega a um país diferente; 2. Um novo mundo - A República Oriental do Uruguai; 3. Solymar - Uma casinha, um sonho e desafios futuros; 4. Hotel Colúmbia - A preparação após Solymar para enfrentar o exílio; 5. Um endereço definitivo - Leyenda Patria 2.984, terceiro andar, Villa Biarritz; 6. Os exilados, uma alusão aos inúmeros exilados brasileiros que vinham se encontrar com Jango; 7. Uma nova vida, dia após dia, que para mim é o capítulo mais bonito do livro, quando a família se adapta ao exílio e conta os motivos pelos quais ele ocorre. Neste capítulo o pai explica para o filho, então com 12 anos, o que foram as reformas de base (Farei um post especial).

Mas, continuando: 8. Conversas com meu pai. 9. Os lugares e as lembranças, outro belo capítulo em que Jango recomenda leituras para o filho e fala sobre a visita de Lacerda e a formação da Frente Ampla; 10. As perdas, um relato sobre o endurecimento do regime no Uruguai e a morte de amigos; 11. Fragmentos: O papa João XXIII e as reformas, quando entra em cena a majestosa atuação do bispo, futuro cardeal Dom Paulo Evaristo Arns; 12. Ventos e raízes, uma penetração em algumas coisas da intimidade familiar; 13. As esquinas das cidades, que já não são mais confiáveis; 14. Enfim um passaporte, que por incrível que pareça, lhe foi conseguido pelo ditador paraguaio Stroessner e que lhe possibilita viajar para Paris; 15. Sem adormecer, sem os sonhos acabarem, onde é narrado o caso de D. Mitrione; 16. Paris, uma válvula de escape e o seu tratamento cardíaco em Lyon e os encontros com os exilados na Europa; 17. 1972, 1973: A mudança. A queda da democracia no Uruguai e a perda do sonho de liberdade; 18. Gaivotas migram em direção ao condor: peregrinação e busca por uma esperança, Uruguai, Argentina, Paraguai, Londres, Paris. 19. Londres, a última morada do infindável exílio, de João Vicente, enquanto Jango conhece uma morte prematura.

Reafirmo a minha predileção pelo sétimo capítulo e pelos capítulos finais. É um livro que se lê com sentimentos e emoções, com os olhos embaçados em lágrimas, quando a leitura precisa ser interrompida para o coração palpitar com força tanto pela emoção, quanto pelo ódio, um ódio profundo, contra aqueles que tudo fizeram e fazem para manter o povo na miséria e na opressão. Jango sempre foi um conciliador e partidário da tolerância, uma de suas maiores qualidades.  Um livro que todos os brasileiros deveriam ler.
Jazigo da família Goulart, em São Borja.


Chamo ainda atenção para a parte final do livro, em que João Vicente, debruçado sobre o caixão do pai faz as suas rememorações e mantém com o pai a sua última conversa, cena que é retratada num belo álbum de fotografias inserido no livro. O livro ainda contém importantes documentos em um anexo final. Tem também uma carta de Jango para João Vicente, quando este está em Londres. Coisa linda, do tempo em que se escrevia cartas.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

O Pensamento econômico de Roberto Simonsen.

Se há um estudo que me fascina é o estudo dos diferentes intérpretes do Brasil.  Há muito eu tinha vontade de fazer uma incursão no campo mais voltado para a economia. Sempre me chamou atenção a pessoa de Roberto Simonsen, que eu sabia, assim por alto, que ele não era um liberal, ao menos no sentido da ortodoxia desta palavra. Resolvi estudá-lo e tive a sorte de encontrar um livro que satisfez as minhas curiosidades com relação a ele.
Um livro primoroso. Para estudiosos. Para pessoas preocupadas com o Brasil.

O livro é uma dissertação de mestrado, produzida na Universidade de São Paulo entre os anos de 2012 - 2013 e publicada em livro em 2015. O livro tem por título Entre a história e a economia - O pensamento econômico de Roberto Simonsen. O seu autor é Luiz Felipe Bruzzi Cury, um bacharel em economia, formado pela Universidade Federal de Minas Gerais. Ele fez um trabalho de elevada qualidade, honrando devidamente o homem público e intelectual renomado de sua pesquisa.

Roberto Simonsen nasceu em Santos no ano de 1889. Formou-se engenheiro civil pela Universidade de São Paulo em 1909 e teve uma vida extremamente ativa, divida entre as suas atividades como industrial, na qualidade de proprietário da Companhia Construtora de Santos, na verdade um complexo de empresas, entre a sua atividade de intelectual como professor da Escola Livre de Sociologia e Política da USP, da disciplina de História Econômica do Brasil, como líder corporativo e que nesta qualidade alcançou a presidência da poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e ainda, a atividade política, sendo parlamentar e participante de inúmeras missões governamentais.

 O livro esmiúça o seu pensamento e as suas atividades. Ele atuou nos anos 1920, quando se dedicou mais às atividades empresariais, nos anos 1930, quando somou a atividade intelectual com a atividade classista e política  e na década de 1940, quando era reconhecido intelectual e formulador de políticas econômicas. Sempre esteve preocupado com o desenvolvimento brasileiro, que somente poderia ser alcançado pelo processo de industrialização. E esse processo não se daria pela simples inserção no livre mercado. Contrariava assim as teses da economia liberal e buscava, além de fatores da teoria econômica, também os condicionantes históricos que efetivamente colocariam o país em seu processo de desenvolvimento almejado. Intervencionismo, protecionismo e nacionalismo são palavras chaves em seu pensamento. E também necessariamente a palavra, câmbio.

O livro de Bruzzi Cury obedece os ditames de apresentação de uma dissertação acadêmica. Introdução com a formulação das questões a serem investigadas, três capítulos em que mergulha na explanação das questões propostas e as reflexões finais sobre o trabalho desenvolvido. Bibliografia e anexos complementam o livro.

O primeiro capítulo tem por título Roberto Simonsen: da modernização ao pensamento nacional, com dois subtítulos: Primeira República e Modernização e - da Revolução de 1930 ao Estado Novo: um novo tipo de atuação. A ideia que move os estudos de Simonsen é o atraso brasileiro. Daí passa a buscar as causas, que segundo ele, são mais históricas do que econômicas. Por isso a atuação do Estado se torna necessária para fazer as correções. Tinha a firme convicção de que apenas a industrialização resolveria o problema do nosso atraso histórico. Por isso todo o seu esforço para estimular a industrialização. A sua formação técnica o levou ao processo de modernização da produção pelas teorias do fordismo/taylorismo, buscando acumulação pelos ganhos de produtividade e não pela baixa remuneração do trabalhador. Era preciso formar um mercado consumidor.

Rejeitava assim a vocação natural que muitos atribuíam à economia brasileira, de que ela deveria se limitar a um país agrário exportador de seus produtos, que marcaram os diferentes ciclos da economia, desde a cana até o café. Enxergava grandes possibilidades de desenvolver os setores ligados a industrialização de carnes, da indústria algodoeira e têxtil e da madeira. Já na década de 1920 aparece a indústria de cimento, fundamental ao desenvolvimento de suas atividades à frente da Companhia Construtora de Santos. Mas ele quer mais. Da modernização ele avança para os conceitos de desenvolvimentismo, planejamento e protecionismo.

O segundo capítulo tem por título Nacionalismo, industrialismo e história, e vários subtítulos: O início da carreira de Simonsen: Da Escola politécnica à FIESP; A Escola Livre de Sociologia e Política e a História Econômica do Brasil. Roteiro de leitura A História Econômica do Brasil e o projeto industrialista de Simonsen e outras contribuições historiográficas. Simonsen foi um dos fundadores da Escola Livre de Sociologia e Política e foi professor da disciplina de História econômica do Brasil. Das aulas surgiu o livro que é uma de suas grandes contribuições para a historiografia brasileira. Me permito uma pequena intervenção de juízo. Conseguem imaginar a qualidade de suas aulas? Ele as produziu artesanalmente, tópico por tópico. Ele compôs a partitura e não apenas a executou, numa referência à Didática Magna de Comênius, que já em sua época falava que o professor precisava apenas tocar a partitura e não compô-la. Ah! A divisão social do trabalho!

Mas voltando à análise, ele também incluiu em suas aulas a economia cafeeira e os movimentos populacionais, ou mais precisamente, sobre os seus deslocamentos, de acordo com os diferentes ciclos econômicos e também, a industrialização. Um pesquisador de muita qualidade. Autores brasileiros e estrangeiros alavancavam as suas argumentações.

O terceiro capítulo tem por título Protecionismo e planejamento e os seguintes subtítulos: Simonsen e o protecionismo: momentos chave "As finanças e a indústria": Manoilescu e Woytinsky. O Tratado Comercial de 1935 e a participação de Simonsen. Planejamento: A controvérsia, antecedentes e contexto. O pós guerra e algumas questões latino-americanas. A grande questão deste momento é o seu confronto com o economista liberal Eugênio Gudin, já sob o governo de Dutra.

O que impressiona em Simonsen é a sua dedicação ao estudo e a sua militância. Certamente ele não gostava de perder em suas polêmicas, além de seu ideal de desenvolvimento do Brasil, e por isso ele estudava. Estão presentes em suas obras, palestras e conferências o que de mais moderno existia na literatura mundial. Sobre o protecionismo ele trazia os estudos de todos os países desenvolvidos, mostrando o quanto elas estiveram presentes em seu desenvolvimento, contrariando as teorias por eles propugnadas, do livre mercado e da espontaneidade das leis econômicas. Ele via a realidade como algo bem mais complexo e, em que, a intervenção se fazia necessária. As crises devem tê-lo influenciado bastante. Crises e recuperação econômica. Primeira guerra, crise de 1929, entre guerras, Segunda guerra, planos de recuperação econômica pós destruição. Era um campo em que, necessariamente, história economia e determinação teriam que se somar, se quisessem efetivamente a recuperação econômica e o desenvolvimento.

Fiquei muito impressionado com esta leitura. Ele morre em 1948, o mesmo ano da criação da CEPAL. Sempre esteve muito próximo do pensamento de Celso Furtado. Roberto Simonsen tinha autoridade para falar. Era uma referência e tinha respeito e reputação. As suas posições provocaram controvérsias. Muitos chegaram a se desfiliar da entidade em contrariedade com as suas posições. E o que é a FIESP hoje? Quantos anos faz que o país não tem uma política de industrialização, em que se busquem todos os condicionantes para que isso de fato ocorra e não apenas os caminhos mais fáceis das isenções. A FIESP de hoje se dedica efetivamente à indústria ou ela tem os seus interesses mais voltados ao rentismo? E o pior, metidos em golpes, com a ridícula figura do PATO. E os choros de hoje de Benjamin Steinbruch, (vice presidente da FIESP) pedindo socorro ao Estado brasileiro para salvar a indústria nacional. Parece patético o seu grito de socorro.

Deixo com vocês a penúltima frase de seu artigo na Folha de S.Paulo 10.01.2017. "A indústria brasileira precisa de socorro, sem preconceitos: apoio à acumulação de capital, acesso a crédito com juros civilizados, programas de compras governamentais, políticas macroeconômicas e fiscais estimuladoras de crescimento, taxas de câmbio que deem competitividade à produção e escolha de setores com prioridades e sob controle de desempenho". E mais um pedacinho do parágrafo final: "Não há outro caminho. Entregue à própria sorte e sob a patrulha neoliberal"... Nenhuma referência a salários e direitos trabalhistas em desconstrução. Ah se Roberto Simonsen ainda estivesse entre nós. Outros tempos.


quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Histórias da Gente Brasileira. Volume 2. Império. Mary del Priore.

O segundo volume de Histórias da Gente Brasileira - Império, da historiadora Mary del Priore saiu muito rapidamente. Em muito pouco tempo ele apareceu e, assim como ao final do primeiro, sete segundo também já está anunciado o terceiro, sobre a primeira metade do século XX. A leitura é muito instigante. O seu olhar é mesmo sobre a gente brasileira, sobre seus hábitos, costumes, crenças, crendices, miscigenações e muito mais.
Histórias da gente Brasileira, Volume 2. Sobre o Império. Da Leya.


O livro é longo, contando com 515 páginas, divididas entre um prefácio, onde o império nos é apresentado, as suas três partes que constituem o corpo do trabalho, um glossário e uma preciosa referência bibliográfica. Gostei muito da utilização da literatura brasileira que, creio que podemos afirmar, foi usada como fonte historiográfica. É uma história viva e não apenas uma sequência de nomes e de fatos históricos. A ilustração é farta. Você ganha de presente, praticamente, todo o arquivo da Biblioteca Nacional.  Vou dar um panorama geral das três partes.

A parte 1 leva por título Terra e Trabalho. Como os títulos são meio auto explicativos, vou apenas apresentá-los: 1. Retrato de um império quando jovem. 2. Tempo de medo, fogo e sangue. 3. O imperador e o "rei". 4. O café antes do império... A explosão verde. 5. Depois do ouro: terras e gente mineira. 6. "Onde era tudo tão difícil": viver nos sertões. 7. Rumo ao norte, um missionário especial. 8. Enquanto nas capitais do Império... 9. A Nova Cartilha Agrícola e o início do fim do "monocultivo". 10. Instantâneos do imperador e de sua família.

A parte 2 tem o seguinte título: O Supérfluo e o ordinário: As coisas banais e o nascimento do consumo. Da mesma forma darei apenas os títulos dos 13 capítulos: 1. Das  casas-grandes aos sobrados. 2. Casa e jardim. 3. Água de beber. 4. Cantando no banheiro. 5. Surpresas na cozinha. 6. Passando à mesa. Novidades gastronômicas. 7. Acenda a luz! 8. Home sweet home. 9.  Diversão: dos bailes aos sports... 10. Coisas de homem: cafés e livrarias. 11. Prazeres masculinos: as cocottes. 12. Coisas de mulher. 13. Dans le apaguer des lumières: o riso entre a fracofilia e a lusofobia.

A parte 3 leva por título: Ritmos da vida: nascer, crescer, casar e morrer. Mais uma vez darei apenas os títulos: 1. Sofrer no paraíso e... no inferno. 2. Filhos & Cia. 3. Crianças e jovens no mundo dos adultos. 4. Ascensão e queda do pai. 5. Eles & Elas. 6. A caminho do altar... 7. Alianças, enfim... 8. Longe do melhor dos mundos... 9. A fragilidade da carne. 10 Sexualidade e matrimônio - Vida conjugal entre escravos - Amores mulatos - Amores em engenhos e sobrados do nordeste. 11. Homossexualidade & doença. 12.O Império: panela fervilhante de moléstias e epidemias. 13. A dama de branco (a morte). 14. A morte e os afrodescendentes. 15. Mudanças no morrer... 16. O além: crenças e religiosidades. Segue um glossário e a bibliografia.

Em suma, um belo livro. Ele lembra o estilo dos livros da história da vida privada. Na primeira parte estão os fatos históricos, os ciclos econômicos e as inúmera revoltas nas diferentes províncias. Na segunda e terceira parte já entra mais nas questões dos hábitos e costumes e as suas modificações, sempre no sentido das modernizações gradativas. Nunca ocorreram grandes transformações de forma abrupta. A sua leitura é extremamente agradável. Em nada se assemelha aos grandes calhamaços acadêmicos. E ficamos no aguardo do terceiro volume, que versará sobre a República e se estenderá até meados do século XX.

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Quem faz a História. Bertold Brecht.

Ao preparar um curso sobre formação sindical, além de incluir a árida teoria, optamos também pela poesia. Possivelmente a poesia diga a mesma coisa que a teoria, mas a diz de uma outra forma. Ou, no mínimo, quem compôs a poesia, tinha antes se apoderado de toda a teoria. O mesmo ocorre com o leitor, quando a lê e a entende perfeitamente.

Este poema de Brecht visa a formação da consciência de classe. Por ela o trabalhador se vê como um artífice, como o construtor de sua obra. Enquanto que nos livros de história, apenas os reis ou os generais e os seus sucedâneos são mostrados como os artífices de sua obra ou de grandes conquistas. Isso ocorre por causa da divisão social do trabalho. Nela uns planejam e outros executam e só os que planejam são valorizados. No marxismo o trabalho é visto como práxis, isto é, como unidade entre o saber e o fazer, entre o planejar e o executar, entre a cabeça e a mão.


Mas vamos ao poema de Brecht. Ele proporciona belíssimas reflexões.

Quem faz a História?

Quem construiu a Tebas das sete portas?
Nos livros constam os nomes de reis.
Os reis arrastaram os blocos de pedras?

E a Babilônia tantas vezes destruída
Quem ergueu outras tantas?
Em que casas da Lima radiante de ouro
Moravam os construtores?

Para onde foram os pedreiros
Na noite em que ficou pronta a muralha da China?
A grande Roma está cheia de arcos do triunfo
Quem os levantou?

Sobre quem triunfaram os Césares?
A decantada Bizâncio só tinha palácios 
Para seus habitantes?

Mesmo na legendária Atlântida,
Na noite em que o mar a engoliu,
Os que se afogavam gritavam por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Ele sozinho?
César bateu os gauleses,
Não tinha pelo menos um cozinheiro consigo?

Felipe da Espanha chorou quando sua armada naufragou.
Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele?

Uma vitória a cada página.
Quem cozinhava os banquetes da vitória?
Um grande homem a cada dez anos
Quem pagava as despesas?

Tantos relatos.
Tantas perguntas.
Quem construiu a Tebas das sete portas?
Nos livros constam os nomes dos reis.
Os reis arrastaram os blocos de pedra?

E a Babilônia tantas vezes destruída
Quem ergueu outras tantas?
Em que casas da Lima radiante de ouro
Moravam os construtores?

Para onde foram os pedreiros
Na noite em que ficou pronta a Muralha da China?
A grande Roma está cheia de arcos do triunfo.
Quem os levantou?

Sobre quem triunfaram os Césares?
A decantada Bizâncio só tinha palácios
Para seus habitantes?

Mesmo na legendária Atlântida,
Na noite em que o mar a engoliu,
Os que se afogavam gritaram por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Ele sozinho?
César bateu os gauleses,
Não tinha pelo menos um cozinheiro consigo?

Felipe de Espanha chorou quando sua armada naufragou.
Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele?

Uma vitória a cada página.
Quem cozinhava os banquetes da vitória?
Um grande homem a cada dez anos.
Quem pagava as despesas?

Tantos relatos.
Tantas perguntas.


Leia mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=156311 © Luso-Poemas
Quem construiu a Tebas das sete portas?
Nos livros constam os nomes dos reis.
Os reis arrastaram os blocos de pedra?

E a Babilônia tantas vezes destruída
Quem ergueu outras tantas?
Em que casas da Lima radiante de ouro
Moravam os construtores?

Para onde foram os pedreiros
Na noite em que ficou pronta a Muralha da China?
A grande Roma está cheia de arcos do triunfo.
Quem os levantou?

Sobre quem triunfaram os Césares?
A decantada Bizâncio só tinha palácios
Para seus habitantes?

Mesmo na legendária Atlântida,
Na noite em que o mar a engoliu,
Os que se afogavam gritaram por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Ele sozinho?
César bateu os gauleses,
Não tinha pelo menos um cozinheiro consigo?

Felipe de Espanha chorou quando sua armada naufragou.
Ninguém mais chorou?
Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem venceu além dele?

Uma vitória a cada página.
Quem cozinhava os banquetes da vitória?
Um grande homem a cada dez anos.
Quem pagava as despesas?

Tantos relatos.
Tantas perguntas.


Leia mais: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=156311 © Luso-Poemas