terça-feira, 25 de novembro de 2014

O Capital no século XXI. Thomas Piketty.

É oportuno lembrar que em tempos de definição para a nova equipe econômica para o segundo governo da presidente Dilma, existem discussões mais profundas do que a mera ortodoxia liberal e a afirmação, ou melhor, a renovação da fé nos princípios neoliberais dos Chicago Boys. Novas ideias movimentam esta complicada área.  Como as forças que se opõem ao capitalismo são relativamente fracas, este caminha inexoravelmente para a sua autofagia, a menos que as forças de oposição se gestem e comecem a ganhar  força, com força no respaldo popular, para o seu enfrentamento.
O Capital no século XXI de Thomas Piketty. Um descompasso entre o rendimento do capital e o crescimento da riqueza.

Não sou ingênuo ao ponto de pretender fazer um post com uma resenha do recém lançado livro no Brasil, do Thomas Piketty, O Capital no século XXI. Também não quero deixar passar inteiramente em branco o seu lançamento. Quero ajudar na difusão do livro, com o objetivo de que mais gente o leia e para que se provoquem reflexões em torno do tema e, que assim, se possa contribuir para que este sistema provoque menos dor e sofrimento humano do que já está produzindo. No meu post vou apresentar o livro, a partir do que consta na orelha da capa do livro e apresentar as perguntas que moveram a pesquisa, que constam da introdução do livro. Farei ainda uma pequena apresentação do autor.
Thomas Piketty, 15 anos pesquisando a acumulação de capital X distribuição de renda.


 Uma pergunta abre a apresentação do livro. É a seguinte: "Que dinâmicas movimentam o acúmulo e a distribuição do capital"? A pergunta ganha uma primeira elucidação: "O tema da política econômica há muito suscita debates constantes sobre crescimento, concentração da riqueza e o aumento da desigualdade". Coletar dados a respeito é a grande proposta do livro. Mais de vinte países foram estudados ao longo dos últimos duzentos anos. Já soube que sobre o Brasil existem apenas alguns dados esparsos. Não um um estudo sistema´tico.

O autor irá demonstrar que o sistema só não se autofagiou, conforme as profecias de Marx, em função do crescimento econômico e da difusão do conhecimento, mas que, ao contrário do otimismo generalizado do após Segunda Guerra, "a estrutura básica do capital e da desigualdade permaneceu relativamente inalterada". E constata o pior e o mais preocupante: "que a taxa de rendimento do capital supera o crescimento econômico - e isso se traduz numa concentração cada vez maior da riqueza, num círculo vicioso de desigualdade que, a um nível extremo, pode levar a um descontentamento geral e até ameaçar os valores democráticos".
Do sumário - a primeira e a segunda parte do livro.


Mas o autor lembra também que "tendências econômicas não são forças da natureza: a intervenção política já foi capaz de reverter tal quadro no passado e poderá voltar  a fazê-lo". Toda a força do livro, portanto está posta no descompasso que existe entre o crescimento econômico e o rendimento do capital. Em outras palavras, é destinado mais dinheiro para a remuneração do capital do que para o crescimento econômico. Mas o mundo capitalista, em seu todo, é muito mais do que uma mera mão invisível. Ele se compõe também de forças políticas.

Depois de afirmar que a distribuição da riqueza é uma das questões mais vivas do debate econômico da atualidade, o autor lança as perguntas que movimentaram, conduziram e deram forma a sua pesquisa. E, perguntas bem feitas, geralmente, são indício de grandes pesquisas. Isso faz parte dos princípios da pesquisa. Vamos às perguntas.

"Mas o que de fato sabemos sobre sua evolução no longo prazo? Será que a dinâmica da acumulação do capital privado conduz de modo inevitável a uma concentração cada vez maior da riqueza e do poder em poucas mãos, como acreditava Marx no século XIX? Ou será que as forças equilibradoras do crescimento, da concorrência e do progresso tecnológico levam espontaneamente a uma redução da desigualdade e a uma organização harmoniosa das classes nas fases avançadas do desenvolvimento, como pensava Simon Kuznets no século XX? O que realmente sabemos sobre a evolução da distribuição da renda e do patrimônio desde o século XVIII, e quais lições podemos tirar disso para o século XXI?
Do sumário - a terceira e a quarta parte do livro.


Piketty tem formação sofisticada. É formado pela London School of Economics e pela École des Hautes Études en Sciences Sociales na França. Foi professor do MIT e hoje leciona  na École d'Économie de Paris. O livro é resultado de quinze anos de pesquisa, dele, e de uma equipe de pesquisadores.

Dizer que a leitura é importante seria recorrer ao óbvio. Não resisto a duas observações. A primeira é a de que vivemos num país que está, por forças políticas, movimentando a sua economia para o crescimento econômico, com distribuição de renda e a segunda, retirada do livro de Zygmunt Bauman, Globalização - As consequências humanas, onde é mostrado este dado brutal da acumulação do capital. Os 358 maiores bilionários globais acumulam uma fortuna igual a riqueza (ou seria a pobreza) de 2,3 bilhões dos seres humanos mais pobres.
Neste livro de Bauman está a triste constatação de que os 358 bilionários globais tem a mesma riqueza que 2,3 bilhões de seres humanos.


Creio que a leitura será proveitosa. Particularmente tenho o maior interesse na quarta parte e, mais precisamente ainda, no capítulo 16, que trata da questão da dívida pública. Creio que entendem o meu interesse. Em tempos de definição da equipe que comandará a política econômica... ortodoxia... heterodoxia... Acabo de receber a revista CULT. Tem uma crítica do livro bem interessante. Pede para não esquecer de Marx.




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