quarta-feira, 21 de março de 2018

O Rei Midas. Fabricante de armas.

Lendo o livro Juliano de Gore Vidal, numa edição do Círculo do Livro, encontrei uma passagem em que o Imperador, em luta contra os persas e querendo restaurar a crença nos deuses helênicos, após o cristianismo ter sido proclamado como a religião oficial do Império Romano, chega na cidade de Pessinus, a cidade de Cibele e do famoso rei Midas. Procurei até a localização da cidade. É Gordiom, hoje Yassihüyük, capital da Frígia, na Turquia. Mas vejamos a passagem que me chamou atenção. É o Imperador Juliano conduzindo a narrativa:


"E chegando em Pessinus fui diretamente para o Templo de Cibele, ao pé da acrópole da cidade. O templo é muito antigo e imponente, mas dilapidado. É um lugar sagrado desde que a estátua da deusa caiu do céu. Isso aconteceu quando deu à luz seu filho, o lendário rei Midas, que construiu o primeiro santuário em honra da mãe". Mas vamos à narrativa da história, para depois ver a versão de Juliano. A história eu a tomo da Wikipedia mesmo.

"Midas era um rei que vivia em abundância em seu castelo, junto com a sua amada filha. Embora possuísse muitas riquezas, Midas sempre desejava aumentar suas posses. Era tão aficionado pelo seu ouro, que um de seus passatempos favoritos era contar moedas de ouro.

Certa vez Baco (ou Dionísio, deus do vinho) deu por falta de seu mestre e pai de criação, Sileno, enquanto realizavam um passeio. O velho andara bebendo e, tendo perdido o caminho, foi encontrado por alguns camponeses que o levam ao seu rei, Midas. Midas reconheceu-o, tratou-o com hospitalidade, conservando-o em sua companhia durante dez dias, no meio de grande alegria. No 13º dia, levou Sileno de volta e entregou-o são e salvo a seu pupilo. Baco ofereceu, então, a Midas o direito de escolher a recompensa que desejasse, qualquer que fosse ela. Midas pediu que 'tudo que tocasse virasse ouro'. Baco consentiu, embora pesaroso por não ter feito uma escolha melhor.

Midas seguiu caminho, jubiloso com o poder recém adquirido, que se apressou a por em prova. Mal acreditou nos próprios olhos quando viu um raminho que arrancara de um carvalho transformar-se em ouro em sua mão. Segurou uma pedra; ela mudou-se em ouro. Pegou um torrão de terra; virou ouro. Colheu um fruto da macieira; ter-se-ia dito que fartura do jardim das Hespérides.

Sua alegria não conheceu limite e, logo que chegou em casa, ordenou aos criados que servissem um magnífico repasto. Então verificou, horrorizado, que, se tocava o pão, este enrijecia em suas mãos; se levava comida à boca, seus dentes não conseguiam mastigá-la. Tomou um cálice de vinho, mas a bebida desce-lhe pela boca como ouro derretido, sua filha tocou nele e se transformou em ouro.

Consternado com essa aflição sem precedentes, Midas lutou para livrar-se daquele poder: detestava o dom. Tudo em vão, porém; a morte por inanição parecia aguardá-lo. Ergueu os braços, reluzentes de ouro, numa prece a Baco, implorando que o livrasse daquela destruição fulgurante. Baco, divindade benévola, ouviu e consentiu. 'A água corrente desfaz o toque', disse-lhe Baco, 'mergulhas o que tocastes num rio e os objetos em que tocaste voltarão a ser o que eram'. Midas correu a cumprir o que dissera o deus do vinho e, com a água do rio Pactolo, que correu num jarro, foi banhando todos os objetos em que tocara, restituindo-lhes a natureza primitiva, a começar pela própria filha, que ele, então, pode abraçar sem perigo de torná-la de ouro. Dizem que Midas, ao se abaixar para colher a água na margem do rio, tocou na areia com as mãos e que, por isso, ainda hoje, o rio Pactolo corre por sobre um leito de areias douradas.

Voltamos a Juliano. Ele continua a sua narrativa: "O mito de que tudo o que Midas tocava transformava-se em ouro, embora simbolicamente fascinante - e sem dúvida admonitório! - provavelmente é baseado no fato de a região de Pessinus ser rica em ferro. Midas foi um dos primeiros a fabricar e vender armas de ferro, o que o tornou fabulosamente rico. Na verdade, tudo o que ele tocava se transformou em metal, mas o metal era ferro. Ao lado da acrópole, perto do túmulo de Midas, vi com meus próprios olhos a primeira oficina de fundição do mundo, presente da mãe ao rei Midas". Página 325.
Neste livro, a bela passagem sobre o rei Midas.



Ao acaso, e na primeira consulta ao google, sobre a indústria bélica, encontrei, na Revista Brasil, os seguintes dados. Ricos, poderosos, sem limites. O trilionário negócio das armas
Num mundo de 840 milhões de famintos, as despesas militares dos países superam US$ 1,7 trilhão em três anos, o equivalente a US$ 260 dólares por habitante do planeta. E neste mundo, Baco, o deus da generosidade está sepultado há muito tempo. É impressionante a força do poder simbólico.

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