sexta-feira, 3 de agosto de 2018

A Pátria educadora em colapso. Renato Janine Ribeiro.

O livro de Renato Janine Ribeiro, A Pátria Educadora em colapso, tem um sub título interessante e revelador: Reflexões de um ex-ministro sobre a derrocada de Dilma Rousseff e o futuro da educação no Brasil. Convenhamos, o termo derrocada diz muita coisa. É um termo forte. O livro revela os bastidores de um governo, já usando o termo da capa, em derrocada.  Revela muito sobre a maneira pessoal de ser da ex presidente. Foi realmente um governo em derrocada? O que fica mais do que evidente é a dificuldade que ela teve em estabelecer relações de ordem política.
Bastidores de uma experiência e elementos para a definição de políticas educacionais.

O livro se divide em duas partes. Na primeira, Janine Ribeiro revela a sua experiência de seis meses na direção deste importante ministério. O convite, a nomeação e a sua exoneração pela página do UOL, bem antes de ser comunicado pessoalmente. A exoneração se deu, junto a uma nova reforma ministerial, dentro do critério de loteamento de cargos, numa última tentativa de salvar o mandato da presidente. Não se tratou do loteamento do MEC, mas da abertura de uma vaga para que Aloísio Mercadante voltasse a assumi-lo. A sua permanência na Casa Civil se tornara impossível. Isso e muitos outros fatos são narrados ao longo de 220 páginas, de um total de 351.
A segunda parte é dedicada a visão que autor tem sobre a educação e a perspectiva de, para ela, definir políticas públicas. Nela define prioridades e alinha prioridades, com total ênfase na criança e na alfabetização na idade correta. Esta deve ser feita ao longo dos três primeiros anos do ensino fundamental, com muito acompanhamento. Também apresenta um belo projeto para o ensino médio e para o ensino técnico profissional, além de algumas propostas para a reforma do ensino superior.

Renato Janine Ribeiro é um professor de filosofia, com especialidade no campo da ética. Trata-se de um professor muito respeitado. Tanto assim, que a sua nomeação foi muito bem recebida, e conferiu grande credibilidade ao Ministério. Além de professor na USP, Janine Ribeiro não é um neófito em cargos administrativos. Antes já fora diretor de avaliação da CAPES. É óbvio que seis meses no exercício do cargo, meses conturbados politicamente e marcados pela crescente insuficiência de recursos, não permitem fazer uma avaliação do que efetivamente poderia ser o seu trabalho na direção de tão importante ministério. Tivesse ele oito anos de mandato, como teve certo ministro de FHC, e a história e os resultados seriam outros.

O livro, creio eu, tem três grandes méritos: revelar os bastidores da trama que retirou Dilma do poder e alinhavar o perfil dos principais estrategistas desta trama; traçar o perfil de Dilma Rousseff, a sua imagem gerencial e a pouca habilidade na condução política  e revelar inúmeros  projetos que ele tinha em mente para definir e implementar políticas educacionais. Este terceiro mérito ocupa toda a segunda parte do livro. Vejamos uma de suas visões de Brasil, realidade a ser transformada pela educação: "O Brasil não é um fracasso na inclusão social; O Brasil tem quinhentos anos de sucesso na exclusão social". Por isso, o fundamento de todo o seu pensamento é oferecer oportunidades, através de políticas públicas, que conduzam à igualdade. Alguns títulos desta segunda parte nos mostram suas grandes preocupações: A prioridade zero: as crianças; A prioridade número 1: a alfabetização na idade certa; A prioridade número 2: o ensino médio e o técnico.

Como uma pequena amostra do teor de seu livro, destaco os três parágrafos finais de sua apresentação: "Ficarei feliz se conseguir emplacar alguns pontos: Antes de tudo, se convencer meus leitores de que há duas perguntas vitais para toda medida que se queira adotar na educação. A primeira é: a medida em questão contribui para melhorar o aprendizado? O foco deve estar sempre no aluno; ele vai aprender melhor? Não interessa se eu, tu, ele acreditarmos que é importante o aluno saber tais ou quais coisas. Se não fizerem sentido para a criança ou o adolescente, não valem a pena. Ponto.

A outra pergunta é tão decisiva quanto a anterior (ou mais): a medida em questão reduz a desigualdade? Nosso país tem a pior desigualdade que existe - a de oportunidades. defender que todos tenham as mesmas oportunidades é a essência do verdadeiro liberalismo. Mas no Brasil muita gente ainda teme a igualdade de oportunidades. Os privilegiados talvez tenham medo de perder suas posições, se enfrentarem uma real e leal concorrência. Pois bem, esta é a questão decisiva para mudar o Brasil: perguntar, cada vez que uma medida é proposta, se ela reduz a desigualdade, melhora a produção e a distribuição de renda.

Finalmente, também ficarei feliz se entendermos por que o aprendizado, fonte inesgotável de prazer e alegria para as crianças pequenas, vai se tornando um fardo para elas, a partir do momento que entram na escola. Precisamos tornar o conhecimento uma alegria para as pessoas ao longo da vida. Alcançar isso será decisivo para promover uma revolução não apenas educacional-, mas educativa, ou seja, motivada pelo interesse em formar as pessoas para a vida". Em suma, um livro com definições para uma política educacional ou educativa. Vale muito a pena ler e debater.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário. Depois de moderado ele será liberado.