sábado, 9 de janeiro de 2021

O Sol também se levanta. Ernest Hemingway.

Mais uma leitura sem uma grande definição de escolha. Sem livros novos para a leitura, recorro a minha estante. Ainda sobram alguns volumes da coleção "Os Imortais da Literatura Universal". Entre eles puxei O Sol também se levanta. É óbvio que foi pelo autor. Ernest Hemingway teve a mais forte influência. O livro é de sua primeira fase, a fase que ele passou em Paris. Os livros de Hemingway se confundem com a vida do autor, ou seja, são totalmente autobiográficos.

O Sol também se levanta (1924). Tradução de Berenice Xavier.

Para melhor situar o livro vamos a uma contextualização do autor e da obra. Ele nasce em Illionois em 1899, vindo a morrer em Idaho, em 1961. A sua morte foi por suicídio, o mesmo fator de morte, que já fora o de seu pai. Sua vida sempre foi extremamente agitada, vivendo grande parte dela na Europa, uma Europa agitada por guerras e, entre elas, a ascensão dos regimes fascistas, como a do ditador Franco, da Espanha. Essa ascensão do fascismo espanhol o envolveu profundamente, sendo tema de um  de seus grandes livros, Por quem os sinos dobram. Foi voz forte no seu combate e também não faltou a sua ajuda financeira.

A profissão de Hemingway sempre foi o jornalismo. Depois migrou para a literatura. No livro de biografias que acompanha a coleção encontramos alguns dados valiosos da sua maneira de viver e de se defrontar com o mundo. Isso mesmo, se "defrontar" com o mundo. Como viver num mundo desses? Depois de uma participação na Primeira Guerra Mundial ele viverá nos Estados Unidos a situação que levará o país à sua grande debacle econômica, com a quebra da Bolsa de Valores em 1929. Antes porém, ele já se mandara para a Europa, onde integrará o famoso grupo de escritores da chamada "geração perdida", dos anos 1920, comandada por Gertrud Stein. Em Paris, onde chega em 1921, divide o tempo entre a observação dos acontecimentos que relata para a imprensa dos Estados Unidos, a escrita de romances e a beber com os amigos.

Por influência de Gertrud Stein abandona o jornalismo para se dedicar integralmente à literatura. Já em seu primeiro livro Nosso Tempo estão presentes os temas que o acompanharão por toda a sua vida de escritor: os horrores da guerra, a hipocrisia da classe média americana, a coragem dos toureiros... Vamos acompanhar o livro biográfico: "Para se documentar sobre touradas, havia viajado à Espanha, onde entrevistou espectadores, críticos e toureiros. Voltaria outras vezes a esse país, onde assistiu a dezenas de touradas a que se refere em O Sol também se levanta, ou em À tarde". O primeiro livro data de 1924 e o segundo de 1932. O livro de biografias segue na indicação da paixão por este tema: "A luta entre o homem e o animal, afirma, é uma ressurreição do paganismo, um espetáculo mágico que demonstra a naturalidade dos espanhóis em face da morte. Eles 'sabem que a morte é a realidade inevitável... a única certeza que está além de todos os confrontos modernos'".

Sobre o livro especificamente lemos o seguinte: "Os acontecimentos que originaram O Sol também se levanta tiveram lugar na Espanha, no verão de 1924. Hemingway viajara para Pamplona, afim de participar da fiesta, ao acontecimento tradicional que consiste de uma semana de danças, procissões, missas e touradas. A principal atração é soltar os touros pelas ruas para que os populares assumam o papel de toureiros improvisados. Durante a fiesta de 1924, um amigo de Hemingway saiu ferido e o escritor, indo salvá-lo, foi arremessado à distância, com ferimentos generalizados. Só não morreu porque os chifres estavam envoltos em panos que suavizaram o choque. A partir desse fato escreveu o romance, que tem como personagens alguns americanos 'exilados' em Paris que se dirigem a Pamplona em busca de fortes emoções".

A partir daí, segue o que no meu entendimento é o motivos da escrita do livro: "Mas nada consegue tirá-los do vazio interior". E continua: " Ao terminar a fiesta, as personagens se separam, voltando cada qual ao seu marasmo. Barnes (Jake), narrador do livro, e sua amada Brett ( Lady Ashley), permanecem juntos, lamentando a infelicidade da guerra que incapacitara o rapaz para o amor. A reação do público e da crítica deixou-o aborrecido. Ao contrário do que julgavam, Hemingway, não queria fazer a apologia da 'geração perdida'. Sua ambição visava ao problema vital de saber como a perspectiva da morte sem transformar a vida num inferno". Haja bebida! Quanto ao tema das touradas, fico com a declaração de um garçom de Pamplona: "Gravemente ferido por diversão". "morto por pura diversão".

Outros temas da predileção do autor aparecem também no livro, como a paixão pelo box. Cohn (que triste personagem!) quase nocauteia um toureiro (Pedro Romero) pelo seu envolvimento com Brett, sua paixão não correspondida. Aparece também a pesca. Antes da fiesta os personagens se envolvem numa pescaria de trutas. Daí envereda para as touradas, com uma rica descrição de toda esta consagrada festa mundial. Acompanhei bem a viagem de Paris para Bayonne e as passagens por Biarritz e San Sebastian. Só não acompanhei as bebidas que esse grupo tomou, É inimaginável que alguém consiga beber tanto, quanto essa turma bebeu: vinho, cerveja, absinto, conhaque, whisky e... no dia seguinte sempre dispostos a novas aventuras, bebedeiras e vazios depressivos. Para quem não gosta desses temas, fica a beleza da descrição da festa, da paisagem e o tema das conversas. Quando estive em Havana aproveitei a companhia de Hemingway para com ele tomar um mojito, no Floridita, restaurante bar, que ele tornou famoso. Eu provo.

No Floridita - em Havana - tomando um mojito com o famoso e notável escritor.


 


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