quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O Brasil de 1964 estaria se repetindo? 2.

A revista Carta Capital, em sua edição de 12 de dezembro de 2012, traz como matéria de capa  uma reportagem sobre a velha cara da nova direita - do Instituto Millenium aos jovens reacionários, o Brasil volta ao passado. A reportagem tem dois focos: uma no Instituto Millenium e a outra nos jovens reacionários, anunciados no subtítulo da reportagem. Neste primeiro texto vamos focar o Instituto.
A revista com a sua reportagem de capa. Ano XVIII, nº 727, de 12 de dezembro de 2012.

Creio que aqueles que viram mais de perto o golpe de 1.964 devem estar lembrados do IBAD (Instituto Brasileiro de Ação democrática) e do IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais). Eu particularmente me lembro, - eu estudava no seminário em Gravataí - RS., que circulava livremente entre nós, apesar de todos os controles exercidos pelos padres sobre as nossas leituras, a revista Ação Democrática, do IBAD. As assinaturas eram gratuitas. O IBAD foi organizado e mantido por anticomunistas com financiamentos da CIA. e teve papel orgânico com o movimento golpista de 1964.

O IBAD não sobreviveu às investigações de corrupção - por uma CPI.- e foi fechado pelo governo em 1963. Porém o IPES., sob o comando do General Golbery do Couto e Silva, sobreviveu, chegando a reunir ao seu redor, mais de trezentos colaboradores, geralmente empresários ligados ao golpe. Durante a ditadura foram eles que produziram os materiais ufanistas que visavam respaldar a ditadura. Foi fechado em 1972, pelo próprio regime golpista.

A revista publica matéria sobre o Instituto Millenium e o compara a estas instituições do nosso passado conservador. O grupo, creio que o poderíamos considerar como a Mont Pèlerin Society brasileira, começou a se estruturar em 2005, ganhando porém, maior notoriedade a partir de 2009, com o título de  OSCIP. (Organização Social de Interesse Público), que lhe foi conferido pelo Ministério da Justiça. A matéria da Carta Capital foca especialmente o encontro realizado em primeiro de março de 2010, em São Paulo e o seu site na Internet.

Os seus fundamentos são os ligados ao conservadorismo de sempre: liberdade dos mercados, livre iniciativa, contra as intervenções do Estado,  liberdade de imprensa. Como não existe ideologia sem inimigos bem visíveis, estes foram encontrados no comunismo soviético, em Cuba e em Fidel, no passado e, hoje reinventados nos movimentos latino americanos de Chávez, Evo Morales e Rafael Caldeira e no discurso "tosco", segundo a Carta Capital, de criminalização dos movimentos sociais, das políticas sociais do governo e de todos os movimentos de esquerda, em geral.

Seus membros fundadores e apoiadores cresceram - os mais antigos - à sombra da ditadura militar, sendo que os mais novos são aqueles que sustentam o seu discurso, diariamente, na mídia, afirma a reportagem. Muitos deles são figuras bem conhecidas, pois atuam nas empresas de comunicação que sustentam o Instituto. Os mantenedores líder são destacados como a Editora Abril, a Statoil (uma petroleira norueguesa), a Gerdau e a Localiza. Suas molas propulsoras são o grupo Abril, o Estadão e a RBS..

Entre os mais conhecidos de seus participantes, a revista destaca os seus especialistas e os qualifica: "Giambiagi, o argentino das contas públicas; Lamounier, o figurino dos anos 1960 no século XXI, e Villa, o 'intelectual' preferido da mídia". Entre os economistas, também com suas qualificações, figuram: "Franco - o poeta das finanças e Fraga - dinheiro privado, vícios públicos", Também existe a lista dos comediantes, também devidamente qualificados: "Madureira, o principal jornalista da turma; Mainardi - sua covardia o levou a se esconder em Veneza e Azevedo - hilário"). Outros nomes conhecidos aparecem na reportagem: Arnaldo Jabor, José Nêumanne Pinto, Roberto da Matta, Rodrigo Constantino (do livro Privatize já) e outros menos conhecidos. No site aparecem nomes como os de Dênis Rozenfield e Demétrio Magnolli, entre outros.

Na sua Câmara de fundadores e curadores (22 integrantes) a reportagem indica a presença do ex presidente do Banco Central, Gustavo Franco e a do jornalista Pedro Bial. Deste, procurei no Google sobre a sua formação - para além do jornalismo, - mas encontrei apenas referências relativas a formação de paredão. Quanta utilidade social! Eu sempre imaginei que, para o perfeito equilíbrio da pessoa, deveria haver uma sincronia na escolha da profissão, com a sua utilidade social.

Em sua parte catequética, selecionam jovens jornalistas para estudos no exterior, fornecendo bolsas para especializações e mestrados. Esta seleção, aponta a reportagem, é feita por um de seus agregados, o Instituto Ling. Em seu primeiro ano, os agraciados foram cinco: um da revista Época (Globo), um da Veja, um do Estadão, um da Folha e um da Zero Hora. No segundo ano os agraciados estavam assim distribuídos: dois da Época, um do Estadão, dois da Folha, um da Zero Hora e um da revista Galileu (Globo). Em 2012 foram acrescentados, aos órgãos já tradicionais, mais um da rádio CBN e outro da revista Capital Aberto.

O Instituto movimenta anualmente em torno de um milhão de reais. Ah, sim! O Millenium é uma  instituição de brancos, nenhum negro a integra, afirma a reportagem.






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