sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O Brasil de 1964 estaria se repetindo? 3.

Na segunda reportagem da Carta Capital, sobre a velha cara da nova direita, o foco está centrado nos jovens e nos meios de difusão das sementes reacionárias. Redes sociais, livros e até a criação de partidos políticos fazem parte de suas ofensivas. A reportagem tem por título: As sementes reacionárias - Redes sociais, livros e até partidos: não há limites para os jovens conservadores.
Carta Capital, edição de 12 de dezembro de 2012. Ano XVIII,  nº 727. As sementes reacionárias.

A primeira parte da reportagem é dedicada à jovem gaúcha Cibele Baginski, de Caxias do Sul, que quer refundar a ARENA, o partido que sustentou a ditadura militar. Ela é estudante de direito e prega a redução do Estado e a "abolição de quaisquer sistemas de cotas" ou "condições especiais", para favorecer os indivíduos. Com a refundação da ARENA, se diz pronta para atender  aos anseios de "muitas pessoas que estavam sem voz, como eu" e pretende empreender a "luta contra a comunização do Brasil" e crê que "ao permitir a divergência de opinião, a ARENA vá trazer um novo horizonte para a democracia no país". Creio que com essas afirmações, especialmente a relativa a democracia, já haveria motivo suficiente para internar essa menina num centro de estudos de lógica e de coerência mínima,. Mas, conhecendo a sua situação por inteiro, as coisas se complicam ainda mais. Não é que a menina é bolsista do ProUni. Ela está fazendo o curso de direito que, segundo o seu modo de pensar, representa uma abominável ação do Estado, em sua vida e que, sem a qual, ela certamente não estaria  cursando a universidade.

A reportagem continua a se ocupar com a fundação de novos partidos. Todos eles são encabeçados por jovens entre 20 e 30 anos e que não estão satisfeitos com o conservadorismo do DEM, do PSDB e similares. São eles o Federalista, o Libertários e o Partido Novo. Todos pretendem tirar o peso do Estado de suas vidas. Do Partido Novo é o lema da gestão eficiente, tão a gosto dos governantes paranaenses, apenas o slogan, obviamente.

A matéria avança sobre as novas instituições que estão surgindo, até entre estudantes de ciências sociais da USP., como a UCC. (União Conservadora Cristã), que chegou a disputar a eleição do Diretório Central dos estudantes daquela instituição. Também os partidos convencionais como o DEM, o PSDB e PSD, tem as suas alas jovens. Mas, quem mais cresce, diz a reportagem, são os movimentos extremistas. Eu particularmente joguei no Google o termo "Cons" e apareceu o Conservadores do Brasil. Nele vi velhas figuras da direita como Reinaldo Azevedo e Olavo de Carvalho, este um dos preferidos da elite curitibana. O destilar... é de arrepiar. 

A pesquisadora Márcia Carneiro, com tese de doutoramento sobre o integralismo brasileiro, vê nestes jovens uma volta dos camisas verdes e no uso da mídia um forte meio de agregação. "Ser de direita", afirma ela, "passou a ser atrativo ao jovem no momento em que a divulgação de tais mensagens nas redes sociais ganhou aspectos modernos" e continua: "Estar incluído em um grupo que acolha suas raivas, recalques e intolerâncias faz-lhes sentir confortáveis em um mundo que a abertura de oportunidades fere as suas arrogâncias" e em que os filhos de uma "velha classe média que se recusa a compartilhar os ganhos econômicos e sociais com a nova classe média". Encontram nestas redes sociais a satisfação para os seus egos. Recentemente eu ouvi alguém dizer: "Ali eu leio aquilo, com o que eu realmente concordo". Isto basta. Certamente você já ouviu falar (mal) da nova condição das empregadas domésticas, que até vem trabalhar de carro. Imaginem só! Esta é apenas uma das manifestações, das mais corriqueiras, desse novo conservadorismo.

Já ao final, a matéria avança para os livros. Entre eles fazem sucesso os dois Guias do politicamente incorreto: um sobre a história do Brasil e outro sobra a América Latina de Leandro Narloch, que a revista considera como deliriografia - sucessos em país ignorante. E não se fala aqui dos iletrados das periferias brasileiras. Outro livro de sucesso é o Privatize já, do economista Rodrigo Constantino, que pretende ser uma resposta ao A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr. Também já existe um livro sobre o Mensalão do Marco Antonio Villa.

Em suma, a reportagem mostra os jovens com a cara da velha direita. De fato aparecem muitas caras velhas como ideólogos dessa juventude. Plínio Salgado e Plínio Correia de Oliveira são as caras mais velhas que reconfiguram a cara dos jovens conservadores. Os retoques finais, os agiornamentos, são dados por pessoas, como os citados nestes dois posts sobre a matéria da Carta Capital. 

Samantha Quadrat, historiadora da UFF. atribui este renascer da nova onda conservadora, entre outras causas, ao fato de os torturadores terem sido anistiados neste país. Isso lhes abre a possibilidade de, sem constrangimento e sem temores, externarem as suas ideias, cujas consequências abomináveis a história já nos mostrou.

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