segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Antônio Prado. A mais italiana das cidades do Brasil

Dois motivos moveram a minha curiosidade sobre a cidade de Antônio Prado. Uma foi o cenário do filme O Quatrilho, que usou as casas italianas da cidade em suas filmagens e a outra, era a placa na estrada, na BR 116, depois de Vacaria, no sentido Porto Alegre, que indicava na direção da cidade. Como, ao menos anualmente passava pelo local, imaginava poder encurtar caminho. É o que eu faço agora, quando vou ao Rio Grande do Sul. Tomo a RS-122 e já saio em Flores da Cunha, Caxias do Sul e Farroupilha, no rumo das planícies do vale do rio Caí, onde moram meus familiares e onde vou me reencontrar com os meus tempos de infância.
A mais italiana das cidades do Brasil. Até as boas vindas são um Benvenuti.

Para quem quiser localizar a cidade de Antônio Prado, já está dada a dica. Para quem vem de Vacaria, pela BR 116, é só ficar atento para a saída da RS 122, que chegará até Antônio Prado. Para quem vem de Porto Alegre, é seguir até Caxias e observar a saída para Flores da Cunha, que também logo, logo chegará à cidade. Mas o que esta cidade tem de especial? Uma única resposta, já justifica uma visita. O lema da cidade, que é: A mais italiana das cidades do Brasil.

Antônio Prado se situa na região nordeste do Rio Grande do Sul, na Serra Gaúcha, numa altitude de 658 metros. A sua história está totalmente vinculada a imigração italiana, tendo sido o sexto e último polo desta imigração, como política oficial do Segundo Reinado. Antônio da Silva Prado era o ministro da agricultura nesta época e é por isso que a cidade o homenageou. As suas origens remontam a 1886, mas a fundação irá ocorrer em 1899. A região é quase integralmente povoada por colonos italianos, originários da região do Vêneto, com o seu característico dialeto. A capital do Vêneto, no nordeste da Itália, é Veneza, sendo que Pádua e Verona são as outras cidades mais importantes.
Italianos do Vêneto e católicos. Duas marcas na colonização de Antônio Prado. A igreja matriz.

As matas da região eram tidas como impenetráveis, sendo habitadas pelos índios caigangues. Os primeiros exploradores chegam dos campos de Vacaria, por volta do ano de 1886, quando ali se estabeleceu um paulista de nome Simão David de Oliveira, que emprestou o seu nome aos caminhos abertos na região, o Passo do Simão.Como fez parte de um projeto oficial, dinheiro público foi ali investido para minimamente possibilitar o início da colonização. Assim foram abertas estradas, construídas balsas e os primeiros barracões para alojar os colonos. O isolamento da região a poupou dos conflitos políticos do Rio Grande do Sul, como a Revolução Federalista, que tanto ensanguentou as plagas gaúchas.
Uma das mais típicas casas italianas, tombada pelo IPHAM. Ao todo são 48 casas tombadas.

Com muitas dificuldades os colonos vão se dedicando às atividades do campo, dedicando-se à agricultura, com o cultivo da videira, do milho, do feijão e da cebola, à pecuária, com a produção de bovinos, suínos e da avicultura. A estrutura fundiária é a da pequena propriedade familiar. A indústria obedeceu ao princípio da transformação, com destaque para a indústria moageira, vinícola e moveleira. A sua população, de acordo com o censo do IBGE, de 2010 é 12.833 habitantes, que tem uma renda per capita de R$ 22.023,00.

Mas o maior patrimônio do município é hoje a sua história e a sua memória. Os seus casarões, tanto em madeira, quanto em alvenaria foram religiosamente preservados e a cidade ostenta o título de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Tem inúmeros prédios tombados pelo IPHAN. O folheto de propaganda institucional do município diz o seguinte: "Com aproximadamente 14.000 habitantes, Antônio Prado é uma cidade que encanta a todos que por ela passam, onde, os dias são sempre italianos. Dentre as várias casas existentes, de bela e particular arquitetura, quarenta e oito (48) são tombadas pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. É o maior acervo arquitetônico em área urbana referente à imigração italiana no Brasil, sendo considerado importante para a preservação da cultura e da identidade nacional".
No centro de informações turísticas da cidade. Um tratamento com muito gentileza.

As principais atrações turísticas da cidade são a própria cidade, com o seu centro histórico, a igreja matriz e os seus sinos, a casa de artesanatos, o centro cultural padre Schio, onde se localiza o museu municipal, a casa dona Zilba, casa da família Zilba Grazziotin, aberta à visitação, as escadarias da fé, o moinho Francescatto, a ferraria  dos Marsílio, o santuário da Madona de Monte Bérico, entre outras tantas, com destaque para a bela paisagem natural da serra Gaúcha. Também são promovidos festivais com a típica gastronomia italiana.
Até a cidade do cinema de Roma está presente na cidade.

Satisfiz a minha curiosidade. A visita valeu a pena. Quanto ao filme O Quatrilho, de Fábio Barreto o folheto de turismo institucional assim estabelece a relação entre a cidade e o filme, ao dizer que é uma cidade de cinema. "Antônio Prado possui um patrimônio tombado constituído por casas de madeira e alvenaria que foram construídas no final do século XIX e no início do século XX pelos imigrantes italianos. Em virtude da manutenção e preservação desse patrimônio, em 1995, Antônio Prado emprestou sua imagem de centro histórico, sendo cenário para as gravações do filme O Quatrilho de Fábio Barreto, uma adaptação da obra de José Clemente Pozenato.
Mais uma das paisagens do típico casario italiano da cidade.

Ainda tenho a dizer que o filme de Fábio Barreto data de 1995, é estrelado por Patrícia Pillar e Glória Pires e que recebeu a indicação para o Oscar de melhor filme estrangeiro. A história é do início do século XX e conta-se ser uma história real. O quatrilho é uma referência a um jogo de cartas, em que a cada rodada existe a troca de parceiros. No filme, dois casais dividem casa para sobreviverem e as paixões originárias de invertem. É um filme belíssimo. Personagens anarquistas sempre me agradam muito.  

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