quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

O Lobo de Wall Street.

Foi só ver o primeiro filme da temporada dos indicados ao Oscar e já tenho o meu preferido, para a indicação de melhor filme. Trata-se de Wall Street, do diretor Martin Scorcese e tendo como ator no principal papel, Leonardo Di Caprio. São três horas de humor, de sátira e de ironia. Eu ia dizer, de humor e ironia inteligente, mas me contive, porque sem inteligência não faz nem humor, nem sátira.
O Lobo de Wall Street
Cartaz de O Lobo de Wall Street. Leonardo Di Caprio.

Wall Street é economia americana. É Bolsa de Valores. Já tinha visto o filme anterior sobre Wall Street, o dinheiro nunca dorme, de Oliver Stone e interpretado por Michael Douglas, que tem cena de suicídio e o uso extraordinário do quadro de Goya, de Cronos, numa imagem magnífica de Poder e tempo. Este Lobo de Wall Street é totalmente diferente. Não mostra a tensão da Bolsa de Valores. Mostra como as pessoas são enganadas ao comprarem ações. O desejo de ganhar dinheiro fácil, se tornar famoso e obter sucesso permeia todo o filme.

O filme é uma pesada crítica a toda a cultura americana, a todo o sistema capitalista e especialmente ao momento atual deste sistema, em seu estágio de capitalismo improdutivo, financeiro e parasitário e, poderíamos ainda dizer, virtual. Jordan Belfort, o protagonista do filme, num certo momento diz aos seus corretores que o único dinheiro real que circula na Bolsa é o dinheiro das comissões, que em alguns casos, chegam a 50%.  Outra lição importante de Jordan Belfort é a de que na Bolsa não existem amigos. Só assim você mantem a coragem de continuar fazendo o que você faz.

O Lobo de Wall Street (Foto: Divulgação)Cena do filme 'O Lobo de Wall Street' (Foto: Divulgação)


O O O O Oritmo das três horas do filme é avassalador. Inicia mostrando a Bolsa de Valores e as aulas sobre ela e o seu jogo, dadas pelo corretor professor, para Jordan Belfort. Quando este inicia os seus trabalhos como corretor, a Bolsa tem um momento de crise e o experto Jordan redireciona então os seus negócios para ações de pequenas empresas e de alto risco, vendidas para investidores incautos, porém crédulos, que são vítimas de corretores bem treinados. Acima de tudo são vítimas de sua desmedida ambição.

Cenas que me avivaram a memória são as que mostram o treino dos corretores na habilidade de vender. Me lembrei de muitas palestras em universidades, em que picaretas exímios se travestiam de motivadores e que, mediante boa remuneração, entregavam, de bandeja, todos os segredos do mundo do empreendedorismo, da liderança, do sucesso, da prosperidade e da felicidade, em um momento mágico. Alguns até eram apresentados como verdadeiros filósofos. Filósofos pregadores dos templos  e dos tempos neoliberais. Um vazio intelectual naquilo que deveria ser o templo do saber.

Jordan Belfort levava uma vida simples de vendedor. Era alimentado pelo desejo de enriquecer. Em vez de mercadorias passou a vender papéis. Nem sempre os compradores ganhavam. Escrúpulos e remorsos da consciência foram superados pelas alegrias dos ganhos fáceis. Sarcasticamente prega aos seus corretores que eles tem duas opções em suas vidas: Ou se tornam bons corretores ou então contentem-se com seus salários e empregos no Mc Donald's, com as suas compras efetuadas em lojas de departamentos e com os seus carros populares. São bofetadas violentas no sistema, que mal e mal permite esta segunda inserção na sociedade.
O que fazer com tanto dinheiro? Como transportá-lo?

O ritmo alucinante do filme e da vida de Jordan praticamente não permitem questionamentos de ordem moral. É negócio em cima de negócio e é trapaça em cima de trapaça. No mais é festa em cima de festa e festas com muita mulher e com todos os símbolos fluidos deste sistema, como iates, corrupção e contas bancárias na Suíça. As relações sólidas como o casamento, logo se desmancham. É um filme sem pudores, um filme do qual estão ausentes todos os princípios da moral. A felicidade, aparentemente é total. Alguns probleminhas acontecem, como casamento e filhos. O que existe em excesso são os remédios para aliviar. Cocaína e drogas sintéticas, usadas em todas as circunstâncias e quantidades ilimitadas, no limite do humano.

Para todos aqueles que imaginam que a corrupção é algo limitado ao mundo da política e dos políticos, encontram neste filme uma aula maravilhosa de como este sistema, o do capitalismo em seu estágio financeiro e parasitário, funciona. É ele todo um sistema amoral, totalmente destituído de princípios e valores ou então, e melhor, tudo passa a ser subordinado ao valor do dinheiro, inclusive os valores da política e da justiça e acima de tudo, da ética. 

Nunca tive aula de cinema e por isso pouco entendo da parte técnica. Mas a crítica recebeu muito bem este filme. Uma aula de cinema, vi em um comentário. Particularmente me impressionou a velocidade e a vitalidade do filme. Você não percebe o tempo passar. Tive curiosidade de ver a idade de Scorcese. 71 anos. É a experiência e a vitalidade de um velho mestre, que continua jovem, para ainda, muitas e maravilhosas lições Outra parte elogiadíssima pela crítica é trilha sonora. Ela é simplesmente fantástica, lindamente percebida.

O filme tem cinco indicações ao Oscar. Indicações substanciosas. Melhor filme. Melhor diretor (Martin Scorcese). Melhor ator (Leonardo Di Caprio). Melhor ator coadjuvante (Jonah Hill) e melhor roteiro adaptado ( Terence Winter). O original é a autobiografia de Jordan Belfort. Vale a pena conferir este livro, pela crítica à cultura americana, crítica esta, que talvez o prive do OSCAR de melhor filme. A minha torcida vai toda para ele, embora isso signifique muito pouco.

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