quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

SELMA. Uma luta pela igualdade.

Mais um filme extraordinário. Selma - uma luta pela igualdade, É um filme político e altamente politizador. Mostra um belo retrato das lutas do povo negro dos Estados Unidos, nos anos 1960 e, sem as quais, seria absolutamente impossível que esse país tivesse hoje um presidente negro. O filme tem foco num determinado momento da luta de Martin Luther King, o do direito ao voto, a partir da organização do povo de uma pequena cidade do Alabama, a cidade de Selma, com uma população em torno de 20.000 habitantes, no ano de 1965.
SELMA, um memorável filme político e altamente politizador. E a cidade de Selma!


Martin Luther King já era um homem famoso. Em agosto de 1963 organizara a marcha para Washington, onde pronunciara o seu famoso discurso do I have a dream, da qual resultou a Lei do fim da segregação racial e em 1964 fora agraciado com o laurel do Prêmio Nobel da Paz. O líder já era recebido em audiência pelo presidente da República, Lyndon Johnson.

O episódio sobre o qual o filme tem o seu foco é a luta pelo direito de voto, na cidade de Selma. Nesta cidade foram organizadas, no mês de março de 1965, três marchas, num curto intervalo de tempo. O Estado de Alabama era governado por um racista famoso, George Wallace. As marchas seguiriam de Selma para Montgomery, a capital do estado.
A famosa ponte Edmund Pettus, sobre o rio Alabama. A sua travessia - um profundo significado!

A primeira marcha reuniu em torno de 600 pessoas, no dia 7 de março. A sua marcha foi detida, já na ponte da cidade, sobre o rio Alabama, com extrema violência. Foi usado gás lacrimogênio, cassetetes e tiros. O manifestantes em pânico fugiram desesperados. Luther King chega à cidade e faz uma convocação para todo o povo americano, especialmente para as autoridades e lideranças religiosas. Em dois dias, muita gente chega à cidade. No dia 9, portanto, dois dias após a primeira marcha, se inicia a segunda. A polícia permite a passagem, mas misteriosamente, ou misticamente, o ativista recolhe os manifestantes ao interior de uma igreja.
A cena do filme, da travessia da ponte Edmund Pettus. O caminho para Montgomery estava aberto, e..., para muito mais.

A terceira marcha, que será a triunfante, sai de Selma no dia 16 de março e chega a Montgomery e ao seu centro de poder nos dias 25 e 26 do mesmo mês de março. King havia travado duras negociações com o presidente Johnson que, finalmente, assume o problema e, por legislação nacional, estabelece o direito de voto ao povo negro dos Estados Unidos. Esses fatos históricos são considerados como os fatos que prepararam os caminhos e possibilitaram a travessia da ponte para a chegada ao poder de um presidente negro, já no início do próximo século.

O filme passa por muitos fatos históricos de extrema complexidade dos anos 1960. Lyndon Johnson e o poder. A guerra do Vietnã. J. Edgard e o FBI e  todo o movimento negro em busca da afirmação de seus direitos. Mostra as lutas internas dentro destes movimentos e a liderança radical exercida por Malcolm X, morto em fevereiro deste mesmo ano de 1965 e que provocou a existência dos panteras negras e a sua atuação violenta nos anos seguintes. Mostra também os dramas interiores de Martin Luther King, tanto em relação com o movimento, quanto em suas relações com a esposa, Coretta Scott King.
Em alemão, o cartaz anuncia, o melhor filme do ano.

Merece destaque especial a abordagem religiosa do filme. Ele apresenta um cristianismo revolucionário, comprometido com as lutas populares e não um cristianismo, para usar uma expressão brasileira, mancomunado com a casa grande, ou a velha e sempre notável referência marxista ao ópio do povo. King convoca todas as lideranças religiosas e é atendido por muitas delas. Outro ponto importante. Ele usa os meios de comunicação para fazer esta convocação. Está certo que King já era uma voz ouvida e o movimento que liderava já tinha grande visibilidade. Mas também este fato dá ensejo de pensar sobre o comportamento da mídia, um tema de muita atualidade.

O maior instrumento que o filme utiliza para transmitir a sua mensagem é a força dos diálogos, sempre mediados pelo contraditório. Mostra também a enorme responsabilidade e as dificuldades enfrentadas por um líder. Os líderes populares não tem vida fácil. Martin Luther King seria assassinado em Memphis, no Tenessi, no dia 4 de abril de 1968, aos 39 anos de idade.
Um líder nunca tem vida fácil, nem na vida familiar, mesmo se preparando para o Nobel da Paz.


Martin Luther King é interpretado por David Oyelowo, o presidente Johnson por Tom Wilkinson e Coretta Scott King por Carmen Ejogo. A direção é de Ava DuVernay. A famosa Oprah Winfrey, além de uma participação nas cenas iniciais, é uma das produtoras do filme. Um nome de peso. Mas o filme é uma espécie de primo pobre em indicações para o Oscar. Tem apenas duas: a de melhor filme e a de melhor canção (Glory). O tema da luta dos negros foi premiado no ano passado com doze anos de escravidão e por isso, entre outros motivos, não deverá receber o prêmio maior neste ano. O filme é ótimo para ser debatido nas escolas, mesmo se não melhorar a avaliação técnica do IDEB. Forma para a consciência e para a cidadania.





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