domingo, 13 de agosto de 2017

Um milhão por dia. Uma história oriental.

Já encontrei muitos libelos contra o dinheiro, especialmente quando ele se torna fim em si e provoca os desejos de acumulação e não de seu usufruto diário para suprir as necessidades. Lembro de uma passagem em especial, quando Shakespeare, no Timão de Atenas, solta impropérios contra o vil metal, rameira da humanidade. Isto nos é contado nos Manuscritos econômico filosóficos de Marx. Também lembro da bela história da lenda da índia Teiniaguá ou da Salamanca do Jarau, imortalizada na obra de Érico Veríssimo, sobre a não acumulação do dinheiro. Um dia eu a conto.
Num livro tão polêmico, uma história tão singela. É que falamos dos Estados Unidos.


Mas hoje vou transcrever uma história de um livro polêmico e sisudo, A ilusão americana, de Eduardo Prado. Foi o primeiro livro censurado e apreendido na República. Foi publicado em 1893 e teve apenas uma hora de livre circulação. Como é um livro que fala sobre os Estados Unidos, as palavras ganância e acumulação fluem facilmente. Mas vamos a ela, à historinha.

"Há uma história oriental - do homem a quem o destino deu um milhão por dia com a condição de o homem gastá-lo todo no tempo compreendido entre duas auroras.

A falta de cumprimento desta condição era a morte do infeliz. Prazeres, gozos, prodigalidades, tudo isto bastou, nos primeiros dias, para consumir o milhão diário.  Em pouco tempo veio a fadiga, o esgotamento e debalde trabalhava a imaginação do homem para achar o meio de esvaziar os últimos sacos de ouro que ainda estavam cheios quando já alvorecia a aurora do outro dia. Apareceu o Anjo da Morte e anunciou ao desgraçado o seu fim. Lamentou-se o homem: Não consegui gastar o meu milhão! E o anjo da morte respondeu-lhe: - É que tu esqueceste o único meio que havia para isso! - Qual era? - Fazer o bem"!

Como esta história tem o caráter de uma fábula, com os seus inevitáveis fins morais, deixo a conclusão para a reflexão de cada um. Mas não deixa de ser uma bela resposta quando alguém te pergunta sobre o que você faria com o dinheiro se você ganhasse uma soma fabulosa em um prêmio de loteria.

O livro é um libelo contra o imperialismo dos Estados Unidos e a sua ação econômica, diplomática, intelectual e moral sobre a América Latina em geral e sobre o Brasil, em particular.

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