sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Me chame pelo seu nome. Luca Guadagnino.

Continuo na temporada do Oscar. Já assisti O destino de uma nação, sobre uma parte da vida de Churchill e The Post - A guerra secreta. Hoje foi a vez de Me chame pelo seu nome, uma produção da França, Itália, Estados Unidos e Brasil. É um filme que tende a muita polêmica em virtude de sua temática, o amor homo afetivo entre um jovem e um acadêmico americano que vai passar férias na Itália. Ah! Se o MBL descobrir! Vão querer incendiar os cinemas e, como o assisti no espaço Itaú, este pode repetir a cena de seu concorrente, o Santander, e suspender a programação. Tempos de ódio, de muito ódio.


O tema é tratado com muita delicadeza e sobriedade e o ambiente em que este amor aflora é de um elevado nível cultural, onde o multicultural aflora e a diversidade não é vista como uma questão moral. As pessoas envolvidas não são presas a clichês morais e tem elevados níveis de compreensão e intervenção na realidade. Neste ambiente, acima de tudo, impera o respeito à individualidade e não há vez para os preconceitos. Há sim, as amarras da formação.

O filme se centra num belo jovem, Élio, filho único de uma rica família, cujo pai se dedica aos estudos da cultura greco-romana. Um de seus focos é a beleza da escultura. Praxísteles. O ambiente é a magnífica casa de férias desta família, na Itália, na qual recebem a visita de um acadêmico americano, que virá auxiliar na pesquisa que o pai do jovem está realizando. Élio é muito prendado e se dedica especialmente à música. É muito disputado pelo público feminino nas festas de sua turma. Tem uma namorada que simplesmente o adora. O americano, de nome Oliver, se entrosa muito bem neste ambiente.

Lentamente os dois, Oliver e Élio, começam a se perceber e vão para além da simples percepção. A timidez os reprime, ao menos, nas primeiras aproximações. Eles se contém. Mas aos poucos a paixão irrompe e rompe as fronteiras, com a música determinando o grau de intensidade. Aos poucos ele chega à explosão. Todas as cautelas são tomadas para que ninguém os perceba. A explosão afetiva ocorre quando eles trocam os seus nomes, fundido-se os dois seres. Me chame pelo seu nome. Oliver chama Élio de Oliver e Élio chama Oliver de Élio. Vivem um pequeno mas intenso romance e Oliver volta aos Estados Unidos. Poucos dias depois comunica a Élio o seu casamento.

Élio volta à convivência com os seus pais. O pai o chama para uma conversa. Nenhuma tonalidade firmada na moral. Muito pelo contrário. Exalta a coragem do filho. Em conversa telefônica Oliver diz a Élio que sente inveja de seu pai, porque se fosse o seu, imediatamente o iria mandar para um "reformatório", a exemplo de uma determinada psicóloga "cristã" brasileira, que propôs o "cura gay".

As críticas acusam o filme por sua lentidão. mas os favoráveis apontam para o tempo necessário para o desenrolar do enredo com a devida delicadeza que o tema merece, sem cair na rotulação dos preconceitos, tão generalizados em nosso tempo e meio. Aliás, é bom dar uma olhada nas críticas ao filme. Um destilar de ódio e preconceito. Anotei algumas passagens: "Nada presta, a não ser a fotografia"; "filme para viado ver"; "filme xarope e superestimado". E por aí vai.

Um filme, acima de tudo, de muita beleza e delicadeza, com destaque para a música e para a paisagem. A bela Itália. O filme tem três indicações para a estatueta: A de melhor filme, de melhor roteiro adaptado e a de melhor canção. James Ivory, adapta o original homônimo do escritor egípcio, André Aciman. Um filme para muito além do mero entretenimento, para toda a complexidade do ser humano.

Este levou a estatueta de melhor roteiro adaptado.


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