sexta-feira, 20 de julho de 2018

O Infante de Parma. A educação de um príncipe iluminista. Elisabeth Badinter.

Este livro me traz recordações dos debates que fazíamos na Universidade Positivo, entre os professores do curso de Publicidade e Propaganda. Nestes debates se destacavam o professor Leonardo Ferrari e o André Tezza, então coordenador do curso. Bons tempos. Como vou fazer uma fala, retomei o livro. Nele tenho registrada a data de 2010. O livro? Sim. O Infante de Parma - a educação de um príncipe iluminista. A autora é Elisabeth Badinter. Se quiséssemos fazer deste livro uma interrogação, ela, certamente, poderia ser esta: A educação sempre produz os resultados que dela se esperam?
Um livro para educadores. Reflexões muito apropriadas.

Vamos situar devidamente o tempo do infante, cuja educação/formação é o tema. Ele nasceu em 1751 e morreu em 1802 e o seu reinado ocorreu entre os anos de 1765 até o ano de sua morte, em 1702. São os tempos do auge do absolutismo na política, mas são também os tempos em que o iluminismo começa a despontar com força, produzindo, inicialmente, os chamados despotismos esclarecidos. No horizonte já se vislumbra a Revolução Francesa, fruto maior do ideário iluminista. Lembro de uma frase de Kant (1724-1804) que bem pode sintetizar este período:

"Nossa época é propriamente a época da crítica, à qual tudo tem de submeter-se. A religião, por sua santidade, e a legislação por sua majestade, querem comumente esquivar-se dela. Mas desse modo suscitam justa suspeita contra si e não podem ter pretensões àquele respeito sem disfarce que a razão somente outorga àquilo que foi capaz de sustentar seu exame livre e público. São os tempos, que ainda segundo Kant, do Sapere aude, tempos em que, pela razão, nos libertaríamos de um mundo de superstições e de crendices.

O reino ou ducado de Parma em questão, dentro da geopolítica da época, era controlado pelo reino da França. Pelas interligações de família sofria influências também da Espanha e da Áustria, mas geograficamente se situava dentro da Itália, com toda a força do papado de Roma. Dois educadores franceses, expoentes do iluminismo, Auguste de Keralio e Etienne de Condillac seriam responsáveis pela formação do infante Ferdinando. Elisabeth Badinter acompanha os anos de sua formação e o comportamento do infante, à frente do ducado.

Após uma breve introdução o livro se estende por cinco capítulos, devidamente subdivididos: Vejamos: 1. Os primeiros anos. Antes da chegada do tutor (1751-56) e, Sozinho com Keralio (1757-58). 2. A educação de um príncipe iluminista (1758-69). Da infância à adolescência (1758-64), com os subtítulos: Da teoria à prática; os bastidores e - dividido entre exigências contraditórias. Missão cumprida, com dois subtítulos: A reputação de um príncipe esclarecido e a secreta preocupação dos professores. 3. Um mito que se vai pelos ares (1769-71). Casamento e crise de adolescência; uma onda de ódio e uma guerra sem misericórdia. 4. De quem é a culpa? O enigma do príncipe; o processo dos professores e a decepção dos filósofos. 5. O príncipe dos carolas (1772-80). Enfim, livre: livre para governar segundo suas convicções e livre para viver a seu bel prazer. O livro se encerra com a conclusão de que sobrou apenas um homem dilacerado e uma esperança frustrada.

Deixo o primeiro parágrafo da conclusão. "A maioria não quis ver em Ferdinando senão o príncipe das trevas, o arquiteto obscurantista de uma política reacionária, que teria voltado as costas para os ensinamentos de seus mestres. Um devoto epicurista, bem distante das esperanças depositadas nele". Entre os desastres de seu governo estaria a sua submissão ao papa e a restauração do tribunal da inquisição. Uma irônica conclusão também poderia ser a de que a concessão da graça prevaleceu sobre a razão.

A riqueza do livro está nas questões que são suscitadas pela autora, uma especialista em iluminismo. Um dos destaques é a questão da severidade e dos castigos, por todos odiados, mas aos quais, até os príncipes eram submetidos. No quarto capítulo se discute a questão da adolescência, sobre seus arroubos ou sobre a emancipação buscada a partir dessa idade e, ainda, o confronto entre os filósofos franceses e os religiosos italianos. Mas uma questão me chamou particular atenção. São os apontamentos de Isabella, a irmã de Ferdinando. Reflexões nunca publicados mas que são universais e, portanto, atemporais sobre a educação. Vejamos:

"Entretanto, sua irmã Isabella, que assiste as aulas e certamente testemunha a severidade dos professores, tira disso uma lição espantosamente moderna. Redige as Reflexões sobre a educação, que vão exatamente na contramão da que ela mesma e seu irmão receberam. Não apenas atribui aos pais a responsabilidade por todos os fracassos na educação dos filhos, como ataca o autoritarismo e o rigor daqueles a quem eles a delegam. Denuncia os perigos da educação dada pelos primeiros, que torna as crianças violentas, impacientes e manhosas, e da ministrada pelos segundos, que nasce da dureza do coração e da baixeza de sentimentos. Esta não corrige, não inspira respeito..., inspira ódio e desejo de vingança, desconfiança, desejo de enganar, exclui todo sentimento, tornando o indivíduo duro e insensível, capaz de todo mal. Opõe-lhes a delicadeza, desprezada nos dias de hoje, mas que conquista o coração das crianças e cria gratidão, afeto, franqueza, forma seu espírito e seu coração, tornando-as dóceis e fáceis de orientar". Um livro para quem se interessa efetivamente pela educação.


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