sexta-feira, 9 de outubro de 2020

História do Riso e do Escárnio. Georges Minois.

Ao terminar de ler Jacques Le Goff, A Civilização do Ocidente Medieval, decidi continuar na leitura de livros de história. Optei por Georges Minois, História do Riso e do Escárnio. Não é simplesmente um livro de história. É um senhor livro. São 653 páginas de uma memorável pesquisa e que exigiram de seu autor um profunda dedicação e muita erudição. Esta pesquisa passa diversas vezes por toda a história, se detendo, especialmente, nos campos religioso, filosófico, histórico e literário. Também do leitor é exigido bastante. Não é um livro para principiantes.

História do Riso e do Escárnio. Georges Minois. UNESP - 2003. Tradução de Maria Elena Ortiz Assumpção.

O livro começa pelos gregos, passa pelos latinos, pela alta e baixa Idade Média, chegando ao Renascimento, ao Esclarecimento, passando pelas reformas religiosas, pelas revoluções, pelas guerras, até chegar ao século XX, parando por aí, uma vez que o livro foi publicado no ano de 2003. Todos os grandes nomes da teologia, da filosofia, da literatura, do teatro e do cinema merecem a análise do autor. Ao todo são 15 capítulos, além da introdução e da conclusão. Depois dou os títulos desses capítulos. O riso e o escárnio é visto em todas as suas formas, quer as maléficas, quer as benéficas. A palavra com a qual mais vezes eu me detive foi a palavra "derrisão". Seria esse o efeito maior provocado pelo riso?

Na orelha da capa lemos a seguinte apresentação: "O ser humano tem duas características que o diferenciam de outros animais: é o único que sabe que vai morrer e que ri. Será que o riso não existe exatamente para consolá-lo dessa amarga tristeza? Essa perspicaz indagação é apenas uma das importantes questões apontadas neste livro pelo historiador francês Georges Minois.

O autor esquematizou a história do riso em três períodos: o riso divino, o diabólico e o humano. No primeiro, associado à Antiguidade clássica, o riso está ligado à suprema liberdade dos deuses. É, portanto, vinculado à recriação do mundo, seja nas sátiras escritas pelo grego Aristófanes seja nas críticas sociais dos comediógrafos latinos Plauto e Terêncio.

O cristianismo, na Idade Média, opõe-se a essa visão. Prega que o homem deve temer o inferno, regido pelo diabo, rei do riso, da zombaria e do escárnio, atitudes toleradas apenas em festas pagãs como o Carnaval. A partir do Renascimento, com o progressivo abalo de todas as crenças, o riso renasce, penetrando nas fissuras do absoluto para questionar a religião, no século XVIII, a monarquia, no século XIX, e o autoritarismo, no século XX.

Em pleno século XXI, para Minois, o ser humano, infelizmente, teria domesticado o poder derrisório do riso. No atual mundo do "politicamente correto", o seu componente agressivo estaria desvitalizado. Embora pareça estar por toda parte - na publicidade, na televisão, nos jornais, nas transmissões esportivas -, o riso não passaria, mais do que nunca, de uma máscara para esconder a profunda agonia do existir".

Na contracapa do livro lemos um parágrafo que certamente pretende ser uma provocação para a leitura: "Estudado durante séculos pelas mais diferentes disciplinas, o riso ainda guarda um grande mistério. Da gargalhada solta dos carnavais medievais à fina ironia dos romancistas vitorianos, a história do riso pode revelar os dilemas de cada época. Neste trabalho de fôlego, Georges Minois enfrenta com bom humor a grande tarefa de criar uma história para o que os antigos gregos consideravam uma das maiores virtudes humanas doadas pelos deuses".

Vamos, para dar uma ideia aproximada dos temas, aos títulos do 15 capítulos: 1. O riso inextinguível dos deuses - os gregos arcaicos e o mistério do riso; 2. A humanização do riso pelos filósofos gregos - Da ironia socrática à zombaria de Luciano; 3. O riso unificado dos latinos - O risus, satírico e grotesco; 4. A diabolização do riso na Alta Idade Média - Jesus nunca riu; 5. O riso unânime da Festa Medieval - A paródia a serviço dos valores; 6. Rir e fazer rir na Idade Média - Humor sagrado e humor profano; 7. O riso e o medo na Baixa Idade Média - o retorno do diabo; 8. A gargalhada ensurdecedora do Renascimento - o mundo rabelaisiano e suas ambiguidades; 9. Acabou-se o riso - a grande ofensiva político-religiosa do sério (séculos XVI-XVIII); 10. O riso amargo do burlesco - a era da desvalorização cômica (primeira metade do século XVII); 11. Do riso polido à zombaria - o poder ácido do espírito (séculos XVII e XVIII); 12. O riso e os ídolos no século XIX - o escárnio nos combates políticos. sociais e religiosos; 13. Filosofia do riso e riso filosófico no século XIX - os debates sobre o riso, do grotesco ao absurdo; 14. O século XX, morrer de rir - a era da derrisão universal; 15. O século XX: a morte do riso? - a desforra póstuma do riso.

Um livro que, creio eu, se destina mais para pesquisadores do que para leitores propriamente ditos. Sei que ele é bastante usados nos cursos de pós graduação em Linguística. Está dada a dica. Valeu muito a leitura. Por razões muito particulares, deixo o link de uma postagem a partir do livro sobre o padre São João Maria Vianney, o padroeiro dos padres seculares. É que eu fui seminarista, lá nos anos 1950-60. https://www.blogger.com/blog/post/edit/2400511981612982468/7887219725086152243


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