quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Quem escreveu Shakespeare? James Shapiro.

Sempre tive muita curiosidade com relação a grandes autores ou grandes personalidades. A minha curiosidade se centrava especialmente na formação dessas pessoas, que escolas frequentaram e, especialmente, o que e quem leram. Em suma, quem influenciou em sua formação. Quando da minha despedida da Universidade Positivo, ganhei, de alguns colegas, um livro de presente. O livro foi Quem escreveu Shakespeare? A história de mais de quatro séculos de disputa pela herança de uma autoria, de James Shapiro.

Quem escreveu Shakespeare? James Shapiro. Nossa Cultura. 2012.

Se autores, de uma maneira geral, me despertavam grande curiosidade, imagina então, sobre William Shakespeare.  Como na época empreendi viagens e me ocupei com outras coisas, dei aquela primeira olhada no livro e o deixei aguardando para uma próxima oportunidade de leitura. Isso ocorreu agora. Antes de mais nada, devo dizer que se trata de um livro destinado a especialistas. Afirmo isso para falar das dificuldades que tive na leitura, uma vez que apenas li algumas de suas peças e nunca estudei a sua obra de forma específica.

Eu sou mais ou menos cético com relação ao tema, não vendo muita diferença entre quem efetivamente teria escrito a obra, se não foi ele mesmo. Afinal, a obra, se sua ou não, está aí. Ao final do livro, Shapiro lança uma advertência: "Quando comecei a pensar em escrever este livro, há alguns anos, um amigo mexeu comigo ao perguntar: 'Que diferença faz quem escreveu as peças'? A resposta reflexiva que dei a ele é agora muito mais clara para mim: 'Muita'. Faz diferença para a forma como imaginamos o mundo em que Shakespeare viveu e escreveu. Faz ainda mais diferença para a forma como entendemos quanta coisa mudou da pré-modernidade para a modernidade. Mas a maior diferença de todas diz respeito a como lemos as peças"... (Página 316).

Mas vamos atender as curiosidades iniciais. Quem teria duvidado da autoria das peças e dos poemas de Shakespeare e quais seriam os seus argumentos? E, se Shakespeare não escreveu Shakespeare, quem o teria escrito e quais teriam sido as razões para não terem assumido a autoria? Respondo a primeira parte das perguntas. Para as demais, é necessária a leitura do livro. Então vamos lá. Primeiro, as pessoas que duvidaram. Só dou duas, pela sua fama: Mark Twain e Sigmund Freud. É obvio que eles se fundamentaram em pesquisadores. E quem teriam sido os supostos autores? Para Mark Twain teria sido Francis Bacon e para Freud, Edward de Vere, o 17º conde de Oxford.

Acho que ainda sobra uma curiosidade inicial. A esta eu também responderei. Quais teriam sido as razões para que duvidassem da autoria? Respondo com a dúvida apresentada por Mark Twain: "Twain reafirma sempre a ligação intrínseca entre escrever com grande efeito sobre o que o autor vivencia. Simplesmente não podia aceitar que um jovem da província, com 21 anos de idade, 'sem nenhuma qualificação preparatória, treinamento ou experiência' pudesse 'produzir grandes tragédias como um vulcão". (Página 154). De uma maneira geral, os céticos em relação a autoria de Shakespeare se centraram na sua falta de formação básica e acadêmica e o meio rural de onde ele procedia. Shapiro tem uma resposta: "O que eu acho mais desalentador na alegação de que o Shakespeare de Stratford não tinha a experiência de vida necessária para escrever as peças é que se menospreza, assim, exatamente aquilo que o torna tão excepcional: sua imaginação". (Página 313).

O livro de Shapiro, de 356 páginas, está dividido em quatro capítulos, epílogo e ensaio bibliográfico. Os capítulos tem os seguintes títulos: 1. Shakespeare; 2. Bacon; 3. Oxford; 4. Shakespeare. No primeiro é apresentada a polêmica da autoria. No segundo, são mostrados os argumentos em favor da autoria de Francis Bacon. No terceiro, os argumentos são em favor do conde de Oxford. No quarto, Shapiro assume a defesa de Shakespeare. No epílogo é mostrado um panorama da questão ao tempo da escrita do livro (2010). No ensaio bibliográfico são apontados todos os livros utilizados na pesquisa. Haja fôlego.

Para dar uma melhor ideia do livro, apresento a orelha da capa: "Por cerca de dois séculos depois da morte de Shakespeare, ninguém questionou a autoria de sua obra. Mas, desde então, dezenas de candidatos rivais - sendo os mais expressivos, Francis Bacon e o conde de Oxford - foram propostos como os verdadeiros autores das peças do bardo. Quem escreveu Shakespeare? explica quando e por que tantas pessoas começaram a questionar a autoria de Shakespeare. Mark Twain, Sigmund Freud e Henry James são apenas alguns exemplos de famosos que se declararam convencidos de que Shakespeare não foi Shakespeare.

A fascinante pesquisa feita pelo estudioso de Shakespeare, James Shapiro, sobre a origem dessa controvérsia reconstrói um caminho tortuoso recheado de documentos fabricados, alegações falsas, códigos, cifras e fraudes. Quem escreveu Shakespeare? levanta questões sobre o que essa controvérsia revela a respeito dos leitores contemporâneos e de nossas expectativas em relação ao maior escritor de língua inglesa da história. O livro pode não encerrar o debate sobre a autoria das obras de Shakespeare, mas esclarece a natureza desse debate e o que está de fato sendo contestado: os poemas e peças de Shakespeare são autobiográficos? Se a resposta for positiva, o que eles nos dizem sobre a pessoa que os escreveu"?

Um livro muito erudito. Com a sua leitura você aprende sobre todo o entorno de Shakespeare, sobre a rainha Elizabeth, sobre o rei Jaime I e toda a questão da passagem do século XVI para o XVII. E avança no debate sobre o autor nos séculos seguintes. E, uma nota sobre a tradução. Ela é de Christian Schwartz e Liliana Negrello, com revisão técnica de Caetano W. Galindo. Christian foi meu colega, como professor na Universidade Positivo e com o Caetano Galindo fizemos uma leitura comentada do Ulisses, de Joyce, livro do qual ele é o tradutor.

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