segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

O Velho. A história de Luiz Carlos Prestes.

O Velho. A história de Luiz Carlos Prestes é um filme documentário produzido em 1997, sob a direção de Toni Venturi e narração de Paulo José que retrata os mais de 90 anos vividos pelo "Velho", como era chamado, especialmente em seu círculo familiar. Os recursos de som e imagem são bem trabalhados e se constituem no ponto alto da obra. São mostradas fotos de personagens e de documentos junto com entrevistas de pessoas relevantes e ainda, de estudiosos de sua vida.
O DVD - O Velho - A história de Luiz Carlos Prestes.  Um documentário de 1997.

O documentário é dividido em seis partes: A inocência, a coragem, a esperança, a sombra, a maturidade e o resto dos anos. Na abertura são mostradas cenas da derrubada do muro de Berlim, em 1989, para logo em seguida mostrar cenas da Revolução Russa de 1917. A vida de Prestes foi profundamente marcada por esses fatos históricos. Eles direcionaram e redirecionaram todo o ideário de sua vida. Por sessenta anos estes fatos marcaram e dividiram a história do século XX. Havia dois grandes polos ideológicos, duas grandes formas de organizar a sociedade, que dividiram profundamente a humanidade, numa guerra ideológica sem precedentes.
A primeira parte do documentário se ocupa da Coluna Prestes.


Na primeira parte - a inocência - a Coluna recebe a maior atenção. Ela foi produto dos anos 1920 e foi uma reação imediata à eleição de Artur Bernardes, presidente insuportável aos quarteis. Ela começou em 1924 e terminou em 1927 com o grande feito de nunca ter sido derrotada. A Coluna chamou a atenção dos jovens tenentes, que dela participaram, para os graves problemas sociais existentes, especialmente o retrato da miséria no Brasil interiorano. Mostra ainda o seu encontro com a literatura marxista.

Na segunda parte - a coragem - já o encontramos na URSS (1931) trabalhando como engenheiro e se preparando para a revolução brasileira. Mostra a desconfiança dos soviéticos em relação a ele e, inclusive, se suspeita que Olga fora indicada para acompanhar os seus passos. A ação revolucionária se deflagra em 1935 com o episódio da Intentona Comunista, que foi um fracasso. Mostra que a organização do Partido Comunista do Brasil (PCB) se dava quase que exclusivamente dentro do exército e que ele obedecia às diretrizes traçadas pela Terceira Internacional. O episódio de 1935 serviu para isolar ainda mais os comunistas da população em geral.
Olga Benário, a mulher de Prestes era alemã de origem judaica. Foi entregue aos nazistas pelo governo Vargas.

Na terceira parte - a esperança - o foco recai essencialmente sobre o Estado Novo e o seu período posterior, marcado pela redemocratização, fato que dá origem ao título de "a esperança". Neste período o Partido vive na legalidade e elege deputados constituintes para 1946 e o próprio Prestes como senador, por São Paulo. A vida livre é breve. O Partido logo será decretado ilegal, os constituintes tem seus mandatos cassados e Prestes volta à clandestinidade. Um período bastante contraditório porque Prestes apoiara  a permanência de Getúlio no poder em 1945, mesmo tendo sido preso e, Olga, a sua mulher ter sido entregue à polícia de Hitler. O mundo e o Brasil viviam a Guerra Fria.

Na quarta parte - a sombra - Prestes é mostrado como clandestino dentro de seu próprio partido. As contradições do regime soviético começavam a aflorar e houve o processo de depurações, que levavam todos a desconfiar de todos e ninguém confiar em ninguém. Prestes mantém o seu prestígio, por ser visto como a única pessoa capaz de manter a unidade do partido. Por isso ele era tolerado, mas já vivendo num grande isolamento. Era o fenômeno do stalinismo. Marca também o encontro com Maria Ribeiro, a sua segunda esposa, com quem teve sete filhos. Maria já tivera dois, numa relação anterior.
A numerosa família de Prestes. Maria, sua segunda mulher, ao centro.

Na quinta parte - a maturidade -  é mostrado o governo JK e os espíritos desarmados desse período. Mostra toda a impaciência dos quarteis, com os governos, Jânio e, especialmente, Jango Goulart. Mostra toda a passividade do Partidão, diante do dilema entre a luta armada e a resistência passiva. A maioria dos militantes optou pela luta armada e o partido se fragmentou. Ele volta para a URSS, com a liderança desgastada e contestada. Volta ao Brasil com a Anistia de 1979. Segundo Maria, a vivência na URSS foi o melhor período em suas vidas (1971-1979).

A última parte - o resto dos anos - é muito bonita e revela dados pouco conhecidos, como a relação com a sua numerosa prole, um fato nada comum na vida de um revolucionário. De maneira geral os depoimentos dos filhos vão na direção de uma relação filial fria e distante, de um pai ausente. Ele dividia a sua solidão com os seus livros. Com os netos já teve uma relação de absoluta dedicação e ternura. Se desliga do partido e ainda participa da reorganização sindical dos trabalhadores e das eleições presidenciais de 1989. 1990 será o ano de sua morte. Já era mais visto com os olhos da curiosidade do que da admiração.
"O Velho". Um documentário da longa vida de Prestes.

A maior riqueza do documentário são as entrevistas em que foram colhidos os depoimentos. Merece destaque o próprio Prestes, presente ao longo de todo o documentário, de seus filhos, de Miguel Costa Jr.,  Fernando Moraes, Carlos Heitor Cony, Brizola, Fernando Gabeira, entre outros. Não existe nenhuma participação de Anita, a filha de Prestes com Olga Benário. Daniel Aarão Reis também se queixa da não participação de Anita na elaboração de seu livro. Olga está preparando a sua versão da vida do pai, em livro a ser lançado, ainda no primeiro semestre de 2015, pela Boitempo.

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