segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Por que gritamos golpe? Uma pluralidade de vozes.

Procuro acompanhar as diferentes leituras e olhares sobre o golpe que se consumou no dia 31 de agosto de 2016 e que afastou definitivamente a presidente eleita do Brasil (com 54,5 milhões de votos) pelo voto de 61 obscuros senadores, quase todos envolvidos em escândalos de corrupção. Pouco se diferenciaram do triste espetáculo ocorrido na Câmara, no dia 17 de abril, com os deputados.
Vozes plurais e diversidade de temas. Um livro imprescindível para interpretar o atual momento.

Pela profunda admiração que tenho por Jessé Souza, o livro dele, A radiografia do golpe - entenda como e por que você foi enganado, foi o primeiro que li e, inclusive, já fiz a sua resenha. O livro é composto de três capítulos. I. Os golpes sempre foram por mais dinheiro para poucos, e nunca para combater a corrupção. II. O golpe "legal" e a construção da farsa. III. Conclusão: ameaças e oportunidades à democracia. Recomendo demais.

Na sequência li Crônicas da resistência 2016 - Narrativas de uma democracia ameaçada. O livro tem como editora uma ex aluna minha, do curso de jornalismo, Cleusa Slaviero. As crônicas são uma bela e grande obra coletiva, desde o financiamento de sua publicação até a escrita de mais de oitenta contribuições de indignados resistentes. Entre estes, estou incluído. Os autores são quase todos anônimos. Mas o livro tem também presenças notáveis como o Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel e Leonardo Boff. Um belo registro para a história.
Um belo livro de construção coletiva. Muita dedicação e indignação.

Na sequência li Por que gritamos golpe? - Para entender o impeachment e a crise política no Brasil, da Editora Boitempo. Três frases das manifestações de rua aparecem na capa, com certa evidência: Amar sem temer - Fora Cunha e Esse ministério não nos representa. Todas elas muito significativas.

O livro é formado por 24 artigos, mais as devidas apresentações. Os articulistas todos tem grande representatividade  e autoridade intelectual e moral para falarem sobre os temas que abordam. Ele é composto de três partes: I. Os antecedentes do golpe. II. O golpe ponto a ponto. III. O futuro do golpe. Ainda, na contracapa comparecem Boaventura Souza Santos e Luiza Erundina.

Pela amplitude dos temas abordados, não tenho condições de fazer uma resenha de todos eles, mas com a finalidade de despertar para a leitura, apresento os títulos e os autores. Ao final do livro consta uma pequena apresentação destes. Creio que Graça Costa e Ivana Jinkings tem grande responsabilidade na construção do livro. São as responsáveis pelo prólogo e pela apresentação.

Na primeira parte encontramos os seguintes títulos e autores: 1. A nova classe trabalhadora brasileira e a ascensão do conservadorismo - Marilena Chauí; 2. Os atores e o enredo da crise política  - Armando Boito Jr.; 3. A democracia na encruzilhada - Luis Felipe Miguel; 4. Por que o golpe acontece? - Ciro Gomes; 5. O triunfo da antipolítica - Murilo Cleto; 6. Jabuti não sobe em árvore: Como o MBL se tornou líder das manifestações pelo impeachment - Marina Amaral; 7. O fim do lulismo - Ruy Braga.

Na segunda parte comparecem: 1. Da tragédia à farsa: o golpe de 2016 no Brasil - Michel Löwy; 2. Uma ponte para o abismo - Leda Maria Paulani; 3. Rumo à direita na política externa - Gilberto Moringoni; 4. Previdência social: reformar ou destruir? - Eduardo Fagnani; 5. Para mudar o Brasil - Roberto Requião; 6. Os semeadores da discórdia: a questão agrária na encruzilhada - Luiz Bernardo Pericás; 7. Ruptura institucional e desconstrução do modelo democrático: o papel do judiciário - Marcelo Semer; 8. Cultura e resistência - Juca Ferreira; 9. As quatro famílias que decidiram derrubar um governo democrático - Mauro Lopes; 10. Avalanche de retrocessos: uma perspectiva feminista negra sobre o impeachment - Djamila Ribeiro; 11. "Em nome de Deus e da família"; um golpe contra a diversidade - Renan Quinalha; 12. Resistir ao golpe, reinventar os caminhos da esquerda - Guilherme Boulos e Vítor Guimarães; 13. A luta por uma educação emancipadora e de qualidade - Tamires Gomes Sampaio.

Já na terceira parte encontramos: 1. Por uma frente ampla, democrática e republicana - André Singer; 2. A ilegitimidade do governo Temer - Jandira Feghali; 3. Uma sociedade polarizada - Pablo Ortellado, Esther Solano e Márcio Moretto; 4. É golpe e estamos em luta! - Lira Alli.
O maravilhoso livro de Jessé Souza.

Embora todos os textos sejam valiosos eu destaquei alguns, especialmente, pelo caráter de novidade que eles representaram para mim. Outros poderão ter outras percepções. Gostei do texto da Marilena Chauí em função da análise sobre a nova classe trabalhadora no Brasil e sobre o jabuti e o histórico do movimento golpista, da primeira parte. Da segunda eu destaco a reforma da previdência. É de arrepiar esta perversidade pretendida. Também é notável a atuação das quatro famílias que controlam a mídia brasileira e que hoje, para você conhecer o Brasil tem que ler jornais estrangeiros. Da última parte eu destaquei o texto de André Singer e os seus cinco pontos de análise e ainda o texto de Lira Alli, pela clareza e firmeza de posições.

 Considero este livro o melhor deles, uma vez que ele foi planejado e estruturado. Por isso mesmo a sua diversidade nas abordagens. Recomendo a sua leitura, especialmente para as pessoas que trabalham com análise de conjuntura. Amplia muito o leque de visões sobre os propósitos inconfessáveis que acompanham o golpe, neste momento triste da realidade brasileira. Se não houver reação, adeus construção de cidadania, por décadas. Termino com a citação de Lira Alli, numa caracterização da perversa elite brasileira: "Colonização, escravidão, ditadura: a história de nosso país é feita da violência produzida pelos desmandos de uma elite que nunca se preocupou com o povo 'daqui', só com o lucro 'de lá'. Ainda que seja indigna, precisamos conhecer nossa história e ser donos de nossa própria memória: só assim teremos as ferramentas para construir transformações". Lira Alli, pág.165.

Como considero a questão da previdência um dos aspectos mais graves, farei um post em separado.

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