segunda-feira, 24 de abril de 2017

O que é ser de Direita ou ser de Esquerda? Boaventura Sousa Santos.

Neste post não pretendo nem polêmica, nem contextualização histórica. Ele tem por finalidade única, apresentar os conceitos trabalhados por Boaventura Sousa Santos em seu livro A difícil democracia - reinventar as esquerdas. O livro é uma edição da Boitempo, de 2016. É um livro poderoso, de estudioso que investiga os movimentos e contra movimentos da democracia ao longo do século XX e das primeiras décadas do século XXI.
Aqui você encontrará as definições do que é ser de direita ou de esquerda.

O livro é uma espécie de nova gramática ou um novo dicionário para a democracia com o uso de novas terminologias, necessárias para definir a realidade de um mundo globalizado, sob o domínio da ideologia neoliberal, sob a égide total da voracidade do capital financeiro. É um remapeamento dentro da dialética da territorialização - desterritorialização, repleto de tensões. Seu resultado é o que  vemos em curso, a existência de um "fascismo social", com a destruição de tudo o que possa proporcionar cidadania, em nome da "eficiência" e da voracidade da acumulação capitalista, sem precedentes. O neoliberalismo é o mais anti social de todas as ideologias que já existiram. Em nome da austeridade pratica-se um verdadeiro austericídio. Salvação mesmo, só num futuro indeterminado, pois, resta-nos apenas o tempo presente.

Vejamos um pequeno trecho do epílogo do livro, recomendado para ser lido apenas em 2050;  "... Por isso, as paisagens converteram-se em pacotes turísticos e as fontes e as nascentes tomaram a forma de garrafa. Mudaram os nomes às coisas para as coisas se esquecerem do que eram. Assim desigualdade passou a chamar-se mérito; miséria, austeridade; hipocrisia, direitos humanos; guerra civil descontrolada, intervenção humanitária; guerra civil mitigada, democracia. A própria guerra passou a chamar-se paz para poder ser infinita. Também Guernica passou a ser apenas um quadro de Picasso para não estorvar o futuro do eterno presente. Foi uma época que começou com uma catástrofe, mas que logo conseguiu transformar catástrofes em entretenimento. Quando uma catástrofe a sério sobreveio, parecia apenas  uma nova série".

E ainda por cima procuram transformar as vítimas em culpados, como nos advertia Malcom X, o revolucionário sem medo: "Se não tiverdes cuidado, os jornais convencer-vos-ão de que a culpa dos problemas sociais é dos oprimidos, não de quem os oprime"?  Isso porque, voltando a Boaventura, "A opinião pública passou a ser igual à privada de quem tinha poder para publicá-la". Mas vamos aos conceitos. 

Começamos pelo de direita. "Entendo por direita o conjunto das forças sociais, econômicas e políticas que se identificam com os desígnios globais do capitalismo neoliberal e com o que isso implica, no nível das políticas nacionais, em termos de agravamento das desigualdades sociais, da destruição do Estado social, do controle dos meios de comunicação e do estreitamento da pluralidade do espectro político". E continua.

São os que aceitam a "prioridade da lógica do mercado na regulação não só da economia como da sociedade em seu conjunto; privatização da economia e liberalização do comércio internacional; diabolização do Estado enquanto regulador da economia e promotor de políticas sociais; concentração da regulação econômica global em duas instituições multilaterais, ambas dominadas pelo capitalismo euro-norte-americano (o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional) em detrimento das agências da ONU que antes supervisionavam a situação global; desregulação dos mercados financeiros; substituição da regulação econômica estatal (hard law) pela autoregulação controlada por empresas multinacionais (soft law)".  Pretendem transformar "a dominação em hegemonia, ou seja, fazer com que mesmo os grupos sociais prejudicados por esse modelo fossem levados a pensar que era o melhor para eles". Se identificou? (Páginas 112-3).

Vamos então para o conceito de esquerda. "Esquerda é o conjunto de teorias e práticas transformadoras que, ao longo dos últimos 150 anos, resistiram à expansão do capitalismo e ao tipo de relações econômicas, sociais, políticas e culturais que ele gera e que assim procederam na crença da possibilidade de um futuro pós-capitalista, de uma sociedade alternativa, mais justa, porque orientada para a satisfação das necessidades reais das populações, e mais livre, porque centrada na realização das condições do efetivo exercício da liberdade. A essa sociedade alternativa foi dado o nome genérico de socialismo". Encontramos esta primeira definição à página 74.

Na página 144, após repetir a definição, ele avança no sentido de provocar uma discussão em torno do que seria o socialismo. "Falar do socialismo do século XXI significa falar do que existiu e do que ainda existe como se fossem partes da mesma entidade. Não estou tão certo de que essa seja a melhor maneira de imaginar o futuro, embora ache que a análise crítica e desapaixonada do socialismo do século XX, apesar de urgente, ainda não tenha sido feita e provavelmente ainda não pode ser feita".

Já na página 173, Boaventura começa uma série de cartas dirigidas às esquerdas, nas quais começa por uma definição do que elas sejam. vejamos; "A esquerda é um conjunto de posições políticas que partilham o ideia de que os humanos  têm todos o mesmo valor e são o valor mais alto. Esse ideal é posto em causa sempre que há relações sociais de poder desigual, isto é de dominação". Continua a sua análise afirmando que o capitalismo é a mais importante das fontes deste poder de dominação. Outra ideia muito presente no livro é a da radicalização da democracia, da democracia de alta intensidade e dos espaços que esta deve ocupar. A radicalização da democracia e o princípio de democratizar a democracia é outra característica das esquerdas. mas a este tema dedicaremos um novo post. Conseguiu a sua identificação? Objetivo cumprido.


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