segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

A banalidade do mal. Hannah Arendt.

Há muito tento encontrar uma explicação para o tanto de ódio latente na sociedade. Não consigo imaginar o que faz com que as pessoas sejam realmente tão más como estão sendo. Nem mesmo a idade aplaca a ira e ódio de muitos. Está aí a realidade brasileira a nos preocupar a todos. Nunca o ovo da serpente esteve tão visível. E por falar em ovo da serpente, este tema necessariamente remete ao nazi-fascismo, o ponto máximo da extravasão, do transbordamento da maldade humana.


Há muito também me acompanha uma frase de Maquiavel, que sem dúvida, ajuda a entender a questão. Ela diz o seguinte: "Não inflige dor um porco a outro um cervo a outro: somente o homem outro homem mata, crucifica e despoja!" (Em O asno). Por que será?  Uma indagação, com resposta óbvia, também me acompanha. Por que o cachorro é o melhor amigo do homem? Ele o é, porque não sabe contar dinheiro. O belo livro Juliano, de Gore Vidal, me contou que o rei Midas era um fabricante de armas. Duas perguntas básicas. A estrutura ou a organização da sociedade está fundada sobre bases viáveis? Não seriam o dinheiro, as armas, a competição fatores de potencial explosivo sobre esta organização humana?

Tenho lido bastante. O fenômeno do nazi-fascismo precisa de maiores explicações, de maiores explicitações de suas causas. Caso contrário este fenômeno se repetirá. Todas as preocupações com a educação, com a formação das pessoas, deve ter como objetivo máximo, nos cobra Adorno, que Auschwitz não se repita. Desde a leitura de Primo Levi, soube que no Tribunal de Nuremberg não havia culpados. Havia apenas zelosos funcionários que cumpriam os seus "deveres". E por cumpri-los, ascendiam rapidamente em suas carreiras. Para onde nos leva a educação que não nos ensina a insubmissão, a rebeldia. A Fita branca, continua a me trazer inquietações.


Recentemente li  Rubens Casara. Sociedade sem lei - pós-democracia, personalidade autoritária, idiotização e barbárie. O que é este fenômeno da personalidade autoritária. Os estudos de Adorno, em 1950, nos Estados Unidos, nos indicam que não é nenhum grande ditador e muito menos um monstro. É a pessoa que está ao nosso lado, a cada momento do nosso cotidiano. É uma pessoa movida pelo senso comum, que perdeu a sua capacidade de reflexão. A crítica e a crítica da crítica e a dialética simplesmente desapareceram do horizonte humano. Os seres são transformados em homem massa, moldados à feição de quem domina o sistema. Estas pessoas se se fanatizam, seus heróis são seres absolutamente toscos, mas mesmo assim, são transformados em mitos. É muito perigoso viver nesta sociedade. A respeito: http://www.blogdopedroeloi.com.br/2019/01/a-personalidade-autoritaria-em-tempos.html

Li também Hannah Arendt. Na contracapa do livro Eichmann em Jerusalém - Um relato sobre a banalidade do mal, está escrito "Brilhante e perturbador" Trata-se do julgamento de Eichmann, o encarregado de Hitler para as questões judaicas. Fora ele o responsável para tornar a Alemanha, os países anexados e toda a Europa Judesrein, isto é, livre de judeus. Em suas mãos estava a deportação, a logística da concentração dos judeus em guetos e campos de concentração, onde seriam executados em câmaras de gás ou morrerem de exaustão pelo trabalho nas fábricas dos arredores. Sob o slogan de Arbeit macht frei, somente na fábrica da IG Farben, a poderosa indústria química alemã, morreram 25 mil trabalhadores.

O livro é isso mesmo. "brilhante e perturbador". Vejamos o subtítulo: Um relato sobre a banalidade do mal. Do que se trata? Na última frase do livro encontramos uma explicação: "Foi como se naqueles últimos minutos estivesse resumindo a lição que este longo curso da maldade humana nos ensinou - a lição da temível banalidade do mal, que desafia as palavras e os pensamentos". Eichman fora capturado em Buenos Aires e levado para Jerusalém, no maior julgamento de carrascos nazistas, depois de Nuremberg. Para surpresa geral; Nenhum monstro estava sendo julgado. Mais uma vez, um homem, de inteligência mediana ou pouco privilegiada, que internalizara a obediência como virtude suprema estava sendo julgado. Pela sua obediência "cadavérica" recebera todos os prêmios possíveis na ascensão de carreira.


Dou um panorama melhor do livro. Sua contracapa: "Sequestrado num subúrbio de Buenos Aires por um comando israelense, Adolf Eichmann é levado para Jerusalém, para o que deveria ser o maior julgamento de um carrasco nazista depois do tribunal de Nuremberg. Mas o curso do processo produz um efeito discrepante: no lugar do monstro impenitente por que todos esperavam, vê-se um funcionário mediano, um arrivista medíocre, incapaz de refletir sobre seus atos ou de fugir de clichês burocráticos. É justamente aí que o olhar lúcido de Hannah Arendt descobre o "coração das trevas", a ameaça maior às sociedades democráticas: a confluência de capacidade destrutiva e burocratização da vida pública, expressa no famoso conceito de "banalidade do mal". Numa mescla brilhante de jornalismo político e reflexão filosófica, Arendt toca em todos os temas que vêm à baila sempre que um novo morticínio vem abalar os lugares-comuns da política e da diplomacia". Mais em http://www.blogdopedroeloi.com.br/2019/02/eichmann-em-jerusalem-um-relato-sobre.html

E para terminar, onde mora o perigo? Sempre existe um burocrata ao nosso lado, disposto à obediência "cadavérica" e ávido por promoções na carreira, para receber uns trocos a mais. Um fiel cumpridor de suas obrigações Urge a insubmissão. Urge aprender a desobedecer. Nada é natural. Tudo faz parte de uma aprendizagem. Também se ensina a odiar.

Por fim, buscando explicações para o ódio latente, busquei em O ódio como política, a reinvenção as direitas no Brasil, no artigo de Luis Felipe Miguel "A reemergência da direita brasileira, as três grandes fontes de ódio no Brasil de hoje: as igrejas cristãs da teologia da prosperidade; o velho anti comunismo, herdado da doutrina da ideologia da Segurança Nacional e as doutrinas do ultra liberalismo  dos "livres mercados", em que a competição e o $uce$$o são apresentados como as virtudes supremas. Nada de fraternidade, solidariedade e nada de compaixão. Já encomendei outro livro, mas este, por enquanto, está na minha lista de espera. Espelho do Ocidente, o nazismo e a civilização ocidental, de Jean-Louis Vullierme. E fico com os meus temores. Estamos rodeados de personalidades autoritárias, possuídas pela banalidade do mal. O mal nos ronda.

P.S. (08.03.2019) "Hannah Arendt descrevera o 'crime de escritório' e alguns de seus mecanismos. Trata-se de uma contribuição importante, pois mostra a existência de uma alavanca por meio da qual uma ideologia vem a funcionar sem necessidade de uma adesão completa da maioria de seus executantes. Mas ela deixa inexplorada a causa primeira, na medida em que uma alavanca só é eficaz quando se aplica a uma força já disponível, independentemente dela". Páginas 8 e 9.




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