sábado, 2 de março de 2019

A Galinha dos ovos de ouro. Metáfora da ganância.

Em 2018 o Brasil teve um processo eleitoral totalmente atípico. As forças minimamente civilizadas perderam o terreno quase por completo.  Um cio de fera, isto é, de animal em estado de natureza, explicando ainda melhor, sem nenhum revestimento de pudor, imposto pela moral ou pela civilização, tomou conta de grande parte do empresariado brasileiro, vislumbrando ganhos imediatos. Com o tal do coiso, as relações de  trabalhado "deveriam beirar a informalidade", sem nenhuma proteção social legal. O furor deste cio fez com que, praticamente, obrigassem os funcionários a vestirem camisetas nojentas e os forçaram sob pesadas ameaças a votarem no indecente coiso.

A essa elite ralé, antiintelectualista por excelência, escravocrata e predatória por herança, dedico esta fábula, lembrando-lhes que viverão as consequências do encolhimento do mercado interno e a consequente retração de seus negócios. Certamente não lhe faltarão ovos de ouro, uma vez que estes já estão devidamente acumulados, sabe Deus a qual custo. E por falar em Deus, junto a Ele poderão aplacar as dores de suas consciências, oferecendo caridosas esmolas aos milhares de pobres e miseráveis que ajudaram a produzir fartamente. Que a consciência lhes seja pesada. E, ainda uma última observação: Estes homens ricos são os verdadeiros pobres, uma vez que eles possuem apenas o dinheiro. Não possuem o entendimento do humano e da humanidade. Falta-lhes o conhecimento. Então, para eles - segue a fábula:


Era uma vez um casal sem filhos que vivia numa pequena cidade do interior. Eles eram conhecidos por serem muito avarentos e nunca estarem satisfeitos com nada. Se estava sol, queixavam-se do calor; se estava frio e chuva queixavam-se de viver num sítio onde nem sequer podiam sair de casa... Para além do mais, eram capazes de tudo por uma moeda de ouro!

Um dia, um duende brincalhão que por ali passava ouviu o que se comentava na cidade sobre o casal, e decidiu provar se era verdade tudo aquilo que se dizia sobre eles.

Numa tarde em que o marido vinha da floresta carregado com lenha, o duende apareceu-lhe de dentro do tronco de uma árvore e disse-lhe: "Olá bom homem! Sentes-te bem? Pareces cansado e triste... Será que estás com fome ou doente?

O homem, um pouco assustado com a presença do duende, respondeu: "Não...não estou doente nem cansado, e também não tenho fome... nada de mal se passa comigo. Só estou triste porque eu e minha mulher somos pobres e não conseguimos ter muitas coisas boas como gostaríamos de ter... 

Então o duende respondeu: "Se não tens fome nem frio nem estás doente, então alegra-te porque não és pobre!" Mas o homem insistiu: "Sou sim. Um homem que não tem ouro é pobre !"

O duende riu-se e respondeu: "Olha que estás enganado. Eu se quiser posso ter todo o ouro do mundo, pois como sou duende sei onde se escondem todos os tesouros. Mas a mim o que me faz falta é a luz do dia, ter o que comer e uma casa quentinha onde possa dormir descansado. Além disso preciso de ter saúde e ser forte para poder caminhar e apreciar tudo o que me rodeia. E como tenho tudo isso sou muito rico e feliz!

"Disparate!" Disse o homem, e insistiu "Ser pobre quer dizer que não se tem ouro. E como eu não tenho ouro não posso ser feliz".

"Tenho muita pena de ti homem", disse-lhe o duende "E para que sejas feliz como achas que deves ser, vou dar-lhe uma galinha que todos os dias porá um ovo de ouro. Só terás de esperar e recolher todos os dias um ovo. Não tarda nada, terás todo o ouro que sempre desejaste ter e tu e a tua mulher serão felizes para sempre".

Do tronco onde estava o duende saiu uma galinha que cacarejava alegremente. O homem, espantado, colocou-a rapidamente debaixo do braço e desatou a correr ladeira abaixo direitinho a casa, enquanto o duende ria às gargalhadas. Assim que entrou em casa mostrou à sua esposa a galinha e contou-lhe tudo o que tinha acontecido.

Marido e mulher ficaram toda a noite à espera que a galinha pusesse o tão desejado ovo de ouro. De manhã cedo, a galinha começou a cacarejar e, pouco depois, surgiu debaixo dela um enorme e brilhante ovo de ouro!

Ao verem o ovo, o casal ficou radiante mas, minutos depois, a mulher comentou: "Que chatice... teremos de esperar até amanhã para termos outro ovo de ouro!" Ao que o marido respondeu: "Pois é...que azar. Terão de passar muitas semanas até termos ovos suficientes para sermos os mais ricos da cidade. Devia ser por isso que o duende se ria às gargalhadas quando me deu a galinha".

Então a mulher lembrou-se: "Sempre ouvi dizer que as galinhas já tem dentro delas todos os ovos que vão pôr... Se isso é verdade, porque é que não matamos agora a galinha e tiramos todos os ovos de ouro de uma vez? Seremos bem mais espertos do que o duende pensa!" 

O homem concordou, e sem hesitar, pegaram na pobre galinha e abriram-na para assim poderem tirar todos os ovos. Mas qual não foi o espanto do casal ao ver que dentro da galinha não havia nenhum ovo de ouro...Marido e mulher começaram a praguejar e a chorar, lamentando-se da sua sorte, pois por ganância tinham perdido para sempre a galinha dos ovos de ouro.

Espreitando pela janela, o duende ria-se e abanava a cabeça, pensando que a verdadeira felicidade não está em ter ou não ter ouro mas está no coração de cada um.

Também, neste mesmo sentido, recomendo, do rico folclore gaúcho a lenda da Salamanca do Jarau. Nela, o dinheiro, ou o ouro, só tinha valor quando era para atender a uma necessidade real, que não a da acumulação.














2 comentários:

  1. Muito pertinente a análise da ganância existente nos Seres Humanos. Para muitos não importa os meios utilizados para atingirem seus objetivos. Não existe nada de humano em determinados "humanos".

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  2. Muito obrigado pelo seu comentário. Ganância ilimitada. Muita pobreza. De espírito.

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