quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

1930-1964. Um Panorama Cultural.

Este post tem origem no livro Memórias Póstumas de Noel Rosa - Uma longa conversa entre Noel  e São Pedro num botequim lá do céu, de autoria de Luciana Sandroni. A efervescência musical de Noel Rosa ocorreu nos anos 1930. Ele morreu no ano de 1937, com apenas 26 anos de idade. Viveu o tempo suficiente para ter o seu nome gravado para sempre no panorama cultural brasileiro, como um dos fundadores do autêntico samba brasileiro, ao introduzir elementos africanos na música e a crítica social nas letras de seus sambas.
Um belo livro sobre a vida de Noel Rosa. A Vila Isabel, sua vida e sua arte e o seu legado.

Quis ver alguma coisa a mais. E isso eu vi no livro Olhando para dentro - 1930-1964, sob a coordenação de Angela de Castro Gomes e, mais precisamente, no quinto capítulo em que Eliana de Freitas Dutra examina a evolução cultural ocorrida nesse período. O livro integra a coleção História do Brasil Nação: 1808- 2010, sob a direção de Lilia Moritz Schwarcz. Os principais focos estão centrados no livro e nas revistas, no rádio e na música, no teatro de revista e no emergente cinema brasileiro. Outro foco é a preocupação do Estado brasileiro com a questão. Afinal, o período tem uma forte marca do Estado Novo e do Departamento de Imprensa e Propaganda, o famoso DIP.
Neste livro está o texto de Eliana de Freitas Dutra, que mostra a evolução do panorama cultural de 1930 a 1964.

Não é um texto longo, ocupando as páginas 229 a 274, com fartas ilustrações fotográficas, que ocupam até páginas inteiras. A parte que eu mais gostei foi a que se refere ao livro e a preocupação com a formação de leitores. Como sempre, havia na época, os otimistas e os pessimistas. Eliana destaca a importância do livro, meio cultural de raiz, que abre as possibilidades para as outras expressões e manifestações da cultura. Os grandes vilões para a falta de leitores eram a pouca escolarização do povo, o alto custo do papel e do livro e a falta de estímulo para o ofício de escritor. Raros são os que viveram exclusivamente dos direitos autorais. Os fatores favoráveis foram o surgimento dos métodos ativos da Escola Nova e as políticas de Estado em favor da leitura, como o surgimento de bibliotecas e do lançamento de coleções, editadas com o auxílio de dinheiro público.

Também contribuiu o espírito nacionalista da época e a preocupação com a literatura juvenil. O grande nome a batalhar para a edição de livros foi Monteiro Lobato, o proprietário da Companhia Editora Nacional. Também foi na década de 1930 que surgiram os grandes livros de interpretação do Brasil. Assim, a Editora Schmidt lança Casa-Grande&Senzala, de Gilberto Freyre, em 1933 e, em 1936 é lançado Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, que inaugura a coleção Documentos Brasileiros da José Olympio. Ainda em 1936 Gilberto Freyre lança Sobrados e Mocambos, da Coleção Brasiliana, da Companhia Editora Nacional.
Monteiro Lobato foi um dos homens que se preocupou com a difusão do livro.


Pela importância desses livros deixo aqui o pequeno comentário da autora: "Os livros de Gilberto Freyre mergulham no universo escravocrata, na vida nos engenhos, e mostram a força do legado dos negros na formação da cultura brasileira. Por seu lado, Sérgio Buarque se debruça sobre a difícil herança da experiência histórica colonial e o destino da modernidade brasileira".

A questão nacional, a preocupação com a interpretação do país e o seu sentido abrem a possibilidade para muitos ensaios e para a riqueza extraordinária dos temas regionais. As editoras são também grandes responsáveis pelo impulso literário das décadas seguintes. A José Olympio lança escritores como José Lins do Rego, Jorge Amado, Rachel de Queirós, Graciliano Ramos e Guimarães Rosa. Já a Globo, de Porto Alegre, edita Érico Veríssimo, Mário Quintana e Augusto Meyer. Entre as editoras ainda merecem destaque a Livraria Martins Editora, a Melhoramentos e a Francisco Alves.
Edição comemorativa do livro de nº 200 do Catálogo Brasiliana, da Companhia editora Nacional.


O cinema vai ganhar força nas décadas de 1930 e 1940 com a Brasil Vita Filmes, com a Atlântida Cinematográfica e mais tarde com a Vera Cruz. Na época também se discutia a relação entre o livro e o cinema, se o cinema não representaria o fim do livro. Uns achavam que o cinema até ajudaria a ilustrar melhor o próprio livro. Já se discutia também o cinema como um recurso didático. O cinema brasileiro ganha os seus primeiros prêmios internacionais.

A música se entrelaça com o rádio, surgindo os grandes cantores e as rádios com seus programas de auditório que fizeram muito sucesso e lançaram os grandes cantores(as) como Ary Barroso, Emilinha Borba, Lamartine Babo, Sílvio Caldas e Vicente Celestino, pela Rádio Nacional e Carmen Miranda, Noel Rosa e Francisco Alves pela Mayrink Veiga. A Rádio Nacional será a responsável por trazer, em 1950, Luiz Gonzaga. E assim, a autêntica música popular brasileira vai ganhando a sua forma.
O rádio ajudou a consolidar a autêntica música popular brasileira. As cantoras do rádio.


Um último aspecto a destacar. A presença do Estado. Exerceu influência negativa sob a forma de censura e positiva promovendo edições e lançamentos de livros, inclusive no exterior. Tirava proveito político com a arte e a cultura, usando-a para alavancar o projeto nacional-desenvolvimentista da época. Ressalte-se ainda que politicamente o período é totalmente dominado pela figura Getúlio Vargas.
Em 1950 já temos a televisão. A TV Tupi.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário. Depois de moderado ele será liberado.