segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

O Estrangeiro. Albert Camus.

Quais são os possíveis motivos para iniciar a leitura de um livro? São os mais variados possíveis. Eu terminara de ler Pastoral Americana, um denso livro de Philip Roth, de 509 páginas, em edição de bolso. Queria ler algo menor, não em qualidade, mas em tamanho. Fui à minha coleção - Os Imortais da Literatura Universal. Escolhi um bem fininho e com letra bem grande. Me assustei. Eu pegara Albert Camus, simplesmente um Nobel de literatura, do ano de 1957, o primeiro escritor nascido na África contemplado com este prêmio. O título do livro - O Estrangeiro.
Da coleção Os Imortais da Literatura Universal, O Estrangeiro - de Albert Camus.

Não sou muito familiarizado com o escritor. O conhecia mais pela filosofia do que pela literatura. Lembro ter assistido  A Peste, sem entender muita coisa e tenho em casa, inacabado em sua leitura - O homem revoltado. Hoje eu não leio um livro sem, minimamente, situar e datar o escritor e a sua obra. O Estrangeiro foi escrito em 1942, portanto em plena Segunda Guerra. Albert Camus é francês, nascido na Argélia, em 1913 e morto na França, em um acidente de carro, ou assassinato, em 1960. A Argélia se tornaria independente em 1962. As marcas da guerra estão profundamente presentes em sua vida. Já em 1914 fica órfão de pai, vitimado na Primeira Guerra. Na Segunda, combateu na Resistência francesa.

Li o livro num tiro só. Uma história muito simples. Ao final soltei uma exclamação. Que absurdo! E eu não estava errado. Mostrar o absurdo é o essencial da literatura de Camus. Eram os tempos do auge do existencialismo. Aliás, Camus fora grande amigo de Jean Paul Sartre. Mas qual era, afinal de contas, o enorme absurdo que estava contido em O Estrangeiro. A condenação à morte de Meursault, aparentemente um pacato e inofensivo cidadão francês e rigoroso cumpridor de suas obrigações, residente em Argel.
Capa interna de - O estrangeiro. O absurdo e a desproporção.

Meursault recebe a notícia do falecimento de sua mãe, que ele havia internado num asilo, por falta de condições para o seu cuidado. Ele comparece ao velório e ao funeral, a oitenta quilômetros de Argel, sem aparentar grandes emoções e nem mesmo, ao certo,  saber a idade dela. Após o enterro volta imediatamente a Argel e, ainda, aproveita o sábado e o domingo para uma praia e ir ao cinema com Maria. A vida voltara ao seu normal. Raimundo, um vizinho seu, se metera numa confusão com um árabe por causa de mulher.
Num outro fim de semana fora novamente à praia, com Maria, Raimundo e outros amigos. Cruzam com o árabe, que fere Raimundo. Depois dos cuidados necessários, os amigos voltam novamente à praia e, mais uma vez, cruzam com o árabe, armado de uma navalha. Meursault o mata com um tiro. Para se certificar de sua morte, outros tiros são disparados. Esta é a primeira parte do livro, narrada em oitenta páginas e seis capítulos. Na segunda parte são mais cinco capítulos e umas sessenta páginas. É o seu julgamento e condenação.
Albert Camus. Prêmio Nobel de literatura em 1957.

Depois da prisão começam as instruções do seu processo. Ganha um advogado de defesa. Todos lhe são muito amáveis, até o dia do julgamento. Meursault permanece muito tranquilo em todo o processo, achando tudo absolutamente normal, até que começa o seu julgamento. Nunca reclamara de nada. O procurador era muito severo. Lhe perguntou mais sobre a morte da mãe do que sobre o assassinato do árabe e ele ficou perturbado sem saber direito qual fora o seu crime. Teria sido o assassinato ou os seus sentimentos, ou melhor, a falta deles? Por fim lhe comunicam a sentença: "o presidente disse-me de um modo muito estranho que me cortariam a cabeça numa praça pública em nome do povo francês". Foi aí que eu exclamei: Mas que absurdo. Que enorme desproporção. Que enorme injustiça. Um cidadão tão pacato.

O próprio Camus me ajudou a compreender melhor a sua obra. Ele próprio a comentou nos seguintes termos: "Não seria errado ler O Estrangeiro como a história de um homem que, sem nenhuma atitude heroica, aceita morrer pela verdade. Meursault para mim não é um perdido, mas um homem pobre e nu, apaixonado pelo sol que não faz sombra. Longe de ser privado de toda sensibilidade, uma paixão profunda, porque tenaz, o anima - a paixão do absoluto e da verdade".
Albert Camus - um pensador existencialista. Seria a existência um absurdo?


Não vou parar por aí na leitura de Camus. O primeiro livro seu que irei retomar será O Homem Revoltado. Também A Peste figura na minha lista. Albert Camus sofreu profundas influências de escritores como Dostoiévski e Kafka. Sobre a sua morte por acidente ou assassinato..., os amigos stalinistas...


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