domingo, 20 de dezembro de 2015

As Pupilas do Senhor Reitor. Júlio Dinis.

Em minhas análises sempre gosto de situar no tempo o que é examinado. No caso, o autor e a obra. Júlio Dinis é um homem da cidade do Porto. Teve vida curta. Cedo foi vitimado pela tuberculose, doença fortemente vinculada à sua família. Nasceu em 1839 e morreu em 1871, com a idade de trinta e um anos. Formou-se em medicina, mas a saúde precária, praticamente, o impediu de exercer a profissão. Lhe sobrou a de escritor, transitando entre o romantismo, o naturalismo e o realismo. As Pupilas do Senhor Reitor, apareceu como folhetim em 1866 e como livro em 1867.
As Pupilas do Senhor Reitor. Da coleção BIBLIOTECA FOLHA.

Júlio Dinis é o pseudônimo de Joaquim Guilherme Gomes Coelho. O seu romance é extremamente popular, sendo assim, de muito fácil leitura. É um romance ambientado em pequena cidade do interior português, na região do Porto. É um romance rural. Como eu também tenho a mesma origem, o ambiente rural, em muitos momentos me senti um próprio personagem. Predomina um forte sentimento moral e o senhor reitor tinha uma autoridade inconteste. Procurei diferenças entre reitor e pároco, ou ainda, vigário, mas não as encontrei. Reitor era para nós, no nosso tempo de seminário, o chefe deste seminário. No caso do romance ele era o pároco ou vigário.

Além do sentimento fortemente moralizador e da autoridade do senhor padre, outros elementos de um romance rural estão fortemente presentes, como a festa popular, como a folheada, ligada ao milho, na qual ocorriam muitos abraços e beijos em noites de luar, que deixavam os olhares do padre extremamente atentos. Ainda outro componente forte era a fofoca, sempre de mãos dadas com a inveja. João da Esquina, o tendeiro era o seu grande mestre.

As pupilas do senhor reitor eram duas meninas, Margarida e Clara. Eram meias-irmãs. Margarida era muito maltratada pela sua madrasta, merecendo toda a pena da irmã. Muito cedo viveram na orfandade, tendo a sua educação sido  entregue ao senhor reitor, na qualidade de tutor. As duas meias-irmãs dividem o protagonismo do romance com os dois filhos de José das Dornas, um abastado proprietário de terras. O nome dos filhos  de José era Pedro e Daniel.

Pedro era forte e permaneceu na roça. Daniel era mais franzino e, por isso, o pai o encaminhou para os estudos, com grandes escrúpulos, ao fazer esta diferenciação. Seguir carreira eclesiástica foi o primeiro intento do pai e que provocou entusiasmo no senhor reitor, que, inclusive, se prontificou para iniciá-lo nos estudos de latim. O menino se atrasava constantemente, até que foi flagrado em namoricos com uma menina, a quem prometeu casamento. Para padre é que não tinha vocação. Em confabulação entre o pai e o padre lhe destinam o curso de medicina.
Júlio Dinis. Uma curta vida e, em consequência, uma curta vida literária.

O tempo se passa na pacata vila, em que todos vão crescendo sem grandes novidades. Pedro se enamora de Clara, com inteira aprovação do pai e do reitor, que já combinavam o casamento. Enquanto isso, na cidade do Porto, Daniel se formava e voltava para a sua vila para concorrer com o médico local, o octogenário Dr. João Semana. Aí começa a confusão e as fofocas. A primeira cliente do Dr. Daniel foi curada com versos apaixonados para a menina trigueira. Quase o obrigaram a casamento. A menina trigueira era Francisca, filha de João da esquina, que como já sabemos, comandava as fofocas.

Para abreviar a história ouçamos José das Dornas falando do Dr. Daniel: "Tem diabo o rapaz! Já vejo que é impossível deixá-lo ficar na terra. Lá me custa que sempre é filho, mas não há outro remédio. Que vá para o Brasil". O que aprontara dessa vez o jovem médico. Não é que inventou namoricos com Clara, a noiva de Pedro, quase provocando uma noite de assassinato e de suicídio. Depois de muita renúncia, sofrimento e tentativa de suicídio, as duas pupilas do senhor foram bem encaminhadas, para bons casamentos. Clara casou com Pedro e Margarida, meio a gosto e a contragosto, casou com Daniel. Lembrando que a menininha que tirara Daniel do caminho do seminário, fora Margarida. 

O romance agradou ao público em cheio. É bom dizer que é um típico romance de ficção, pois pouca coisa tem de real. Os fatos são impossíveis de terem acontecido e quanto a análise psicológica dos personagens, não tem muito rigor e os fatos também aconteceram antes da invenção da psicanálise. Volto a repetir, As Pupilas do Senhor Reitor, é um típico romance de ficção, mas muito gostoso e agradável de se ler.

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