domingo, 28 de fevereiro de 2016

"Francisco é um Jesuíta Paraguaio", afirmou Umberto Eco.


Recentemente tivemos a oportunidade de visitar as missões jesuíticas em terras paraguaias, argentinas e no Rio Grande do Sul. O nosso grupo foi formado pelo meu amigo Valdemar, o seu cunhado Adilson e eu. Simplesmente ficamos maravilhados diante do que vimos. Houve total superação de todas as expectativas que tínhamos. Particularmente chamou a atenção a organização que os padres jesuítas deram às suas 'reduções'.
Adilson, Valdemar e eu na redução jesuítica de Trinidad, no Paraguai.


Romina foi a nossa guia no Paraguai, em Trinidad. Ela é uma menina maravilhosa, que põe paixão no trabalho que realiza. Ao falar dos jesuítas, ela meio que titubeava, temendo não conseguir esclarecer de maneira suficiente a grandeza do trabalho destes jesuítas, mas sem hesitação nenhuma, manifestava ódio total aos bandeirantes. Os bandeirantes foram talvez a razão principal deste aldeamento, como método geral deste projeto de 'conquista espiritual'.

Já de volta e, sabedores da morte de Umberto Eco, Valdemar me contou que o escritor também havia escrito sobre os jesuítas no Paraguai. Facilmente localizei o texto no portal do Instituto Humanitas, da Unisinos, uma universidade jesuítica. O texto fazia referência a visita do papa Francisco ao Paraguai, mesmo antes até, de sua visita à sua natal Argentina. O texto tinha por título Cinco razões pelas quais o papa escolheu visitar o Paraguai. A primeira delas era esta afirmação de Umberto Eco de que Francisco era um jesuíta paraguaio. Eco se refere às missões como um "Santo Experimento".
A grandeza da igreja da redução de Trinidad.


A referência que Eco fez a estas missões se deveu a visita do Papa Francisco ao Paraguai em julho de 2015. Bem antes, certamente por ocasião do anúncio desta visita, Eco escreveu para o The new York Times em setembro de 2013 sobre o significado desta visita. Na época ela causava estranheza, uma vez que o papa argentino preferiu visitar o Paraguai, antes mesmo, do que a sua terra natal. O Instituto Humanitas, UNISINOS - comenta o artigo e encontra a seguinte explicação: "É um erro considerá-lo um jesuíta argentino. Talvez deveríamos considerá-lo um jesuíta paraguaio", afirmava Eco em seu artigo. Quais seriam as razões para tal.

O texto do Instituto Humanitas interpreta dessa maneira o artigo do escritor e semiólogo italiano. Vou reproduzi-lo ipsis literis para melhor identificar as citações:  - Neste texto, o autor de O Nome da Rosa sugere que a educação religiosa do primeiro pontífice latino-americano "foi influenciado pelo 'Santo Experimeto' dos jesuítas no Paraguai", referindo-se às experiências das famosas missões jesuíticas guaranis que foram fundadas a partir do século XVII, em territórios que hoje compreendem parte do Paraguai, Argentina e Brasil".
A cátedra da catedral de Trinidad.

O texto continua citando Eco. "Os missionários jesuítas decidiram reconhecer os direitos dos indígenas (especialmente dos guaranis que viviam principalmente no Paraguai em condições praticamente pré-históricas) e os organizaram em 'reduções', que eram comunidades autossustentáveis. Os jesuítas os ensinaram a se organizar por si mesmos, em total comunhão com os bens que produziam, embora com o objetivo de 'civilizá-los', ou seja, de convertê-los. Para alguns dos nativos também ensinaram arquitetura, agricultura, o alfabeto, música e artes; desse espaço, saíram alguns escritores e artistas de talento", relata Umberto Eco.

O texto do Instituto continua: - O semiólogo acredita que esta experiência, que considera "utópica", ainda que "paternalista", influenciou em grande medida no caráter e, sobretudo, na formação religiosa do atual Pontífice. "Agora, se decidirmos avaliar as ações de Francisco a partir deste ponto de vista, devemos considerar o fato de que se passaram quatro séculos desde esse 'Santo Experimento"; que agora se reconhece amplamente a noção de liberdade democrática, inclusive entre os fundamentalistas católicos; que o Papa atual, certamente, não tem a intenção de realizar nenhum experimento desse tipo na ilha de Lampedusa; e que o melhor que poderia conseguir é eliminar gradualmente o Instituto para as obras de religião, o chamado banco do Vaticano", destaca Eco.
A redução jesuítica de Jesus de Tavarangue, no Paraguai.

O texto do Instituto termina esta primeira razão da preferência da visita ao Paraguai, afirmando que  - nesta influência histórica dos jesuítas estaria um dos primeiros elementos que aproximam afetivamente o atual papa Francisco ao universo cultural do Paraguai.

Em outros posts já descrevi a nossa visita, inclusive sobre as razões do final deste "Santo Experimento". A experiência utópico religiosa socialista deveria ser extinta para eliminar esta experiência de economia coletiva tão bem sucedida, para nestas terras implantar o latifúndio e novamente reduzir os índios guaranis ao seu estágio de condições pré históricas. O latifúndio os desquerenciou, mas não conseguiu apagar nestes descendentes guaranis a grandeza da herança que lhes foi deixada pelo "Santo experimento". Destacaria, do Rio Grande do Sul, o canto dos "Troncos Missioneiros", que em tudo aquilo que cantam, eles ainda ecoam a voz das missões.



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