segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Missões Jesuíticas na Argentina. San Ignacio Miní e Nuestra Señora de Loreto.

O nosso dia começou, ainda na cidade de Encarnacion. Embora a agitação do dia anterior, já cedo rumamos em direção ao centro da cidade de Posadas. A travessia, mais uma vez foi tranquila. A ponte estaiada que une as duas cidades recebe o nome do padre Roque Gonzales, um dos três mártires rio-grandenses. O fluxo de turistas argentinos para as praias do rio Paraná, no lado paraguaio, eram enormes.
A catedral da cidade de Posadas.


No centro de Posadas, a capital da província de Missiones, visitamos a catedral e a Plaza de Armas, além de uma livraria, em busca de literatura missioneira. Soube por diversas consultas que à noite é possível jantar ao som de um chamamé. Mas nós seguimos em busca da Ruta 12, pela qual  se chega, depois de uns 70 quilômetros andados, às quatro missões argentinas que integram o Patrimônio da Humanidade. San Ignacio Miní, Nuestra Senora de Loreto, Santa Ana e Santa Maria La Mayor. Loreto mereceu a nossa primeira das visitas.

Loreto nos remete a Guaíra. Certamente muitos lembram da pequena igrejinha existente nesta cidade paranaense. A conheci nos tempos em que morava em Umuarama, quando ainda existiam as Sete Quedas. Pois bem, perseguidos pelos bandeirantes, os jesuítas transferiram a missão. Levaram em torno de um mês descendo as águas do rio Paraná. A redução ocupa uma área de 75 hectares  e se dedica hoje, especialmente, à preservação florestal, de mata atlântica.. Um guia acompanha a visita. A mata tomou conta de quase tudo. Este trabalho da natureza foi muito facilitado pelo uso do adobe, as casas construídas com o uso do barro.
Uma coluna da ruína de Loreto.


As tempestades neste local são muito frequentes. Os ventos são muito fortes e derrubam muitas árvores.  O trabalho de sua remoção é uma das tarefas maiores dos funcionários do local. Muitas escavações ainda precisam ser feitas, pois são visíveis apenas pequenas partes das ruínas. Mas dá para ter uma noção perfeita do que foi a redução. Para variar, em meio a visita, um temporal irrompeu. Chuva da pesada. Conseguimos abrigo mas como a demora foi grande, enfrentamos a chuva na sua primeira amenizada. Na espera, fomos conversando com o guia. Um dado que creio ser mais ou menos geral. O interesse pela restauração destas reduções data dos anos 1940.

Um almoço nos separou de San Ignacio Miní. San Ignácio está muito bem conservada e pode ser vista em muitos detalhes. É outra das reduções que nos fornecem uma ideia completa do que era o projeto. A nossa visita foi inteiramente prejudicada pela chuva. Visitamos e fotografamos, mas não estivemos acompanhados de guia. Mas são perceptíveis a grande praça, a igreja, o colégio, as oficinas e as casas dos indígenas. Esta redução também oferece o espetáculo de som e de luzes. Saímos do local, simplesmente encharcados. Foi uma pena.
San Ignacio Miní, a mais preservada das reduções na Argentina.


Uma dica importante. Procure se hospedar nas proximidades dessas reduções. Não visitamos Santa Maria La Mayor, nem Santa Ana, mas elas também ficam nas proximidades. Fazer o ponto em Posadas fica bastante distante, uns setenta quilômetros. Num dia normal, isto é, sem chuvas dá para visitar as quatro. Encontramos uma dificuldade em localizar a Ruta 14, que dá destino para Santo Tome e São Borja,  sem voltar para Posadas, mas, depois de alguns quilômetros a mais, nos localizamos. Em Santo Tome, damos uma volta pela cidade, mas não nos animamos muito. Nem tentamos ver uma loja de vinhos e, assim, fizemos todo o caminho argentino, sem ao menos trazer uma única garrafa em nossa bagagem. O câmbio não está favorável. Também não trouxemos nenhum artesanato, que sinceramente, não vimos à venda.
Mais uma vista de santo Ignacio Miní.


Em Santo Tome me lembrei muito dos momentos tensos que envolveram o enterro do presidente João Goulart, que morreu exilado na Argentina. A ditadura militar não o queria no Brasil, nem mesmo depois de morto. Este foi um dos episódios mais lamentáveis em nossa história. Coisas somente possíveis em ditaduras.
Entardecer no rio Uruguai, no porto de São Borja.


Antes da travessia, a aduana e o serviço de imigração. Sem problemas, a não ser o pedágio mais caro que já vi em toda a minha vida. R$ 54,00 para voltar ao Brasil. Compensou todos os pedágios não pagos ao longo das rodovias. Se não me engano foram apenas dois. Imbuídos de um profundo sentimento cívico, entramos em São Borja, a pequena cidade que deu ao Brasil dois de seus queridos presidentes. Getúlio Vargas, o grande estadista construtor do Brasil como uma Nação e João Goulart, que na minha visão, foi o mais generoso e bondoso de nossos presidentes. Mais um dia pleno, tendo a lamentar, apenas, as fortes chuvas.

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