quarta-feira, 31 de maio de 2017

maisquememória. Marcelo Backes.

Conheci Marcelo Backes pelos seus trabalhos com a filosofia, mais precisamente com o seu trabalho de tradução e organização do livro A Ideologia alemã de Marx e Engels. Também tinha visto algo de seu trabalho com a literatura. O reencontrei agora, com uma ida ao Shopping, onde havia uma pequena feira de livros de ponta de estoque. Entre os livros estava o quasememória. Como aprecio o gênero, o de memórias e o preço estava mais do que em conta, não tive dúvidas. A compra foi imediata.
O livro de muitas memórias por cidades alemãs e europeias.


O autor, um gaúcho missioneiro, tem uma história de vida de semelhanças com a minha, porém com um grau de intensidade muito maior, em todos os sentidos. Sempre fui mais bem comportado. Também é de uma geração bem posterior à minha. A nossa identificação se deve ao início de nossas atividades estudantis. Logo após as primeiras letras, o seminário foi o nosso destino. Também nos identifica o fato de ali não termos permanecido. Marcelo foi fundo em sua vida de estudante, atingindo um pico onde poucos chegam. Um doutorado na Alemanha.

Na Alemanha permaneceu por seis anos, fundado na cidade de Friburgo. As suas aventuras na Alemanha e países vizinhos são tema de seu livro quasememória. Estas começam por Göttingen, uma cidade eminentemente universitária, que tem em suas glórias o registro de 42 Nobeis. Nesta cidade, no Goethe Institut, Marcelo aperfeiçoou o seu alemão, que como eu, recebeu de presente de seus pais, que tudo fizeram para preservar a tradição e a língua.

Em 19 capítulos Marcelo conta as suas aventuras e também as desventuras com o desvencilhar-se das fortes doses de moralina católica recebidas ao longo de sua infância. Estas lhe renderam intensos prazeres mas também choros, desesperos e momentos de depressão e que, ao final, culminaram em um divórcio nada amigável. Acompanhar as suas viagens foi uma tarefa muito agradável.

Na Alemanha as principais cidades visitadas foram Hanôver, Friburgo, onde fixaria residência e fez os estudos de seu doutorado, Frankfurt, Heidelberg, Kassel, Colônia, Leipzig, Dresden, Stuttgart, Munique e Berlim, e outras menores. Toda a descrição tem gosto de quero mais, isto é, obter mais informações. Os focos são as diferenças regionais, os costumes, a culinária, os vinhos, a pãodurice e outros hábitos enraizados entre os alemães. O Caixa dois de Schröder e a feiura de Ângela Merkel também estão sempre presentes.

O autor também se aventurou em excursões pelos países vizinhos. A França que está mais próxima recebe as suas primeiras considerações, começando por Estrasburgo, que tantas vezes mudou de mão e pelos caminhos do vinho da Alsácia, de apenas 170 quilômetros de paraíso terrestre. Também chegou a Paris, para visitar o Louvre numa terça feira, dia em que ele está de portas fechadas.

Suas viagens também atingiram outros vizinhos como Luxemburgo, Bélgica e a Holanda e, do outro lado, a Áustria, a Suíça e a República Tcheca, com passagem pelas suas principais cidades. O mesmo também ocorreu com a Itália, recebendo visitas as cidades de Turim, Milão, Verona e Veneza. O trotear é sempre o mesmo. Questões culturais, as universidades, dados históricos, os seus monumentos e atrações turísticas e muitos diálogos com pintores e escritores, com ênfase nestes, nos pintores por paixão e nos escritores, como seu campo de estudos. 

Quando está praticamente se despedindo da Europa também recebe uma carta de despedida de Dona Alda, uma carta de despedida do casamento, que pelo jeito, muitos dissabores lhe causou, embora as suas renovadas promessas de se livrar das doses nada homeopáticas de moralina sexual de sua infância. Alda queria uma família constituída e estruturada e um filho. Já Marcelo se inclinava mais para ser um potro solto pelas coxilhas do mundo, uma referência à sua origem missioneira.

Quem acompanha o autor em todas as suas viagens é o pintor Oskar Kokoschka (1886-1980), de quem visita os quadros nos museus das cidades e os interpreta. Até adquire um de seus quadros, o que está devidamente registrado na carta de Dona Alda. Ao final Dona Alda volta para a sua Porto Alegre e ele se perderá pelas e nas belezas do Rio de Janeiro, com um pedido para que jamais seja enterrado em Porto Alegre.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário. Depois de moderado ele será liberado.