terça-feira, 3 de outubro de 2017

Assentamento Contestado, na Lapa. Uma visita.

30 de setembro 2017. Um sábado. Atendendo a um convite dos meus amigos, Regina e Valdemar, fui com eles ao Assentamento Contestado, na Lapa. É um assentamento do MST. Era uma atividade escolar promovida pela professora Regina, junto aos alunos do curso de direito da UNINTER. Foram dois ônibus e mais de cinquenta alunos.
O senhor Antônio e a sua conversa.
O resultado. 108 famílias produzindo produtos agro ecológicos.

Lá fomos recebidos pelo senhor Antônio, que com toda a tranquilidade e transparência começou a sua fala e se pôs a disposição para responder aos questionamentos propostos. A sua fala podia facilmente ser comprovada com a prática do que se via ao redor. Origem do MST, recrutamento de pessoal, acampamentos e assentamentos, relação com o governo foram as primeiras questões. As áreas escolhidas para serem ocupadas também ganharam o seu foco e o assentamento Contestado, em particular. Era uma área enorme, pertencente à INCEPA, que era grande devedora de tributos. Estes tributos entraram nas negociações para a desapropriação. O assentamento envolve 320 hectares de terra, na qual estão hoje assentadas 108 famílias.

A produção também mereceu um foco especial. A agro ecologia. Junto ao assentamento funciona uma escola latino americana de agro ecologia. Defendem a posição de que a propriedade da terra deve pertencer essencialmente às futuras gerações, por isso todo o cuidado com a preservação. Outro destaque é a questão da saúde alimentar. Livrar o corpo humano dos agro tóxicos. A melhor forma de fazê-lo é pela agricultura familiar e evitando as monoculturas. O agro negócio é para eles um enorme lixo tóxico e de empobrecimento rápido das terras.

 Com o senhor Antônio, visitando as instalações.

A organização da produção mereceu outro foco. A organização em cooperativa, visando a comercialização. Desde a compra dos insumos até a venda dos produtos colhidos, tudo passa pela organização cooperativa. Praticamente todos os assentados dela participam. Tem até industrialização de muitos de seus produtos. Atendem os mercados da Lapa e região e chegam a Curitiba, atendendo a vendas até pela via do WhatsApp. Produtos agro ecológicos da agricultura familiar. Acima de tudo um conceito.

Ao meio dia foi servido um almoço e, logo após, retomados os trabalhos. Tomo o depoimento de um aluno como o resultado do encontro. Este aluno rompeu com a sua timidez para falar o seguinte: "Vim aqui movido pela curiosidade. Vim com todos os preconceitos incutidos pela Mídia. Saio daqui com uma nova visão".  Os trabalhos foram encerrados com uma visita às instalações: o mercado da cooperativa, os depósitos e a pequena agro indústria. Um dia extremamente proveitoso, que eu considero como um dia em que ocorrem aqueles choques, aqueles que provocam verdadeiras rupturas em nossa formação, essencialmente conservadora em seus propósitos e origens.
 Antônio Tavares. Uma vida ceifada pelas lutas. Quem é o assassino?

Quero ainda destacar as palavras iniciais da fala do senhor Antônio. Muito próprias para alunos de um curso de direito. É preciso saber o que é a lei, quem a faz e para que e para quem ela é feita. Dentro da ordem, estas 108 famílias que, digamos, hoje vivem bem, estariam provavelmente vivendo a verdadeira tragédia humana das periferias das nossas grandes cidades, vítimas da venda das pequenas propriedades agrícolas, que promoveram o chamado êxodo rural brasileiro, especialmente, ao longo do período da ditadura civil-militar que se instalou no país em 1964. Muito aprendizado e os parabéns à professora Regina e ao coordenador do curso que também acompanhou as atividades. Importa ainda dizer que o assentamento está dotado de serviços de infra estrutura de educação e de saúde. Eles aprenderam a reivindicar organizadamente. Não confiam muito na representação política, via partidos. É democracia direta.

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