quarta-feira, 12 de junho de 2019

A Internacional. A oração leiga dos revolucionários de todo o planeta.

O hino - a Internacional - tem a sua origem na Segunda Internacional, reunida em Paris no ano de 1889, já sem a presença dos anarquistas. A letra é uma composição de Eugène Potier, em 1871. O poema ganhou a sua música em 1888, através do operário anarquista Pierre De Geyter, sob a inspiração da Marselhesa. Em 1889 passou a ser o hino dos trabalhadores de todos os povos e, por um certo tempo, o hino da União Soviética. Vejam o contexto da Segunda Internacional.

O motivo que me levou a este post foi a leitura de A greve de 1917 - Os trabalhadores entram em cena, de José Luiz del Roio. No quarto capítulo de seu livro, sob o título "Suada vitória" ele, num subtítulo fala  de uma determinada "oração leiga". Era o hino da Internacional, apresentado como "a oração leiga dos revolucionários de todo o planeta". Esta canção era cantada pelos grevistas em comemoração às conquistas da primeira grande greve geral havida no Brasil. Transcrevo na íntegra, o que vai pelas páginas 82 a 85.
Um livrinho simplesmente maravilhoso. A greve de 1917.

"A Internacional, canto dos trabalhadores de todo o mundo, traduzido em inúmeros países, tem letra do francês Eugène Pottier (1816-1887), que havia combatido na Comuna de Paris em 1871, e música do belga Pierre De Geyter (1848-1932). Adotada como hino pela Internacional Socialista, era usada também pelos anarquistas. Com a criação da Internacional Comunista, passou a ser também seu hino oficial.

As muitas traduções apresentam algumas variações. Em nosso caso, a versão mais conhecida é a do anarquista português Neno Vasco (1878-1923), de 1909. Ele viveu no Brasil de 1901 a 1910 e atuou decididamente na imprensa anarquista. Como alguns termos da letra são de difícil compreensão, pensou-se em algo mais leve e moderno. Porém, todas as tentativas falharam e seguimos com os versos de Neno Vasco há mais de um século. É sempre muito emocionante. Seguem seus versos:

De pé, ó vítimas da fome
De pé, famélicos da terra
Da ideia a chama já consome
A crosta bruta que a soterra
Cortai o mal bem pelo fundo
De pé, de pé, não mais senhores
Se nada somos em tal mundo
Sejamos tudo, ó produtores

Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional

Senhores, Patrões, chefes supremos
Nada esperamos de nenhum 
Sejamos nós que conquistemos
A terra mãe livre e comum
Para não ter protestos vãos
Para sair desse antro estreito
Façamos nós por nossas mãos
Tudo o que nos diz respeito

Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional

O crime do rico, a lei o cobre
O Estado esmaga o oprimido
Não há direitos para o pobre
Ao rico tudo é permitido
À opressão não mais sujeitos
Somos iguais todos os seres
Não mais deveres sem direitos
Não mais direitos sem deveres

Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional

Abomináveis na grandeza
Os reis da mina e da fornalha
Edificaram a riqueza
Sobre o suor de quem trabalha
Todo o produto de quem sua
A corja rica o recolheu
Querendo que ela o restitua
O povo só quer o que é seu

Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional

Nós fomos de fumo embriagados
Paz entre nós, guerra aos senhores
Façamos greve de soldados
Somos irmãos trabalhadores
Se a raça vil, cheia de galas
Nos quer à força canibais
Logo verás que as nossas balas
São para os nossos generais.

Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional

Pois somos do povo os ativos
Trabalhador forte e fecundo
Pertence a terra aos produtivos
Ó parasitas deixai o mundo´
Ó parasitas que te nutres
Do nosso sangue a gotejar
Se nos faltarem os abutres
Não deixa o sol de fulgurar

Bem unidos façamos
Nesta luta final
Uma terra sem amos
A Internacional

Durante décadas, inúmeros foram os mártires que a cantaram nas masmorras, nas salas de tortura e no patíbulo. Com a voz alta quando as forças permitiram ou apenas murmurando, num último fio de voz. Com força e ira marchando ao combate ou numa explosão de alegria nas vitórias. É a oração leiga dos revolucionários de todo o planeta".






2 comentários:

  1. É triste professor, uma versão de 1909 passaram 110 anos mais parece que foi escrito para esse momento que nos encontramos ... "O crime do rico, a lei o cobre
    O Estado esmaga o oprimido
    Não há direitos para o pobre
    Ao rico tudo é permitido
    À opressão não mais sujeitos
    Somos iguais todos os seres
    Não mais deveres sem direitos
    Não mais direitos sem deveres"

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    1. Meu amigo. É o sistema capitalista. Estamos vivendo a sua pior fase, a do capitalismo financeiro, improdutivo. De onde ainda tirarão para acumular mais? Quanto sofrimento este sistema causa para a humanidade. Agradeço o seu comentário.

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