quarta-feira, 29 de junho de 2022

Um banquete no trópico. 5. Um estadista do império. Joaquim Nabuco.

O quinto trabalho desse projeto http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/03/introducao-ao-brasil-um-banquete-no.html é a resenha do livro de Joaquim Nabuco Um estadista do Império, escrita por Luiz Felipe de Alencastro, para o livro Introdução ao Brasil - Um banquete no trópico, organizado por Lourenço Dantas Mota. O livro retrata a vida de José Thomaz Nabuco de Araújo, o pai de Joaquim Nabuco e é uma das maiores referências para se estudar o 2º Reinado, de D. Pedro II (1840-1889). Alencastro é historiador e cientista político, pesquisador do CEBRAP e professor da Unicamp. A resenha ocupa as páginas 113 a 131.

No primeiro volume, a quinta resenha.

Nabuco de Araújo foi um dos mais proeminentes personagens do Segundo Reinado, tendo sido magistrado, deputado, senador e ministro. Nasceu em Salvador em 1813 e morreu no Rio de Janeiro, em 1889. Era formado pela Faculdade de Direito do Recife. O seu filho, Joaquim Nabuco (1849-1910), temendo que o rico acervo de documentos de seu pai se perdesse, resolveu preservá-los. Esse seu trabalho se constitui no livro Um estadista do império, escrito entre os anos de 1897 e 1899. Ele cita as razões: "Foi o receio de que, se eu mesmo não o fizesse, nunca fosse utilizada essa para mim preciosa coleção que me decidiu a empreender a obra". O acervo contava com trinta mil documentos, livros, discursos e anais parlamentares. É a base para a obra.

Joaquim Nabuco dividiu esse acervo em três tipos diferentes de fontes: os discursos do pai como senador, como ministro, seus estudos ministeriais, tratados diplomáticos e projetos de lei; artigos e comentários que ele regularmente publicava na imprensa do Rio de Janeiro e São Paulo e, ainda a sua correspondência, livros lidos e depoimentos dados. Além dessas fontes, fez também entrevistas com contemporâneos de seu pai. 

Vale destacar o trabalho que Joaquim Nabuco fez no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Uma das especialidades do Instituto era o de redigir biografias de pessoas proeminentes da política, caminho que certamente contribuiu para que biografasse o seu pai. O olhar mais perspicaz que norteou o seu trabalho foi a visão de que a essência da vida política do Segundo Reinado se desenvolveu no Congresso, na Câmara dos Deputados e no Senado. Por isso a importância dos discursos e projetos de lei feitos e apresentados por Nabuco de Araújo. Ele privilegiou o Parlamento como a sua principal fonte. Posteriormente fez críticas a D. Pedro II pela sua forma "imperialista" de atuar, julgando ser a atuação do parlamento como uma concessão de sua majestade.

Do que tratam essas fontes utilizadas? Quais foram os grandes temas tratados pelo seu pai ao longo de suas atividades políticas? É a própria história do Segundo Reinado. Alguns temas foram tratados em maior profundidade e outros não mereceram tanto a sua atenção. O livro (originariamente com três volumes e hoje com dois) é composto de oito partes e desenvolvido ao longo de quarenta e quatro capítulos. Alencastro, em sua resenha, não faz uma análise linear ou sequencial dessas partes. Prefere uma abordagem pelos temas. Após depoimentos sobre a sua infância e juventude (primeira parte), Joaquim Nabuco entra nas diferentes atividades desenvolvidas pelo estadista. Assim na segunda e terceira parte temos a sua atividade parlamentar, na quinta, temos as questões jurídicas, com destaque para a organização do Código Civil. As outras partes são dedicadas à legislação do período, leis referentes ao tráfico e abolição gradativa da escravidão, sua atuação como presidente da Província de São Paulo, à guerra do Paraguai e questões diplomáticas posteriores, a questão da imigração e uma análise geral do sistema monárquico. As questões regionais foram apenas tocadas de leve. O tema da escravidão será melhor abordado em seu O abolicionismo.

Creio que conseguimos dar uma ideia geral do que é o livro Um estadista do império. Para dar, no entanto, uma visão mais abrangente da obra deixo os últimos dois parágrafos da resenha de Alencastro: "Por todas essas razões, Um estadista do império se tornou um clássico da literatura política brasileira. Em 1945, no final da ditadura varguista, depois dos anos de eclipse da atividade parlamentar, a classe política brasileira dará novo destaque às ideias de Nabuco. O mesmo fenômeno ocorrerá nos anos recentes, após a ditadura de 1964-1985. Mais uma vez, a obra vai ser apresentada como a prova argumentada e documental da elevação de vistas e da dignidade do Congresso, frente aos presidentes-ditadores.

Mas os dados mudaram substancialmente entre 1889 e 1985, e até mesmo entre entre 1945 e 1985. O Congresso não é o Parlamento e a Brasília do final do século XX (quando a resenha foi escrita) não tem, nem jamais terá, a importância e a influência nacional que o Rio de Janeiro exercia no final do século XIX. Além do mais, Um estadista, ao invés de estimular o otimismo sobre a eficácia e a perenidade da política parlamentar brasileira, pode também dar lugar a uma leitura pessimista. Ao fim e ao cabo, o livro narra a história de uma miopia política quase secular que redunda num enorme fiasco: confrontado ao escravismo desde a sua fundação, o Parlamento temporizou o quanto pode, deixou o problema tomar dimensões nacionais e internacionais insustentáveis e, quando resolveu agir, provocou a queda da monarquia e do regime parlamentarista". Deixo ainda a resenha do trabalho anterior Autobiografia, do Visconde de Mauá. http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/03/um-banquete-no-tropico-4-autobiografia.html


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