sexta-feira, 12 de maio de 2023

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país. 20. Maria Isaura Pereira de Queiroz.

Continuo hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.

Um enigma chamado  Brasil - 29 intérpretes e um país.

Esta é a vigésima resenha do livro que estamos analisando. Trata-se de expor a obra e o pensamento da socióloga  Maria Isaura Pereira de Queiroz. Ela é resenhada por Glaucia Villas Bôas, professora de sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sob o título A tradição renovada na obra de Maria Isaura Pereira de Queiroz. Primeiramente vamos ver alguns dados biográficos, contidos ao final do livro.

"Nasce na cidade de São Paulo, em 1918. Licencia-se em ciências sociais pela Universidade de São Paulo (1949) e conclui doutorado em sociologia pela École Pratique de Hautes Études em 1959. Na Universidade de São Paulo, torna-se professora de sociologia em 1951, livre-docente em 1963 e professora adjunta em em 1978. É fundadora do Centro de Estudos Rurais e Urbanos (1964). Leciona em universidades do Brasil, França, Canadá, Senegal, Suíça, Itália e Bélgica. É agraciada pelo Prêmio Jabuti em 1966. Desde 1990 é professora emérita da Universidade de São Paulo. Assina, dentre outros, O mandonismo local na vida política do Brasil (1970), O messianismo no Brasil e no mundo (1976) e Carnaval brasileiro: o vivido e o mito (1902)".

Mais uma vez, neste livro, um primeiro contato com a pesquisadora e professora. Ela se tornou conhecida por nos mostrar o Brasil interiorano, nos conta a resenhista. Por ela conhecemos coronéis, beatos, cabos eleitorais, cangaceiros, benzedeiras... . Muitos de seus personagens foram transpostos para o cinema por Glauber Rocha. Da vida urbana, nos mostrou um homem de uma conduta racional e padronizada. O seu foco de estudos era a origem das mudanças sociais, saber se eram de raiz conservadora, reformadora ou revolucionária.

No mundo da pobreza estudou, entre as camadas pobres os fenômenos do cangaço e do messianismo, bem como o mandonismo local e a sua preservação pelos grupos de parentela e de interesses. Procurava estudar a complexidade dos fatos, evitando as visões apenas dualistas. Evitava generalizações. Em seus estudos, evitava a análise pela luta de classes, pois ainda não a constituíamos. Analisava então as estratificações sociais. Vejamos uma parte da resenha a respeito:

"A centralidade do conceito de parentela na obra de Maria Isaura relaciona-se à defesa enfática de que a sociedade brasileira não poderia ser analisada exclusivamente da perspectiva das classes sociais, devendo o pesquisador observar a especificidade de casos concretos no tempo e no espaço. A autora preferia usar o conceito de estratificação social ao de classe social devido à falta de uma definição consensual e de intenso debate sobre o conceito de classe social em sua época. Para a pesquisadora, o Brasil ainda não era uma sociedade de classes. Contudo, aproximava-se dela uma vez que os indivíduos passaram a ser identificados em estratos a partir de sua renda, profissão e instrução, havendo mobilidade tanto vertical como horizontal. Segundo a autora, a mobilidade vertical era rara".

Os fundamentos de seus estudos de sociologia partiam da visão de que a sociedade brasileira ainda não se constituía como um modelo de sociedade moderna. Ela a estudava, oferecia diagnósticos e soluções, além de identificar as resistências. Na sociedade brasileira ela identificava como características "sua incivilidade, autoritarismo e sentimentalismo", ao contrário de "ingleses, franceses e norte-americanos". Ela também atribuía causas para o subdesenvolvimento brasileiro. Vejamos, nas palavras da resenhista: "Causas diversas do atraso e do subdesenvolvimento foram enumeradas em livros e pesquisas: o ethos brasileiro, a mistura das raças, a geografia, a irracionalidade do poder político, o tradicionalismo e a postura conservadora das elites".

Ela também considerava que as transformações brasileiras tinham a sua peculiaridade. Vejamos, mais uma vez nas palavras da resenhista: "Na sua acepção, os processos de industrialização, racionalização e padronização não anulavam as diferenças  históricas e culturais". Outra peculiaridade sua é o rigor analítico em sua obra. Ela seguia  a tradição europeia do saber, privilegiando o teórico e o conceitual. Glaucia assim termina a sua resenha: 

"Se havia uma intransigência quanto à análise rigorosa dos temas de sua escolha e demonstração de suas hipóteses, aquela atitude jamais impediu que concluísse suas pesquisas com perguntas e indagações, como se o mundo humano que tentava compreender fosse antes de tudo um problema infinito e o saber adquirido sempre incompleto".

E, como de hábito, o trabalho anterior sobre Antônio Cândido. 

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/05/um-enigma-chamado-brasil-29-interpretes_11.html

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