quinta-feira, 18 de maio de 2023

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país. 25. Richard Morse.

Continuo hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país.

Devo primeiramente dizer que Richard Morse não é um intérprete brasileiro do Brasil. Ele comparece como um brasilianist, um estrangeiro, no caso um estadosunidense, a se debruçar sobre o Brasil e sobre toda a América Latina. No livro, Richard Morse é resenhado por Pedro Meira Monteiro, professor de literatura brasileira no Departamento de Espanhol e Português, da Princenton University, sob o título A paixão latino-americana de Richard Morse. Vejamos dados biográficos seus, contidos ao final do livro:

"Nasce em 1922, na cidade de Summit, Nova Jersey, nos Estados Unidos. Em 1939, ingressa na Universidade de Princenton. Após participar na Segunda Guerra Mundial, inicia a pós-graduação na Universidade de Columbia, com o projeto de estudar a formação de São Paulo - cidade que conhece em breve viagem, em 1941. Em 1947, desembarca no Brasil para realizar sua pesquisa. Em 1949, torna-se professor da Universidade de Columbia; em 1963, de Yale. Atua como representante  da Fundação Ford no Brasil (1970) e secretário do Programa para a América Latina do Wilson Center (1988). Publica, entre outros, Formação histórica de São Paulo (1970), O espelho de Próspero (1988) e A volta de McLuhanaíma (1990). Falece em 2001, no Haiti).

Vou me ater, neste post, a algumas transcrições do resenhista. A primeira para conhecê-lo melhor: "Uma maneira para compreender o legado de Richard Morse é pensar com seriedade em sua biografia. Para além dos dados anedóticos, suas opções de vida têm muito a ver com seu trabalho no plano do pensamento social. A sua ligação com o Haiti, de onde é sua esposa [...] explicita a admiração em nada gratuita por esse 'cantinho afro-gálico da América-Latina', onde o fenômeno da 'crioulização' da língua condensa aquilo que se pode entender como uma profunda americanização da Europa - americanização que encerraria a possibilidade de tornar a herança europeia afinal menos provinciana, mais universal".

Sobre a origem de sua paixão latino-americana, numa visita a Cuba, ainda como estudante: "Fiquei perplexo comparando Cuba com os Estados Unidos; lá aquele calor humano, a expressão da vida, e aqui a neutralidade, o formalismo, a distância das pessoas, sempre tão discretas e sóbrias... Em Cuba o exagero emocional, nos Estados Unidos a racionalidade premeditada".

Sobre o livro De comunidade a metrópole: biografia de São Paulo (sua tese de doutoramento): "Ao traçar a 'biografia' da capital paulista, o historiador buscava compreender como as formas de vida e os valores se transformam no processo de metropolização. Nas palavras do historiador Dain Borges, ali se desenha o motivo principal do 'brasilianismo' de Morse: 'a dialética entre regionalismo e modernidade', entre o senso local e o espírito cosmopolita".

Sobre o seu livro O espelho de Próspero: "Em O espelho de Próspero, Morse se vale da metáfora especular para sugerir que a fórmula tradicional por que se concebe o 'exemplo' dos Estados Unidos deveria inverter-se: 'há dois séculos um espelho norte-americano tem sido mostrado agressivamente ao Sul, com consequências inquietantes. Talvez seja a hora de virar esse espelho', diz ele. É preciso ouvir, nessa sentença cheia de provocações, a voz de um norte-americano completamente incomodado com sua própria cultura, em especial com a tendência - afinal persistente - de considerar o resto do mundo, e a América Latina em particular, como uma espécie de campo de experimentação neutro, capaz de acolher sem mais as receitas do desenvolvimento avassalador do gigante do norte".

Ainda sobre O espelho de Próspero: "Resta ainda lembrar o intertexto literário sobre o qual se arma O espelho de Próspero: Em A tempestade de Shakespeare, Próspero, guardião zeloso de sua filha Miranda, reina sobre uma ilha distante, em que se encontra o gentil Ariel e o perverso Caliban (evocação dos 'canibais' do Novo Mundo, é claro). Para além do sentido que a trama possa ter tido para os contemporâneos de Shakespeare, é a recuperação posterior das figuras de Caliban e Ariel que mais diretamente importa para a compreensão do livro de Morse, que dialoga diretamente com uma vasta recepção latino-americana da peça shakespeariana, desde o célebre ensaio Ariel, do uruguaio Rodó (1900), até Caliban, do cubano Roberto Fernández Retamar".

sobre A volta de McLuhanaíma, o tratado joco-sério: " A volta de McLuhanaíma é uma entrada perfeita para os que queiram conhecer mais a fundo o pensamento de Richard Morse. Ali estão os ensaios ('A formação do latino-americanista') que permitem entender por que ele logrou colher amizades e inimizades  profundas não apenas entre os latino-americanos, mas também entre seus pares. E é verdade que Morse sempre teve uma visão ácida, excessivamente crítica, do ambiente acadêmico nos estados Unidos, onde entretanto ele encontrou abrigo, tendo lecionado em Colúmbia, Porto Rico, Stony Brook, Yale e Stanford, para finalmente dirigir o Programa para a América Latina do Wilson Center, em Washington".

Por fim, sobre Morse: "Mesmo que o leitor não concorde com as teses de fundo, ou com as hipóteses que guiam o pensamento do autor, é sempre possível deliciar-se com uma descoberta no meio do caminho, com uma gracinha, ou com uma alfinetada discreta e profunda cujo destinatário acabamos por reconhecer. É difícil ler Morse sem sorrir. Ou mesmo sem rir bastante".

E como de hábito, o trabalho anterior sobre Darcy Ribeiro.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/05/um-enigma-chamado-brasil-29-interpretes_17.html

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