quarta-feira, 17 de maio de 2023

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país. 24. Darcy Ribeiro.

Continuo hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país.

A vigésima quarta resenha contida no presente livro versa sobre Darcy Ribeiro. A resenha, sob o título Aposta no futuro: O Brasil de Darcy Ribeiro, é assinada por Helena Bomeny, pesquisadora do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e professora da UERJ. Vejamos, inicialmente, alguns dados biográficos seus.

"Nasce em 1922 em Montes Claros, Minas Gerais. Forma-se em ciências sociais pela Escola de Sociologia e Política (1946). Entra no Serviço de Proteção aos Índios (1947). Participa da fundação do Museu do Índio (1953) e do parque Indígena do Xingu (1961). Cria na Universidade do Brasil, o primeiro curso de pós-graduação em antropologia, lecionando até 1956. Um dos fundadores e o primeiro reitor da Universidade de Brasília (1962-3). Atua como ministro da Educação e Cultura e chefe da Casa Civil no governo Goulart. Com o golpe militar, exila-se em vários países da América Latina, voltando em 1976. Elege-se vice-governador do Rio de janeiro (1982) e senador (1990). É eleito para a Academia Brasileira de Letras (1992). Escreve, entre outros, O processo civilizatório (1968) e O povo brasileiro (1996). Falece em Brasília em 1997".

Como podem observar nesses breves traços biográficos, duas foram as grandes dedicações de sua vida. A dedicação aos povos indígenas e à atividade política. Seu objetivo era a transformação da sociedade brasileira, tão sofrida, sem haver necessidade para isso. Por isso, toda a sua escrita é uma escrita engajada. Era um intelectual comprometido com o povo brasileiro. Ele sai de Montes Claros em 1939 para cursar a faculdade de Medicina em Belo Horizonte. Logo a abandona para ingressar no curso de ciências sociais na Escola de Sociologia Política de São Paulo, onde será colega de Florestan Fernandes e de Oracy Nogueira.

Do seu professor Herbert Baldus herda o interesse pela população indígena. Em 1947 ingressa no SPI, onde conhecerá o Marechal Rondon. Trabalhará com os indígenas do Mato Grosso e da Amazônia. No Rio de Janeiro participa da Fundação do Museu do Índio e da criação do Parque Nacional do Xingu, entrando em contato com os irmãos Villas Bôas. Com o suicídio do presidente Vargas, volta às atividades políticas, militando no trabalhismo. Antes pertencera ao Partidão. A proximidade que estabelece com Anísio Teixeira o leva ao campo da educação, lutando por um "novo manifesto dos Pioneiros", em favor do ensino público, participando ativamente na elaboração da nossa primeira LDB (1961). Sai derrotado pelos privatistas.

Em Brasília inicia um nova empreitada junto ao governo JK. Participa da fundação da universidade da cidade, sendo o seu primeiro reitor (1962-3). Depois assume o Ministério da Educação e, logo em seguida, a chefia da Casa Civil de Jango Goulart, para ser ceifado, em 1964, pelo golpe militar que o levaria ao exílio em vários países da América Latina. O seu exílio será abreviado pela "generosidade" dos militares, diante de um câncer de pulmão, certamente por o considerarem letal. Volta às atividades políticas, junto com Leonel Brizola no governo do estado do Rio de Janeiro.

Seu último cargo político foi o de senador pelo estado do Rio de Janeiro, quando se destaca na elaboração da nova LDB de 1996. Um episódio marcante foi a sua fuga de UTI de hospital, onde estava internado em função do câncer, para viver por mais algum tempo e escrever, em Maricá, o seu último livro - O povo brasileiro.

De suas primeiras leituras herdou, de Engels, um espírito evolucionista e de militância política. Era movido por um grande otimismo e via na política uma espécie de missão. Vejamos a parte final da resenha de Helena Bomeny: "O homem que se impôs como missão salvar a humanidade não pôde reduzir sua ação às cercas do possível. Isso fez de Darcy Ribeiro o fascínio personificado - aquele que amplia o desejo, a esperança, o tônus vital para a realização de projetos ambiciosos. Alguns de seus parceiros de trabalho chegaram a declarar que saíam das conversas  com Darcy maiores do que haviam entrado. No entanto, o perfil de isolamento no agir movido pelo impulso pessoal, o voluntarismo e a imodéstia justificaram muitas das críticas a ele dirigidas, justamente no campo da política, em que mais acreditou ter os instrumentos para a transformação".

De Darcy, deixo outro trabalho, a partir de Um banquete no trópico.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/07/um-banquete-no-tropico-36-os-indios-e.html

Deixo também o link de sua extrema unção, ministrada por Leonardo Boff. Darcy deve ter partido desta vida muito tranquilizado.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2013/04/darcy-ribeiro-recebe-extrema-uncao-de.html

E como de hábito, o trabalho anterior sobre Costa Pinto.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/05/um-enigma-chamado-brasil-29-interpretes_15.html

 

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