quarta-feira, 10 de maio de 2023

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um país. 18. Oracy Nogueira.

Continuo hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.

Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país.

O décimo oitavo trabalho presente neste livro é sobre Oracy Nogueira, numa resenha de Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti, professora do Departamento de Antropologia Cultural da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sob o título Estigma e relações raciais na obra de Oracy Nogueira. Como de hábito, vamos ao final do livro, colher alguns dados biográficos seus:

"Nasce na cidade de Cunha, São Paulo, em 1917. Em 1942, conclui a graduação na Escola Livre de Sociologia e Política (ELSP), onde foi aluno de Radcliffe-Brown e orientando de Donald Pierson. Em 1945, defende mestrado na mesma instituição. Na Universidade de Chicago, entre 1945 e 1947, realiza estudo comparativo sobre as relações raciais no Brasil e nos Estados Unidos. De volta a São Paulo, reinicia as atividades de pesquisas da UNESCO sobre as relações raciais no Brasil. É integrado à Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas  da Universidade de São Paulo em 1968 e, dois anos depois, ao Departamento de Ciências Sociais. É autor de Tanto preto quanto branco (1985) e Preconceito de marca (1997, póstumo). Morreu em sua cidade natal em 1996".

Serei muito breve nestas minhas considerações, pois desconhecia por completo este autor. Eu teria a destacar a sua origem, como filho de professores, seus contatos com as ciências sociais e com os pesquisadores dos Estados Unidos na ELSP, país onde fez o seu doutorado, na cidade de Chicago. Andou por diversas cidades do interior de São Paulo, até fixar-se na capital.

São dois os seus grandes temas de estudo. Os preconceitos nos sistemas de saúde, relativos aos doentes e a questão da presença de estigmas nas relações raciais. Chegou ao primeiro tema por uma questão pessoal. Acometido de tuberculose, foi tratar-se na cidade de Campos de Jordão. Do tratamento e dos estudos realizados surgiu o livro Vozes de Campos de Jordão, em que relata "atitudes, estereótipos e representações da doença". Um tema que ficou para os registros da história, com a superação da doença. 

Quanto ao tema das relações raciais, chegou a ele pela convivência com os pesquisadores dos Estados Unidos na ELSP. Observou as mais diferentes formas e origens do preconceito, com destaque para a observação dos fenótipos. Acentos na cor, forma do nariz e dos lábios, os olhos, o cabelo, tudo era pretexto para a discriminação. Nos Estados Unidos fez as mesmas observações e, depois, estabeleceu as comparações. Lembrando que nos Estados Unidos havia a segregação racial oficializada até a chagada da década de 1960, quando uma série de direitos civis foram incorporados à legislação. De volta ao Brasil estuda a questão das relações raciais na cidade de Itapetinga. 

Lembrando ainda, que em 1957 deixou a ELSP e, depois de trabalhar com Darcy Ribeiro no Rio de Janeiro, leciona em faculdades do interior de São Paulo, até fixar-se na USP, na Faculdade de Economia e Administração e também na de Ciências Sociais. As suas pesquisas em Itapetininga foram publicadas sob o título Preconceito de marca: as relações raciais em Itapetininga. A resenhista informa que este livro  teve uma nova publicação em 1998, pela EDUSP, com notas introdutórias da própria.

Vejamos as palavras finais de sua resenha: "Essa vivência íntima da discriminação alimentou sua empatia pelos grupos expostos à discriminação racial. Suas formulações lúcidas e penetrantes permanecem um convite e uma inspiração para abordagens compreensivas das diversas formas de preconceito produzidas pela distância social".

E, como de hábito, a última publicação desse trabalho sobre Guerreiro Ramos.

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2023/05/um-enigma-chamado-brasil-29-interpretes_9.html

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