terça-feira, 3 de setembro de 2013

Getúlio. 1930-1945. Do Governo Provisório à Ditadura do Estado Novo.

Uma das boas novidades no mundo do livro, neste mês de agosto, foi o lançamento do segundo volume da biografia de Getúlio Vargas, escrita pelo competente biógrafo, Lira Neto. Ele está se consagrando como biógrafo nesta trilogia sobre Getúlio Vargas. A abrangência deste volume, está limitada ao ocorrido no período compreendido entre 1930 e 1945, o que convenhamos, não é pouco. Revolução, fundamentalmente, é transformação e, estas ocorreram largamente ao longo deste período. Com todas as imprecisões do termo, creio ser possível denominá-lo como o período em que se operou a revolução burguesa no Brasil.
O segundo volume da biografia de Getúlio Vargas, de Lira Neto. Pela Companhia das Letras.

O biógrafo conta a trajetória de sua pesquisa. Se, para escrever o primeiro volume, ele encontrou dificuldades em coletar fontes, sobre os anos de formação do menino Getúlio, agora, neste segundo volume, o material precisou ser selecionado criteriosamente, tal a abundância de textos e documentos históricos existentes. Trata-se de um dos períodos mais estudados, devido aos inúmeros acontecimentos ocorridos. No plano interno, foram praticamente 15 anos ininterruptos de ditadura, mesmo no período de seu governo constitucional. Já no cenário externo, tivemos a Segunda Grande Guerra, e toda a sua gestação, com a constituição dos regimes nazi fascistas europeus.

O biógrafo registra duas fontes primárias fundamentais para a realização do seu trabalho. As duas fontes estão sob a custódia da Fundação Getúlio Vargas, sendo a primeira o seu acervo pessoal, catalogado pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil e a segunda o seu diário de anotações pessoais, que foi editado em livro, em dois volumes. Esta segunda fonte é extremamente interessante e serve de fio condutor para a narrativa, ao menos, do período em que Getúlio fazia as suas anotações. Nelas constam todas as suas hesitações frente ao governo e também um caso amoroso, extra conjugal do presidente, a jovem Aimée, uma paixão desmedida.
Getúlio num desfile. O seu amplo sorriso é uma das marcas registradas de sua popularidade.

Casos pessoais pouco conhecidos estão aí relatados, como os dois acidentes com automóvel em que foi envolvido, o enorme gosto que ele nutria pela prática do esporte do golf, a sua enorme predileção por trabalhar em Petrópolis e o ataque de poliomelite que acometeu o filho mais novo, o Getulinho, que inclusive o levou à morte. Outro ponto de destaque é o fato de ter estado sempre rodeado de fascistas em seu governo e as suas muitas dúvidas com relação ao posicionamento do Brasil, na Segunda Guerra. As previsões  iniciais, todas apontavam para uma fácil vitória alemã. Equipar o exército e montar a indústria siderúrgica sempre foi a moeda de troca usada por Vargas.
Getúlio Vargas com o fardão da Academia Brasileira de Letras. Como o poder adora o poder. 

Uma Revolução vitoriosa, um Governo Provisório ditatorial, uma Guerra Civil, ao menos assim é vista a Revolução Constitucionalista de 1932 em São Paulo, uma Constituição e um mandato presidencial sob esta Constituição, mesmo sendo poucas vezes obedecida, a Intentona Comunista, O Estado Novo, e a visão do estado autoritário, o Putsh Integralista, a Segunda Grande Guerra e, finalmente, o Golpe Branco que apeia Vargas do poder, são os temas que preenchem os vinte capítulos da estrutura narrativa do livro. A condução dos fatos é criteriosa e objetiva. Apenas, já ao final, o autor faz um balanço do que foram estes quinze anos de exercício do poder. O livro é acompanhado por dois blocos de fotografias, cada um com 16 páginas. Belos retratos de época.

Me permito uma transcrição já da parte final do livro, quando Lira Neto faz uma análise do que foram estes quinze anos de poder. "[...] o país sofreu transformações significativas - políticas econômicas e sociais. De nação essencialmente agrária e semicolonial, o Brasil iniciara um processo de industrialização crescente, que se intensificaria nos decênios seguintes. Os setores da manufatura mais tradicional assistiram à expansão do parque industrial de base, representado em particular pela área metal-mecânica. Grandes institutos de pesquisa e empresas estatais, como a Companhia Siderúrgica Nacional, a Companhia Vale do Rio Doce e a Fábrica Nacional de Motores, surgiram sob o influxo da política desenvolvimentista do Estado Novo".
Uma foto bem tradicional do presidente Vargas.

Lira Neto destaca ainda a questão dos direitos sociais, como a fixação de um salário-mínimo e a instituição da CLT. Embora ditador, procurava legitimar o seu governo com o apoio das massas urbanas, em crescimento, devido ao desenvolvimento industrial. Em suma, é o período que os manuais de história costumam apresentar como o período em que o Brasil adquiriu a sua fisionomia de um país moderno, pelos processos de industrialização e urbanização. Uma obra valiosíssima. Sua edição é da Companhia das Letras, o que, por si só, já é um selo de qualidade. 

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