segunda-feira, 31 de março de 2014

1964. A modernização conservadora autoritária.



Recebi um pedido para escrever um artigo para um determinado jornal. Algo em torno de 2.000 caracteres. Atendi o pedido e o publico também no blog. Segue o texto. É mais ou menos, dentro dos limites, a explanação do título.

Dois modelos político-econômicos estavam em disputa, nos idos de 1964. Um era fundado na modernização progressista e popular e o outro, na modernização conservadora e autoritária. Um golpe de Estado interrompeu o primeiro As forças ligadas ao golpe eram heterogêneas, com a predominância dos militares.

A interrupção que era para ser breve, se tornou longa e as intervenções, que eram para ser leves, se tornaram profundas. Como um golpe sempre é um ato político, é sob este aspecto que os fatos devem ser julgados em primeiro lugar. Neste sentido o Estado democrático de direito foi profundamente desrespeitado por atos institucionais e por um simulacro de Constituição, que poderia funcionar, ou não, de acordo com a vontade dos generais. Para combater a oposição, a tortura foi instituída como prática e política de Estado. Muitas inteligências foram tolhidas pela prisão, exílio ou morte.

Outro aspecto, sempre importante, é o econômico. Nele não houve linearidade. No primeiro governo, as doutrinas do internacional livre mercado foram dominantes. Foi um fracasso que, inclusive, levou ao recrudescimento autoritário, aos anos de chumbo. Paradoxalmente, estes anos também corresponderam aos anos de ouro na economia. Os anos do milagre. Aí está o caráter modernizador. Industrialização, infra-estrutura e agro-negócio dinamizaram a economia. Isso seu deu fora do alinhamento aos Estados Unidos e dos princípios liberalizantes, com um retorno ao nacional-desenvolvimentismo, lembrando Vargas e JK.

Este crescimento tinha um freio: “desenvolvimento com segurança”. É nesse sentido que se somam as três palavras do título. Este viés tolheu esta modernização em seus benefícios sociais. A renda crescia e se concentrava. A segurança era apenas para o capital e o lucro. As reivindicações sociais eram tolhidas pela violência. As vozes, a poesia e a ternura foram postas a ferro.

Veio a volta aos quartéis, apesar de tentativas de permanência. O fim dos anos 1970 e a década de 1980 foram os anos de aprendizado democrático, de cidadania participante, vertical, de baixo para cima, de intensa organização e participação popular. Anistia, eleições diretas e uma constituinte, passaram a ser as reivindicações para a restauração do Estado democrático de direito, que veio com a Constituição de 1988, ano em que efetivamente se reinaugurou uma jovem e bela democracia.


Qual é o legado? A ordem política autoritária só deve ser lembrada para nunca mais ser repetida. Já da ordem econômica, podemos aproveitar as bases de sua modernização para estender os seus resultados para todos os brasileiros e assim construirmos uma Nação, politicamente democrática e socialmente justa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário. Depois de moderado ele será liberado.