quarta-feira, 25 de junho de 2014

Circuito Mineiro. 1. São João Del Rei, Tiradentes e Coronel Xavier Chaves.

Há muito eu alimentava o sonho de conhecer todas as cidades históricas de Minas Gerais. Conhecia vagamente Ouro Preto e Mariana, mas a minha vontade de conhecer Diamantina, Tiradentes e São João Del Rei sempre foi muito grande. Esta minha vontade ganhou mais intensidade com a leitura de Darcy Ribeiro, O povo brasileiro - a formação e o sentido de Brasil, onde ele afirma que não existe, entre as cidades dos Estados Unidos, alguma que seja, ao menos comparável às cidades históricas brasileiras, como Salvador e Ouro Preto.
A igreja de São Francisco de Assis. Obras do Aleijadinho e os funerais de Tancredo Neves lhe deram muita fama. Em frente existem belíssimas palmeiras.

Como agora eu disponho de tempo livre, me pus na estrada. Passei primeiramente por São Paulo. Isso contarei em separado, mas logo segui o meu destino. Desembarco em São João Del Rei num final de tarde, com o entardecer bem antecipado. Seis horas da tarde, praticamente tudo escuro. Mal e mal me acomodei e já fiz a primeira incursão pela cidade, andando a esmo. Logo vi que a cidade é dividida por um rio, que depois vi ser um córrego, que tem história, muita história, e, igrejas..., nos dois lados do córrego.  Tive direito até a missa na igreja do Carmo. Depois fiquei sabendo que havia ainda mais missas. A religiosidade, a musicalidade e o bater dos sinos marcam a vida da cidade, que ainda continua com aspectos de povoado.

Um caldo e o descanso, pois os sonhos ficariam para o dia seguinte. Este começou cedo. No hotel, de nome histórico e geográfico, Lenheiros, me fizeram a indicação de um guia. Após uma rápida negociação, sem contrapropostas, o popular Alemão, já me explicava das igrejas, das ruas e alamedas e da história de São João Del Rei, de Tiradentes e, de bônus, de Coronel Xavier Chaves. A primeira observação do Alemão foi sobre o rio que divide a cidade. Ele está canalizado e, por assim estar meio comprimido, de vez em quando ele enfurece, recebendo um espaço mais alargado. O rio é o marco da cidade. De acordo com a direção de suas águas, na busca do famoso rio das Mortes, o Lenheiros nos indica que na sua margem esquerda está a parte mais antiga da cidade, enquanto que à sua direita está a mais nova, embora o antigo domine em ambas as margens.
Catedral de São João Del Rei, a igreja de Nossa Senhora do Pilar.

Caminhamos pelo lado mais antigo. Quatro igrejas dominam o cenário: A catedral basílica de Nossa Senhora do Pilar, a igreja de Nossa Senhora das Mercês, a igreja de Nossa Senhora do Carmo e a que não poderia faltar, a igreja de Nossa Senhora do Rosário, a preferido dos escravos negros. A mais generosa destas Nossas Senhoras deve ser a das Mercês, pois, de um local mais alto, está com os seus braços abertos, espalhando as mercês de sua bondade. As outras três, se situam na mesma rua, onde moravam os graúdos da cidade. Sobre as duplas calçadas desta rua, falarei em outro post, como também falarei, em particular, de cada uma destas igrejas. Nesta rua está o solar dos Neves, gente importante do lugar.

Do outro lado do rio está a igreja de São Francisco, talvez a mais famosa de todas, pela presença nela de obras do Aleijadinho e envolvimentos mais recentes, como os cerimoniais fúnebres de Tancredo Neves, que repousa junto com Risoleta, no cemitério nos fundos da igreja. Coisas da irmandade. Tancredo também tem um belo memorial, lembrando a sua trajetória histórica, em outro local da cidade. Ao redor da igreja de São Francisco se concentram as lojinhas e as informações turísticas, bem como, segundo informação do Alemão, os 30 guias turísticos da cidade.
Uma das mais ricas igrejas do Brasil. Ela tem 482 quilos de ouro. É a igreja de Santo Antônio, no estilo barroco, na cidade de Tiradentes.
Depois rumamos para Tiradentes. Esta pequena cidade, de apenas 7.000 habitantes, é só história e turismo. É a cidade das pousadas e dos fins de semana, repleta de turistas. Ela tem um rica moldura, a Serra de São José. A igreja de Santo Antônio, possivelmente seja uma das mais ricas igrejas do Brasil. A preservação está fortemente presente. Não se permitem fotografias. Os finais de semana também são animados pela presença do trem que liga a cidade com São João Del Rei. Tem também a presença de charretes para os tours e restaurantes com boa comida mineira. Quando propus ao Alemão uma foto junto a uma igreja ele me propôs tirá-la em outro local e me anunciou um bônus.
 O Engenho Boa Vista, onde se produz a cachaça Século XVIII. Segundo informações da Embratur é o engenho, em funcionamento, mais antigo do Brasil.

Aí andamos e, pelas conversas que tivemos, eu já tinha a certeza de qual seria o destino. A minha certeza se confirmou quando chegamos ao Engenho Boa Vista. Lá se produz a cachaça Século XVIII, e como diz o seu folheto publicitário, que "ao beber da cachaça Século XVIII, está se bebendo um pouco da história do Brasil". Este folheto termina com a associação a uma outra imagem: "É a história do Brasil que desce redondo". Assim se passou o primeiro dia. O meu segundo dia foi dedicado apenas a São João Del Rei.
A cachaça Século XVIII, produzida no Engenho Boa Vista. A cachaça é hoje produzida como era há 250 anos atrás. A de rótulo vermelho é envelhecida, produto guardado desde 2002.

Peguei um folheto turístico, refiz os caminhos do dia anterior e acrescentei novos, como o memorial Tancredo Neves e o Museu Regional de São João Del Rei. Só não visitei o que está fora do centro da cidade. Também adquiri algo a recordar a cidade, algo de sua riqueza típica. Não em ouro, a sua grande riqueza e o seu mote histórico, mas em estanho, que continua a sua grande riqueza dos dias de hoje. Nos próximos posts, estarei detalhando um pouco desta rica história do povo brasileiro, desta terra que nos deu o seu antepassado mais ilustre, o sonhador pioneiro de nossos ideais de liberdade, sonho que lhe ceifou a própria vida, o nosso heroi fundador, Tiradentes.






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