sábado, 25 de junho de 2016

Plenos Pecados. Luxúria. A casa dos Budas Ditosos. João Ubaldo Ribeiro.

Se existe um livro na coleção Plenos Pecados que efetivamente se ocupa do pecado proposto, este livro é o de João Ubaldo Ribeiro, A Casa dos Budas Ditosos que, também com muita propriedade, segundo o autor, poderia se chamar de Memórias de uma Libertina. Opa, uma primeira observação extremamente importante. João Ubaldo não é o autor deste livro, conforme nos conta na abertura do livro.
Este realmente é um livro de um pecado pleno: A luxúria.


João Ubaldo meramente fez a transcrição das memórias de CLB, uma senhora de 68 anos, que ao saber que uma editora iria lançar os Plenos Pecados, deixou as gravações com o porteiro do prédio onde ele morava. Assim o escritor se exime de qualquer responsabilidade quanto ao conteúdo e aos possíveis excessos ou exageros que constam nestas memórias, que, vejam bem, são as memórias de uma libertina. E haja libertinagem!

Esta senhora, CLB, no primeiro capítulo nos conta de sua formação. Se considera uma senhora católica politeísta. Tem uma veneração especial por são Gonçalo, a quem é atribuído um falo grande. Lamenta profundamente o legado imbeciloide repressivo de sua formação mas que, no entanto, não teve grandes dificuldades de superar. CLB teve uma grande amiga que muito a ajudou neste processo de superação libertadora, Norma Lúcia.

O cenário da libertinagem começa por Salvador, com passagens pela ilha de Itaparica e que terminam na cidade do Rio de Janeiro. Ignoro as razões da inclusão de Itaparica neste cenário. Itaparica é..., deixa prá lá. As libertinagens de CLB não são apenas nacionais. O mundo inteiro era cenário de suas aventuras. Creio que ela não enrubesceu nenhuma vez ao descrevê-las.

Todas as formas de fazer sexo são descritas. Poucas linhas são dedicadas ao sexo romântico e ingênuo, pelo contrário, capítulos inteiros são dedicados ao sexo sacanagem ou ao pan-sexualismo do qual se confessa fiel seguidora. É sexo hetero, homo, grupal, este conhecido no Brasil como suruba, para a qual, lamenta, os americanos nem sequer tem uma palavra apropriada para expressá-la, mas não por falta de sua prática. Também considera os americanos ruins no quesito da sexualidade, pela sua excessiva preocupação com números, estatísticas e rankings. Coisas da quantidade e não da qualidade. Até técnicas de controle da ejaculação precoce ela fornece, já quase ao final do livro.

O relato de CLB também tem a preocupação em desmontar todos os preconceitos relativos ao comportamento sexual como a questão das relações incestuosas. Elas estão na Bíblia e os religiosos são especialistas na ocultação destas passagens. Conta que seu irmão foi o mais perfeito parceiro em todas as suas aventuras. Sexo com  religiosas e religiosos também faziam parte de suas aventuras. Estas ocorriam mais nos Estados Unidos. Como vimos ela tinha sérias restrições a este povo em função de sua herança cultural, uma broxura calvinista ou veadagem anglicana enrustida, nos conta ela, quando fala das restrições destas culturas à naturalidade da relação homoafetiva feminina. Ela também ataca a linguagem do, tão em moda, politicamente correto.

Enfim, o livro é um convite à liberação. CLB é extremamente presunçosa. Ela se considera uma das vozes de Deus, tão abafada pelos meios religiosos. Achei estranho ela se referir muito pouco à excessiva preocupação dos religiosos com a vida sexual dos outros, especialmente na questão das relações de gênero. Ou a ideologia de gênero é mais uma destas invencionices das auto frustrações das imbecilidades do legado cultural. Tenho uma sugestão a fazer. Que tal dar este livro de presente, ao menos aos principais pastores midiáticos, que indevidamente ocupam os espaços dos nossos meios de comunicação. 

Aos 68 anos CLB anuncia que está próxima da morte. Mas tem absoluta certeza que não será de câncer. Nunca reprimiu nenhuma célula de seu corpo para que elas queiram agora se expandir. Também não teme a ira divina e não carrega nenhuma culpa, como podemos ver no encerramento de sua narrativa: "Faço tudo que me dá na cabeça, não quero saber de limitações. Eu não pequei contra a luxúria. Quem peca é aquele que não faz o que foi criado para fazer. Não quero entender nada. Quero acreditar, mas não posso ter certeza, não se pode ter certeza de nada, que Deus me terá em Sua Glória e sei que Ele agora está rindo".

Vamos ainda ao Aurélio. Luxúria é "Viço ou exuberância das plantas. Incontinência, lascívia, sensualidade. Dissolução, corrupção, libertinagem. E uma certeza final. João Ubaldo Ribeiro é um escritor luxurioso, sensual e libertino. Maravilhoso.





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