quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Europa 2019. 5. RÜDESHEIM - CRUZEIRO PELO RENO - ST. GOAR - COCHEM - BURG ELTZ - COLÔNIA.

Dia 23 de julho. Terça feira. Nos despedimos de Frankfurt com um aceno à escultura em homenagem ao trabalhador e ouvindo peculiaridades sobre a cidade, dadas pelo Marcos, que ainda continuava sendo o nosso guia. Uma destas peculiaridades é que na catedral da cidade se coroavam os reis do Sacro Império Romano Germânico. Estávamos, portanto, no seu pleno centro. Na cidade se praticam dois atos, essencialmente, os atos de dormir e de trabalhar. Tive e tenho as minhas dúvidas. Os negócios sem diversão não fazem muito sentido, e, muitas vezes, nem mesmo se realizam. Frankfurt é a capital do estado de Hesse.
O que aconteceu de verdade nas catedrais?

Próximo a Frankfurt se encontra a cidade de Wiesbaden, cidade de águas termais e de muita história. Ela abriga uma base aérea da OTAN. Marcos ainda nos falou das universidades, tanto da de Frankfurt, quanto da de Wiesbaden e de Mainz, com a Universidade Gutemberg, um ilustre morador da cidade. Depois o rio Reno virou o centro das atenções. O Reno não é o maior rio da Europa mas, seguramente, o mais importante do ponto de vista histórico e econômico. No seu estuário está o famoso porto de Roterdã. Ao longo de seu caminho encontramos muitos castelos, histórias, vinhedos e inspirações para a literatura e para a música. Lembrei especialmente de Richard Wagner e o seu Das Rheingold, do ciclo do Anel dos Nibelungos, num trocadilho com o rio e o ouro em estado puro. O guia nos falava de Loreley, a pequena sereia do Reno.
Entre castelos e parreirais. Tour pelo Reno. Patrimônio da Humanidade.

Navegamos pelo rio por aproximadamente duas horas, de Rüdesheim a St. Goar. Este trecho é Patrimônio da Humanidade, assim declarado pela Unesco. Um rio totalmente despoluído. Às margens, temos rodovia e ferrovia. O rio também é usado como meio de transporte, não apenas o turístico. Os rios estão todos interligados por canais. A maioria dos castelos foi transformada em hotéis e pousadas. Foi o passeio mais encantador de toda a viagem. O Reno, junto com o Ruhr formam o coração industrial da Alemanha e a região mais densamente povoada, onde se processou a transformação da economia feudal para a economia capitalista da industrialização, possibilitada pelas minas de carvão. Mas sobre isso iremos falar amanhã. Desembarcamos em St. Goar.
Mais uma cena medieval fantástica.

St. Goar (Sankt Goarshausen) nos remete diretamente para a história de Loreley. É a história de uma sereia, que habitava a região e que, com a sua beleza e o pentear de seus cabelos, seduzia, encantava e distraía os navegadores, levando-os à morte. Nesta parte o rio formava uma curva acentuada, com rochas salientes, águas pouco profundas, margem estreita e forte correnteza. Exatamente na região em que mais atenção se exigia, ela distraía, com seus encantos de sereia, os navegadores desatentos. Fazia isso, conta-se, em função de uma traição amorosa. Como podem ver, um tragédia grega. Loreley se tornou célebre por um romance de Clemens Brentano e imortalizada num poema de Heinrich Heine. Vejam a descrição, a partir do poema de Heine. "Ele descreve a mulher de mesmo nome como uma espécie de sereia que sentada no penhasco acima do Reno e penteando seus cabelos dourados, inconscientemente distraiu os marinheiros com sua beleza e música, fazendo-os colidir com as pedras".
Com a história da Loreley, o nosso tour renano chegava ao seu final.

Como não fomos seduzidos pela Loreley, a nossa viagem continuou. Deixamos o rio Reno e enveredamos pelo Mosela. Seguimos por pequenas estradas vicinais até a cidade de Cochem, onde almoçaríamos. A região é toda formada por pequenas cidades que se dedicam à agricultura e à indústria, atuando no chamado sistema de integração. Muitos também trabalham nas cidades grandes das proximidades. O trânsito permite deslocamentos rápidos e fáceis. Entre os alemães existe uma verdadeira paixão por morar nestas pequenas aldeias. Entre os bosques, o carvalho desponta soberano. Única árvore com folhas não caducas. Uma árvore profundamente simbólica e mística. Suas sombras teriam muitas histórias para contar.

Um pouco de Cochem e um brinde com o vinho branco da uva Riesling.

Chegamos em Cochem, uma pequena e linda cidade medieval, que possui algo em torno de cinco mil habitantes, junto ao Castelo de Reichsburg. O vale do Mosela é uma região de campings, que são procurados, em épocas de férias, pelo povo de menores recursos ou pelo simples gosto de aventura. Cochem me reservou algo muito particular, que me levou a verter uma lágrima. Depois de um lauto almoço, acompanhado de uma taça de vinho branco da uva Riesling, a mais cultivada, quando já voltava para o ônibus, uma bandinha tipicamente alemã, estava tocando. Lembranças da infância, dos Kerb de Harmonia, me vieram imediatamente à mente convulsionando o imaginário.
A encantadora música alemã da minha infância.

Mas, uma outra atração ainda estava em nosso caminho, o Burg Eltz. Ele tinha finalidades estratégicas e sempre foi um dos bastiões do catolicismo. Ele pertence à mesma família, que hoje mora em Frankfurt, e prepara a sua transmissão, por herança, para a 34ª geração. A construção remonta ao século XII. Ao longo de sua história sofreu as mais diversas influências arquitetônicas. Era um excelente ponto de observação para a salvaguarda das férteis terras do rio Eltz, um afluente do Mosela. O castelo se situa em meio a uma floresta de carvalhos. Ele também inspirou Walt Disney, sendo o palácio da madrasta da Branca de Neve, um conto do folclore alemão, recolhido pelos irmãos Grimm.
O carvalho e o famoso Castelo do Burg Eltz

Como estávamos nas proximidades da cidade de Bonn o guia começou a falar da cidade que foi a capital alemã, durante a Guerra Fria, a partir de 1949. A cidade ainda abriga a sede de alguns ministérios e é hoje basicamente um cidade dormitório de Colônia. A capital foi restituída a Berlim após a reunificação alemã. Bonn é famosa por sua universidade, fundada em 1818. Por ela passaram alemães ilustres como Habermas, Heirich Heine, Adenauer, Joseph Ratzinger, (Bento XVI), Marx, Friedrich Nietzsche, além de um outro, que certamente envergonha a instituição, Joseph Goebbels. Por ali passaram também sete prêmios Nobel. A cidade também viu nascer Beethoven, mas este foi logo se estabelecer em Viena, que era então a capital da música.
Uma das maiores e mais simbólicas catedrais.

Com estas conversas já estávamos chegando em Colônia, destino final do dia de hoje. Colônia é acima de tudo uma pujante cidade para a economia alemã. Ali tem sede indústrias ligadas à petroquímica, como a Bayer e uma das maiores sedes da anglo holandesa Shell. Mas nada se compara em fama, à sua catedral, que junto com a de Milão, são as maiores catedrais góticas do mundo. Também é famosa a sua Água de Colônia 4717, que teria sido usada por Napoleão e por Richard Wagner. A sua universidade, a quarta fundada no Sacro Império Romano Germânico, data de 1388 e conta hoje com mais de 50.000 alunos. Entre os famosos estão Alberto Magno e santo Tomás de Aquino e Heinrich Böll, Nobel de Literatura do ano de 1972 e de quem eu conheço o livro O Anjo silencioso. Colônia é hospitaleira, carnavalesca e marcada pela simpatia de seu povo.


Mais duas cenas de Colônia. A sua famosa Água de Colônia e os cadeados para prender o amor.

Me reconheci na cidade, onde estive em 1995. Na oportunidade subi os 503 degraus da torre da catedral, experiência que não recomendo a ninguém. Fui também até a ponte mais próxima do Reno, fazer um reconhecimento de terreno. Ainda sobrou tempo para tomar uma Kohlbier, a mais famosa cerveja local. No dia seguinte teria mais: Düsseldorf, Zollverein (Essen), Hamelin e Hannover.




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