segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Europa 2019. 8. PRAGA - Na República Tcheca.

Dia 27 de julho. Sábado. Confesso, que de toda a viagem, este era o dia que mais me gerara expectativas. A grande fama da cidade de Praga e, uma espécie de simpatia, sem causas e explicações pela República tcheca, geraram esta visão positiva. E, para mim, um motivo todo particular. Praga é a cidade de São João Nepomuceno, padroeiro da paróquia de Harmonia (RS), a minha cidade natal. Iria ver a sua estátua, na famosa Ponte Carlos. Pelo caminho já ouvíamos o contar da história da República Tcheca, país formado pela união de três povos: os da Boêmia, da Morávia e da Silésia.
No Castelo de Praga.

Na saída de Berlim, no rumo de Praga, passamos novamente pela cidade de Dresden, que já conhecíamos pelo tour pelas cidades alemães. Inclusive, desta vez, tivemos mais tempo para apreciá-la. Como já falei sobre ela, vamos em frente. Ela é imponente e impressionante. Visitamos uma loja com a sua porcelana famosa, a Meissen. Artigos raros e de alto luxo.
Mais do Castelo de Praga.

Ao final da tarde estávamos às portas da cidade. Imediatamente o guia local se apresentou. Passamos por um detector de metal e com fones no ouvido iniciamos o tour pela maravilhosa cidade, começando pelo seu famoso palácio, o Castelo de Praga, atual sede do governo, construído no século IX, para abrigar os reis da Boêmia. Todo o bairro em volta, dominado por ruas comerciais, faz parte do chamado Castelo de Praga. No nosso tour atravessamos a Ponte Carlos e chegamos ao destino final na praça do relógio e no Museu dedicado a Kafka.
Na Ponte Carlos, o santo padroeiro de Harmonia. São João Nepomuceno.

O guia local foi um atleta e um artista. Atleta porque tinha que chegar ao relógio astronômico, no prédio da Prefeitura, as dezenove horas, para uma pequena apresentação e, um artista pela forma como nos apresentou o país e a cidade. Mostrou e demonstrou ser o povo tcheco um povo muito bom e extremamente simpático. Este povo é uma mistura de eslavos e celtas, herdando o melhor destes dois povos, especialmente, incorporando a alegria e a gaita dos celtas e o seu gosto, acima de todos os outros, pela cerveja. A cerveja merece todo um longo capítulo à parte.
O relógio astronômico da cidade, uma das grandes atrações.

Ele nos contou da formação histórica do povo e de seu espírito generoso e pacífico. Suas origens remontam ao Sacro Império Romano Germânico e, mais recentemente, ao Império austro-húngaro, dos Habsburgos. Após a Primeira Guerra Mundial constitui-se a República da Tchecoslováquia. Ela teria vida curta e, ao longo do século XX, passaria por duas ditaduras: a da anexação nazista e a comunista. Ela se reconstituiu a partir do ano de 1989 mas já em 1993, pacificamente entrou em acordo com a Eslováquia, formando a partir de então duas repúblicas autônomas. A tcheca e a da Eslováquia.
A Ponte Carlos. Acima de tudo - uma obra para expor a arte.

Lembro das belas palavras do guia. Mais ou menos assim. Somos um povo pacífico. Nunca tivemos pretensões imperialistas. Nunca tivemos uma única colônia. Resistimos e lutamos contra a opressão, tanto da imposta pelos nazistas como pela dos comunistas. Em 1968 anunciamos ao mundo o nosso apreço pela liberdade, com a Primavera de Praga, ousadia pela qual pagamos muito caro. Quando a Eslováquia quis autonomia, pacificamente entramos em acordos e a autonomia foi concedida. Hoje somos explorados, com salários baixos. Temos empregos mal remunerados e, por isso, os refugiados não buscam se estabelecer na cidade. Convivemos com a inflação, mas brigamos e brigamos muito, quando procuram nos aumentar o preço da cerveja. Praga tem a fama de ter a melhor e a mais barata cerveja do mundo. São também seus maiores bebedores.
Praga é também a cidade de Franz Kafka.

No dia seguinte, um domingo, teríamos o dia inteiro livre pela cidade. Praga é uma cidade para se conhecer a pé. Optamos pela compra de um tour especial ao preço de trinta euros. Mais uma vez, com guia local e fones nos ouvidos, nos embrenhamos pela cidade. Assim conhecemos os jardins do palácio de Wallenstein, sede do senado tcheco, a monumental igreja gótica de São Nicolau, onde, pela primeira vez foi apresentado o famoso "Requiem" de Mozart e, ainda a praça dos Cavaleiros de Malta, um dos locais da filmagem de "Amadeus". Um dos pontos altos deste passeio foi o de conhecer a Igreja de Nossa Senhora da Vitória, onde se encontra o famoso Menino Jesus de Praga, um dos maiores centros de peregrinação do mundo. Um passeio de barco, com direito a um drink, pelo rio Moldava e uma caminhada pelo antigo bairro judeu da cidade, complementaram este magnífico tour, que terminou no ponto central da cidade, no famoso relógio astronômico e nas proximidades da casa Museu de Kafka.
A mais popular das cervejas tchecas. Urquell.

Como ainda não estávamos no meio da tarde permanecemos na cidade, andando a esmo. Na busca por lembrancinhas da cidade, conheci Petra, uma artista que vende a sua arte numa casa de souvenir. Dela encontrei uma gravura do relógio astronômico, que comprei. Mas estabeleci com ela uma negociação. A República Tcheca ainda não adotou o euro como a sua moeda, mas eles aceitam pagamentos em euro mas devolvem o troco em coroas, a moeda local, sem valor internacional. Assim eu pedi para Petra me devolver o troco em euros. Nos entendemos na língua alemã, fato que muito interessou a ela, pois pretende vir ao Brasil para expor e vender os seus trabalhos. Perguntou se ela poderia chegar ao Brasil e se conseguiria se virar o suficiente falando alemão. Aí falei para ela da colonização alemã no vale dos rios dos Sinos e do rio Caí, lhe indicando como referência a cidade de São Leopoldo, quando um senhor se apresentou e disse ser natural da cidade de São Leopoldo. Apenas uma coincidência, para a qual muito contribuiu o fato de eu estar vestido com o manto do imortal tricolor. Resultado comprei o relógio de Petra, lhe encomendei um trabalho de Kafka e já somos amigos no facebook. Assim,Petra se tornou a minha primeira amiga tcheca.
O Menino Jesus de Praga em seu santuário.

Voltei ainda para a Ponte Carlos, para ter uma conversa com o São João Nepomuceno. O santo padroeiro de Harmonia pertenceu ao século XIV. Foi morto após intrigas palacianas pelo rei Venceslau IV, pelo fato de ter sido o confessor da rainha. Venceslau teve dúvidas com relação a sua fidelidade e exigiu que o santo lhe contasse os segredos revelados em confissão. Mesmo sob tortura ele manteve os segredos e por isso foi jogado ao rio, sendo considerado o santo dos segredos da confissão e o padroeiro contra as calúnias. Se tornou santo no século XVIII, quando teria sido encontrado o seu corpo desfeito  mas a língua preservada, milagre que o levou à santidade.
Mais uma vista do relógio astronômico. 

Ainda alguns dados sobre o país. A palavra tcheco é uma palavra da Boêmia e significa membro do povo ou parente. Sua moeda é a Coroa e com 25 delas se adquire um euro. A República tcheca pertence hoje à União Europeia, à OTAN e à OCDE, com promessa para aderir também ao euro, mas para o qual ainda não reúne condições. A partir dos anos 1990 vendeu ou privatizou suas empresas, como os carros da marca Skoda, sua indústria bélica e de telecomunicações. São notáveis também os famosos cristais da Boêmia. Alemães e japoneses foram os grandes compradores. E, uma velha regra da economia. Quem compra enriquece e quem vende empobrece. Possui em torno de 10,5 milhões de habitantes e, destes, 1,3 milhões moram em Praga. O turismo representa quase 10% de seu PIB. Praga é a quinta cidade mais visitada da Europa, ficando atrás de Londres, Paris, Istambul e Roma. Alguns apontam que Amsterdã também está à sua frente. São mais de trinta milhões de turistas por ano, com predomínio para os alemães.
Aos pés da estátua de São João Nepomuceno.

A língua falada é a tcheca, próxima ao polonês. Não encontrei o significado da palavra Praga. A curiosidade me veio pelo seu sentido pejorativo na língua portuguesa. Pronuncia-se Praha e talvez tenha relação com o rio e o local da construção do castelo (o maior do mundo) sobre a rocha. Devo ainda maiores explicações sobre o relógio astronômico (Orloj) que data do ano de 1410 e está encravado em uma das torres da Prefeitura velha da cidade. E também sobre João Huss, que estudou na Universidade Carolina de Praga e foi, tanto um reformador religioso, quanto social, do século XIV - XV. Fico devendo, ou abrindo a possibilidade para a sua pesquisa. Amanhã estaremos no caminho para Budapeste, a sétima cidade mais visitada da Europa.

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