sábado, 31 de dezembro de 2022

Intérpretes do Brasil. Clássicos, rebeldes e renegados. 9. Sérgio Buarque de Holanda.

Antes do término do ano de 2022, vamos ainda ver um dos "Intérpretes do Brasil", a partir do livro Intérpretes do Brasil - clássicos, renegados e rebeldes, livro organizado por Luiz Bernardo Pericás e Lincoln Secco. O intérprete da vez é autor de um dos maiores clássicos de nossa história, Sérgio Buarque de Holanda e o seu Raízes do Brasil. A erudita resenha é de autoria de Thiago Lima Nicodemo. O livro é uma publicação da Boitempo Editorial do ano de 2014. Ao todo são trabalhados 25 autores/intérpretes, em resenhas apresentadas por especialistas. O foco do livro são os autores que resultaram das transformações brasileiras dos anos 1920 (tenentismo, semana da arte moderna, PCB), quando se inicia no Brasil a denominada modernização conservadora. São apresentados a primeira e a segunda geração desses intérpretes.
Intérpretes do Brasil - clássicos, rebeldes e renegados. Boitempo Editorial. 2014.

A resenha começa com os acontecimentos do ano de 1936 na vida de Sérgio Buarque de Holanda, quais sejam, a publicação de Raízes do Brasil, o seu casamento e o início de sua carreira como professor do ensino superior, na então recém criada Universidade do Distrito Federal. Três fatores extremamente marcantes em sua vida. A entrada na vida universitária, com historiadores franceses, marca profundamente a sua vida como historiador. Marca também o início da profissionalização da carreira dos historiadores.

Essa sua profissionalização e a visão de novos horizontes na carreira de historiador marcam as duas revisões de sua obra mais famosa, Raízes do Brasil. Lembrando que a primeira edição data do ano de 1936, sendo a primeira e mais profunda revisão do ano de 1948 e a terceira e definitiva, do ano de 1956. Segundo o resenhista, a marca fundamental dessas revisões é o abandono de uma visão mais espontânea e positiva nas transformações na formação da sociedade brasileira, por uma visão de uma maior intervenção nessas transformações, marcadas por uma visão progressista e democrática. Representa também um afastamento das influências de Gilberto Freyre. É o tempo em que participa da fundação da Associação Brasileira dos Escritores, na organização do movimento "Esquerda democrática" e na fundação do Partido Socialista Brasileiro em 1947. 

Essas revisões marcam também as transformações em sua vida pessoal e profissional. Logo após a Segunda Guerra e a redemocratização do Brasil ele se mudará do Rio de Janeiro para São Paulo, a sua cidade natal. Mais dois livros surgirão na sequência: Monções e Caminhos e fronteiras, sempre com o tema da formação da sociedade brasileira, da adaptação da colonização portuguesa na América colonial. Uma linha é constante nessa sua interpretação: a superação dos vícios da ordem colonial e patriarcal. Isso se daria por uma revolução, não violenta, mas progressista, democrática e gradual. 

Deixo registrada uma passagem sobre a presença de dois elementos presentes em sua análise, o espírito de aventura e a cordialidade: "Já foram adequadamente apontadas pela crítica as continuidades estruturais entre duas das figuras fundamentais de Raízes do Brasil: a aventura e a cordialidade. Enquanto a metáfora do aventureiro remete esquematicamente ao colonizador lusitano, em seu afã por riqueza fácil e lucro imediato, em seu desinteresse em deitar raízes na terra explorada, o homem cordial corresponde à herança de práticas patriarcais, ligadas ao meio rural, no desenvolvimento do Estado nacional no século XIX. Falando em termos que só ganham total clareza com a segunda edição de Raízes, a cordialidade é a herança, o produto da ação do espírito de aventura".

Deixo também o parágrafo final, para uma melhor compreensão da posição do resenhista: "A interpretação do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda não se perde ou se abranda na medida em que ele se torna um historiador profissional. Pelo contrário, apesar de menos explícito no texto, seu diagnóstico dos dilemas brasileiros se torna mais coeso e enfático. Do ponto de vista técnico - da escrita da história -, o intelectual reforça uma complexa interpretação do Brasil orientada por planos temporais articulados. Ao mesmo tempo, seus textos tornam-se também cada vez mais orientados por um horizonte político de mudança social de natureza inclusiva e democrática".

Recomendo também a resenha sobre o autor, retirada do livro Introdução ao Brasil - Um banquete no trópico, sobre Raízes do Brasil - http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/07/um-banquete-no-tropico-11-raizes-do.html e também de Visão do Paraíso. http://www.blogdopedroeloi.com.br/2022/07/um-banquete-no-tropico-20-visao-do.html

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