terça-feira, 11 de abril de 2023

O imoralista. André Gide. Nobel da Paz - 1947.

O imoralista não é a minha primeira leitura de André Gide. O primeiro livro que li dele foi Os subterrâneos do Vaticano (1914). Por sugestão de um leitor do blog, que afirmou ser O imoralista, a melhor obra do autor, atendi agora a sua indicação para essa leitura. O imoralista é uma obra anterior. Ela é datada do ano de 1902 e é totalmente autobiográfica. Quando eu li Os subterrâneos do Vaticano, da coleção Os imortais da literatura universal, busquei, no volume de biografias que acompanha a coleção, dados biográficos seus, que reproduzo aqui. Ao lermos um romance autobiográfico, minimamente precisamos conhecer o autor. Vejamos:

O imoralista. André Gide (1902).

André Gide nasceu em Paris no ano de 1869 e morreu, na mesma cidade, no ano de 1951. A sua vida foi sempre de angústias profundas e ela, a sua biografia, esta sim, daria uma bela obra prima. Em seu diário confessava: "Foi minha infância solitária e mal humorada que me fez o que sou". Mãe protestante e autoritária se complementaram com um colégio, igualmente protestante e autoritário. Ah! Os rigores da moral. Hipocrisia à vista.

Aos nove anos, lemos no livro de biografias que acompanha a coleção, foi flagrado num ato de masturbação e, mãe e educandário zelosos, lhe buscavam a "cura". Passou, continuamos lendo, pela experiência do casamento, com direito à impotência na noite de núpcias e, também, por experiências homossexuais. Temia o mesmo julgamento de Oscar Wilde. No mesmo livro ainda lemos: "Voltado pra si próprio, como Narciso, nascia um escritor". Ao final de sua vida, escritor já consagrado e laureado, partiu do individual para o social e do psicológico para o campo político. Foi então movido por preocupações existenciais e com um mundo de injustiças, provocadas pelo colonialismo francês.

Na contracapa de O imoralista lemos uma pequena síntese do livro: "O imoralista é uma das obras mais ousadas de André Gide. Publicado originalmente em 1902, o romance traz a história de um jovem casado que, depois de se recuperar de uma grave doença, ganha um novo gosto pela vida ao conhecer um adolescente árabe numa terra africana então desconhecida e "selvagem". Nesta narrativa, o escritor francês ergue a voz contra os preconceitos do mundo burguês e denuncia corajosamente os obstáculos à liberdade do homem. Com traços autobiográficos, o livro é um dos trabalhos de maior sucesso de Gide, que ganhou o prêmio Nobel de Literatura anos depois, em 1947".

Efetivamente, na narrativa Michel reúne três de seus amigos que não via há três anos, para lhes contar o sucedido nesse período. Casamento, viagem ao norte da África, grave doença e início de uma vida que, tudo indicava, seria uma vida normal. Vida afortunada, fruto de herança. Abandono de tudo e nova viagem, agora com o adoecimento de Marceline, a esposa. Muitas viagens por lugares pitorescos da Sicília, da Itália, da França e da Suíça.

No livro de biografias, sobre O imoralista lemos pouco. Vejamos: "Mais claramente autobiográficos seriam O imoralista (1902) e A porta estreita (1909). O primeiro relata a estória de Michel, educado num meio de limitações morais, que lhe impedia a plena expansão da personalidade. O tema não empolgou tanto a crítica quanto a forma: Em O imoralista revela-se, pela primeira vez, a pureza clássica do estilo de Gide, que o consagraria como um dos maiores nomes das letras francesas".

E a grande pergunta a fazer. O que seria o imoral em O imoralista? Arrisco um início de conversa. Seria a moral burguesa, o viver uma vida ausente de significados, entregue a mesmice repetitiva e sem nenhum ato de iniciativa do que se possa dizer, uma criação minha. O mesmo vale com relação ao amor, com a pergunta crucial do que ele realmente é. Com certeza, uma obra profundamente existencial. Todas as grandes interrogações da existência estão presentes. E por falar em existência, vejamos as palavras de Sartre sobre o autor, no livro de biografias:

"Quando morreu André Gide, em 19 de  de fevereiro de 1951, Jean Paul Sartre (nascido em 1905) rendeu-lhe homenagem na revista Les Temps Modernes: 'Todo pensamento francês, no decurso dos últimos trinta anos, quaisquer que fossem as suas coordenadas [...] era obrigado a determinar sua posição também com respeito a Gide'. E conclui: 'Gide é um exemplo insubstituível, porque soube escolher [...] tornar-se sua própria verdade'. Para quem procurou, toda a vida, encontrar-se, era, sem dúvida, o melhor dos reconhecimentos".

Deixo também a resenha de Os subterrâneos do Vaticano. 

http://www.blogdopedroeloi.com.br/2021/06/os-subterraneos-do-vaticano-andre-gide.html

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