sexta-feira, 28 de abril de 2023

Um enigma chamado Brasil. 29 intérpretes e um Brasil. 12. Câmara Cascudo.

Continuo hoje mais um trabalho referente aos intérpretes do Brasil. Desta vez o livro referência é Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país. O livro é organizado por André Botelho e Lilia Moritz Schwarcz. É um lançamento da Companhia das Letras do ano de 2009. A edição que usarei é de 2013. Quem são os personagem trabalhados? Os organizadores respondem: "Os teóricos do racismo científico e seus críticos na Primeira República; modernistas de 1920 e ensaístas clássicos dos anos 1930; a geração pioneira dos cientistas sociais profissionais e seus primeiros discípulos". A abordagem sempre será feita por algum especialista. O livro tem uma frase em epígrafe/advertência. O Brasil não é para principiantes, de Antônio Carlos Jobim.


Um enigma chamado Brasil - 29 intérpretes e um país.

O décimo segundo trabalho do presente livro trata de analisar o pensamento de Luís da Câmara Cascudo, o grande estudioso da etnografia e do folclore brasileiro. Ele é apresentado por José Reginaldo Santos Gonçalves, professor de antropologia cultural da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sob o título de Luís da Câmara Cascudo e o estudo das culturas populares no Brasil. Vejamos alguns dados biográficos seus:

"Nasceu no ano de 1898 em Natal, RN. Ganha título de bacharel pela Faculdade de Direito do Recife (1928). [...] Na década de 1920 torna-se amigo  e colaborador de Mário de Andrade. [...] Leciona na Faculdade de Filosofia e Faculdade de Direito de Natal. Publica, dentre outros, Vaqueiros e cantadores (1939), Geografia dos mitos brasileiros (1947), Dicionário do folclore do Brasil (1954) e História da alimentação no Brasil  (1963). Morre em Natal no ano de 1986).

José Reginaldo Santos Gonçalves inicia a sua resenha falando da obra principal de Câmara Cascudo, o seu Dicionário do folclore brasileiro. A apresenta como a obra referência e o primeiro livro a ser consultado quando o tema é o folclore brasileiro. Também o apresenta em suas múltiplas atividades, como historiador, memorialista, romancista, folclorista e etnógrafo, que teve ativa participação do movimento modernista e que jamais abandonou a sua cidade natal, o que mereceu a atribuição de "provinciano incurável".

No que consistia o seu trabalho? Basicamente ele observava e registrava a cena das formas da vida social. O seu olhar era o de um envolvimento afetivo. Observava o "folclórico", "o popular". A alimentação, as redes de dormir, as jangadas e os jangadeiros, a literatura oral, os gestos, as expressões cotidianas, a feitiçaria, as cachaças, os vaqueiros, os cantadores, as festas populares e religiosas, além das religiões populares, da feitiçaria e da medicina popular. Foi precedido nesse seu trabalho por Sílvio Romero, Euclides da Cunha e Nina Rodrigues.

O resenhista observa que tudo o que ele registrou, como as mentes primitivas anteriores a uma vida dominada pela racionalidade, estariam condenadas ao desaparecimento sem os seus registros. Em seu tempo sofreu as influências das teorias racistas, pois a raça e a cultura eram associadas ao grau de desenvolvimento, ou não, do povo. Mais, eram consideradas como impeditivos ao desenvolvimento. O movimento modernista ajudou a alterar este quadro, com a busca de uma identidade nacional. Dentro dessa realidade aparecem Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Mário de Andrade, entre outros.

A partir dos anos 1940 essa nova visão passou a ser dominante. Por ela se buscou o resgate e a preservação da "alma brasileira". Ele sofreu críticas quanto aos limites teóricos e analíticos de sua obra, o que teria prejudicado a interpretação dos fatos. Mas ninguém nega o seu valor quanto ao registro etnográfico da vida cotidiana por ele observada e registrada. Vejamos uma parte da resenha: 

"Para Cascudo, as diversas formas do folclore e das culturas populares existem no presente, e não como supostas "sobrevivências" de um passado "primitivo"; afetam a vida cotidiana das pessoas, orientam-lhes as escolhas e imprimem sentido a suas experiências. E aqui reside, em grande parte, a atualidade de sua obra. Em outras palavras, para ele, o folclore, as culturas populares estão presentes no corpo, no comportamento, no paladar, nos gestos, nos sentimentos mais íntimos dos seres humanos, manifestando o que ele chamou de "a contemporaneidade dos milênios": elementos arcaicos se fazem presentes na contemporaneidade enquanto "ruínas vivas"'.

O resenhista continua falando da importância e atualidade do autor: "Mas Cascudo não é apenas um compilador de dados ("elementos humildes e de uso cotidiano") obtidos por intermédio de sua experiência pessoal ou pela consulta criteriosa a arquivos e bibliotecas. Ele não apenas reuniu uma extensa e variada quantidade de dados sobre culturas populares no Brasil. Pois se todos os estudiosos de folclore realizaram, de algum modo, esse trabalho de coleta, nem todo estudioso de folclore é Câmara Cascudo. Em que esse autor se distingue dos demais intelectuais que, no Brasil, se dedicaram aos estudos do folclore?". Com certeza, a qualidade de seus registros.

Vejamos a última frase do resenhista: "Permanece sua obra etnográfica com sensíveis observações e registros cuidadosos sobre o vasto e rico universo das culturas populares no Brasil".  Deixo ainda um registro anterior sobre Câmara Cascudo, a partir do livro Clássicos, rebeldes e renegados.


E ainda, o trabalho anterior deste projeto de trabalho, sobre Mário de Andrade.




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